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Todos os textos neste blog são de autoria de Mário Luna, salvo aqueles em que a fonte for mencionada.
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sábado, 4 de setembro de 2010

Encarando Cabras e Muito Mais


A clarividência viajora, ou visão remota (remote viewing) é a habilidade de ver coisas longe do corpo físico, com o emprego das parapercepções visuais. Embora já tivesse sido usada na década de 50, a habilidade parapsíquica foi interesse dos militares e da inteligência durante a Guerra Fria, com o intuito de permitir aos órgãos de seguranaça obter informação sobre locais secretos do inimigo nos quais não havia espiões.
Os russos desenvolveram mesmo antes dos americanos o uso da visão remota para fins de espionagem e estudaram também a tecnologia biofísica de controle remoto da mente (remote mind-control technology), o que não passou desapercebido da CIA, que iniciou as pesquisas nos Estados Unidos nos anos 60. Os russos têm sido os especialistas mundiais em biofísica desde os anos 50. Sua pesquisa nesta área tem-se concentrado tanto nos usos militares dos efeitos do campo biofísico e na telecinesia, que se trata da habilidade de mover objetos à distância, como na pesquisa de ‘genes psi’ que promovam e mediem a visão remota e os campos biofísicos envolvidos na telecinesia. Isto levou-os a estudarem a base biológica da RV.

A pesquisa militar sobre visão remota nos Estados Undos foi implementada com o Projeto Scangate, o que gerou a seguir outro número de projetos na área. A dra. Jessica Utts, professora de Estatística na Universidade de Stanford, desenvolveu uma pesquisa sobre visão remota e conseguiu evidências científicas da realidade do fenômeno. "Isso foi significativo," disse ela a repeito do trabalho, "porque mostrou que a ciência, tal como a conhecemos, é crucialmente falha." Os cientistas, claro, deram de ombros para os resultados encontrados pela dra. Utts e seguiram céticos (acho que mais por uma questão de sobrevivência). A ciência avança nos laboratórios mas esquece de estudar a natureza essencial da realidade física.


A posição dos militares, no entanto, dissimila a utilização da visão remota. O porta-voz da CIA, David Christian, admitiu que nenhuma pesquisa oficial sobre visão remota doi autorizada. "Pensamos que a comunidade de inteligência não deve pesquisar mais sobre isso, pois é melhor que seja feito pela iniciativa privada." Há uma campanha de desinformação para ocultar o fato de que eles seguem com as pesquisas e até aceleraram o estudo sobre o assunto. Jim Schnabel, um suposto agente da CIA, criou os verdadeiros Arquivos X, dissimulando a verdadeira intenção dos órgãos de segurança dos Estados Unidos. Mas o discurso de David Christian tem um fundo de verdade, pois as organizações privadas americanas que investigam a visão remota são todas elas lideradas por oficiais de segurança aposentados.



A ciência convencional, de qualquer forma, se fez presente nas pesquisas. Novos estudos questionaram uma base científica para a visão remota e a tecnologia biofísica de controle remoto da mente, quando os cientistas viram que não podfiam negar que ela funcionava. Joe McMoneagle, um oficial aposentado do Exército dos Estados Unidos afirma ter deixado o Stargate em 1984 com uma medalha da Legião do Mérito por obter informação sobre 150 alvos que não estavam acessíveis por outros meios senão o da visão remota. Ele usou a visão remota para entrar na mente de Shaw Taylor e ver através de seus olhos, num experimento efetuado no O Mundo Paranormal de Paul McKenna (The Paranormal World of Paul McKenna - ITV, UK). O método de usar a visão remota para entrar no cérebro de outra pessoa é chamado de telepatia ou sensor remoto (remote sensing). Porém, muita informação a respeito da tecnologia biofísica de controle remoto da mente permanece secreta.


O filme Os Homens que Encaravam Cabras, com direção de Grant Heslov e roteiro de Pete Straughan, baseado na obra de Jim Ronson, aborda a visão remota como técnica de espionagem nos domínios militares de maneira bem humorada e surrealista. Com um elenco de galácticos, como George Clooney, Ewan McGregor, Jeff Bridges e Kevin Spacey, a história fica em cima do muro da realidade como nós a conhecemos e do realismo fantástico, ambientada num Iraque invadido pelos Estados Unidos. Embora o filme tenha o sarcasmo como alma, um ingrediente sempre bem sucedido em comédias, vale ressaltar que o tema é bem mais interessante do que o roteiro criado por Straughan, às vezes insano demais para ser levado à sério e monótono o bastante para perder o seu caráter engraçado e usar o FF (fast forward) do controle remoto.


No filme, Bob Wilton é um jornalista que foi abandonado por sua esposa. Para se recuperar do divórcio, ele aceita a tarefa de cobrir a guerra no Iraque. Ele permanece em um hotel no Kuwait, já que não consegue autorização para entrar no Iraque. Um dia, no bar do hotel, Bob conhece Lyn Cassady, que diz ser um vendedor. Mas o jornalista logo se lembra de uma entrevista que fez, meses antes, com Gus Lacey, que conseguia matar animais apenas com o poder da mente. Ele ganhou esta habilidade ao integrar um setor especial do exército americano dedicado a estudos parapsíquicos, liderado por Bill Django e que também contava com Cassady na equipe. Bob conta o que sabe a Cassady. Ele na verdade está no Kuwait em uma missão secreta e precisa entrar escondido no Iraque. Animado com o furo, Bob encara o desafio de entrar no Iraque com Cassady e temos, assim, o início de uma trajetória que fará com que Bob conheça melhor o Exército de Terra Nova e os poderes mágicos de seus integrantes diante das cabras do laboratório de pesquisa, num campo militar no deserto.





domingo, 22 de agosto de 2010

Uma Borboleta no Escafandro

É possível criar um livro apenas com o movimento dos olhos. O exemplo de Jean Dominique deve deixar um grande desconforto naqueles que desperdiçam talentos, gozando de todas as suas funções vitais.

O filme O Escafandro e a Borboleta, do diretor francês Julian Schnabel, narra cruamente a estória de um paciente com uma síndrome de encarceramento provocada por derrame cerebral, que lhe deixou apenas a visão do olho esquerdo. Totalmente paralisado, é com ele que Jean Dominique tenta restabelecer seu contato com o mundo e através da sua única visão passamos a primeira meia hora de filme tão paralisados quanto o personagem. Não há nenhum outro angulo para olhar o mundo, nenhum movimento para mudar a perspectiva, nenhuma opção de comando. A imagem é uma só, turva e repetitiva. Angustiante, mas extremamente educador.

Aliás, o filme acaba por promover uma grande celebração da vida. É possível reciclar valores ao viver a única comunicação que Jean Dominique tem com o mundo à sua volta, e esta reciclagem nos faz admitir: quando perdemos qualquer uma de nossas faculdades físicas, sabemos o quão importante e essenciais elas são para viver. Os pensamentos de Jean são partilhados com o público e revelam um homem de bem com a vida, inteligente, sagaz e de grande tenacidade. Essa fome de viver resiste ao escanfandro em que ele se meteu após o derrame. Ele encontra uma borboleta para fazer seus sonhos bater asas. Nesse momento, a estória é simplesmente sublime. É também mágica a forma como descobrimos a gênesis das idéias de Jean brotando do vazio, do seu claustro particular e do seu aparente mundo vegetativo. Mais do que uma luz no fim do túnel, vemos uma luz refletindo sua alma, tão viva quanto ele era antes do acidente. Essa vida não-física permanece latente, produtiva e surge com uma força tão intensa que seu exemplo nos enche de (justamente) vida!

Por meio de um código criado com a enfermeira, Jean dá vida a um livro narrando seu drama. Com o piscar dos olhos ele codifica palavras, frases e parágrafos. Acompanhamos esse trabalho árduo, mas libertador. Suas idéias são colocadas no papel e cada frase criada é como um açoite para nós que gozamos de todas as possibilidades físicas e mentais para produzir obras e simplesmente deixamos todas em completa negligência, omitimos informações e gratuitamente nos subvalorizamos. Não há como passar ileso depois de asssitir a estória de Jean Dominique. É possível encontrar a essência da vida quando o mundo estiver restrito apenas a uma visão do olho esquerdo. Isso é válido para todo tipo de deficiência que a priori nos causa piedade. É impressionante como o deficiente pode adentrar um universo interior e encontrar lá uma energia tão assustadoramente forte e capaz de mantê-lo talvez mais vivo dos que muitos que gozam de todas as suas faculdades físicas e mentais. O Escafandro e A Borboleta é um filme para causar reciclagem. Se não, é possível que você não esteja usando bem seus dois olhos.

domingo, 8 de agosto de 2010

Simplesmente Dorothy

Apesar do título amendrontador em português (no original o filme se chama apenas Dorothy, o que é bem mais racional e coerente com a estória), Os Demônios de Dorothy Mills traz entre muitas surpresas o trabalho arrebatador da atriz Jenn Murray no papel-título.

O parapsiquismo é uma faculdade natural do ser humano, uma vez que vivemos multidimensionalmente. Para aquele que experimenta qualquer fenômeno paranormal, o parapsiquismo não é o mistério, mas um excelente recurso para desvendá-lo. Tampouco cabe mais ser enquadrado em teorias e nem encontra-se no limbo dos ceticismos. Contudo, além da vivência parapsíquica não ser tão comum quanto sair com os amigos, devido ao restringimento físico, ela se aniquila como consequência de crenças arraigadas, cientificismos materialistas e uma grande variedade de posturas existencialistas que não conseguem enxergar além da realidade física. É justamente nesse ponto que Os Demônios de Dorothy Mills encontra o seu plot.

Apesar de toda campanha propagandista em torno do filme, seu drama passa longe daquele visto em O Exorcista e tampouco pode ser considerado terrivelmente assustador. É apenas um filme coerente sobre paranormalidade e consequentemente bom para ser indicado, o que, para mim, já vale a sugestão. Mas o interesse da máquina de fazer medo do cinema e seu mercado de divulgação é justamente o contrário, a começar pela escolha do título em português. Lamentável se entendemos a real intenção por trás dessa escolha. Mas nem tão lamentável assim se entendermos o título para justificar o mundo da ignorância em que Dorothy vive "suas exquisitices."

O problema das religiões é vender suas verdades como definitivas e enquadrar a mente humana numa única moldura da realidade, essencialmente física, apesar de vagar no domínio espiritual. O alijamento da verdade relativa de ponta, utilizada pela pesquisa científica, endurece a intolerância e promove o preconceito. Tais consequências servem muitas vezes, entretanto, como dissimuladores da incoerência religiosa. Na medida em que não há o exercício da crítica e do livre arbítrio sobre o que acreditar nem a direção a tomar, muitos sucubem diante dos próprios males não revelados. A Igreja não dá conta do que você sente, mas do que deve ser sentido segundo seus preceitos. Numa pequena comunidade religiosa controlada (ou amendrontada) por um padre, essa mordaça tem efeitos ainda mais drásticos e termina por afundar-se em seus próprios segredos e mistérios.

É esse o cenário da estória de Dorothy, uma adolescente vítima de seu parapsiquismo, que apesar de tido como assustador, para muitos é tanto um atributo de sobrevivência espiritual quanto ameaçador. Quando os efeitos do parapsiquismo destrambelhado da menina atinge os membros da comunidade, com a tentativa de assassinato de uma criança, uma psiquiatra é chamada para examinar Dorothy e facilmente ela é diagnosticada como vítima de distúrbio de múltipla personalidade. Porém, quando a menina fala com a voz do filho recém-falecido da médica, o que inicialmente parecia loucura passa a ser o que os moradores acreditam, isto é, que Dorothy é um canal com o mundo dos mortos.

Um interessante estudo sobre a hipocrisia e os preconceitos que corroem uma sociedade pode ser feito a partir do que nos mostra o filme. Por trás da intolerânia dos moradores, sobrevive um segredo tenebroso revelado no final. Muitos usam Dorothy no aquém para lhes trazer notícias de entes queridos que estão no além, em rituais conduzidos pelo padre na própria igreja do lugar! e a fachada criada pelas crendices vai aos poucos ruindo na medide em que Dorothy começa a revelar a verdade, momento em que, fazendo jus ao título, todos os demônios são libertos. Talvez assim, esse título em português faça algum sentido.

sábado, 26 de junho de 2010

Entrevista com Alejandro Amenábar - Diretor de Ágora

Alejandro Amenábar é um cineasta espanhol, porém, nascido no Chile. Radicado em Madrid desde 1973, onde foi viver com apenas 1 ano de idade, estreou sua filmografia com La Cabeza (1991), filme premiado na Associação Independete de Cienastas Amadores.

Seu segundo filme, Abre los ojos (1997), reúne junto da crítica e do público um consenso muito positivo. Depois realiza Os Outros (2001) protagonizado por Nicole Kidman e Mar Adentro (2004), com Javier Bardem, filme premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Sua trajetória no cinema é impressionante. Não apenas pela qualidade dos seus filmes, mas por sua qualificação técnica numa idade em que a imaturidade podia muito bem lhe pregar algumas peças. É, sem dúvida, um dos melhores realizadores de cinema da atualidade.



domingo, 20 de junho de 2010

10 Obras para Acelerar Sua Erudição

Blaise Pascal
Direção: Roberto Rossellini; Ano de produção: 1972; País: Franca, Itália; Duração: 129 min.

Blaise Pascal foi um físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês. Contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a geometria projetiva e a teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo ampliando o trabalho de Evagelista Torricelli. É ainda o autor da primeira máquina de calcular mecânica, a Pascaline, e de estudos sobre o método científico.
O filme mostra os conflitos entre ciência, filosofia e religião na vida de Blaise Pascal (1623-1662), desde os 17 anos, quando acompanha o pai transferido para Rouen, até a morte em Paris, com 39 anos. Quase todo baseado em diálogos, inclui longos debates sobre a existência do vácuo, experiências com pressão atmosférica e fluidos, a criação da primeira máquina de calcular mecânica, a posição jansenista de Pascal e a elaboração de algumas de suas obras. O filme explora também intensamente a relação familiar com o pai, o agente fiscal Etienne Pascal, e a irmã, Jaqueline, que após a morte do pai se recolhe a um convento.

Raízes do Brasil - Uma Cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda (Documentário)
Direção: Nelson Pereira dos Santos; Ano de produção: 2003; País: Brasil; Duração: Disco 1: 73min - Disco 2: 73min.

Sérgio Buarque de Holanda foi um dos mais importantes historiadores brasileiros e renomado intelectual. O documentário traz imagens inéditas da época e da vida do intelectual, da sua famosa família (os Buarque de Holanda - Chico era um dos seus filhos famosos, assim, claro, como Miúcha), reunindo um compêndio para lá de interessante da vida intelectual brasileira da primeira metade do século XX até os dias atuais. Sérgio Buarque vivia submerso no universo de seus livros, mas deixava a porta do escritório aberta para ouvir os ruídos da casa e as eventuais fofocas. Era extremamente dedicado ao trabalho e ao mesmo tempo adorava a boemia e um bate papo com os amigos. Erudito, devorava livros. Sua história é contada pela família, amigos e através de uma cronologia que ele próprio escreveu.


Sócrates
Direção: Roberto Rossellini; Ano de produção: 1971; País: Espanha; Duração: 120 min; Roteiro: Roberto Rossellini e Marcello Mariani.

O filme, originalmente produzido para a televisão, mostra o final da vida do filósofo grego Sócrates (470 - 333 a.C.), incluindo seu julgamento e sua condenação à morte. É composto quase que totalmente por diálogos, baseados em Diálogos de Platão como Eutífron, Hípias, Apologia, Críton e Fédon, além de uma breve encenação da comédia As Nuvens, de Aristófanes, que ridiculariza Sócrates. É sempre bom lembrar que Sócrates nada escreveu, pois acreditava que a filosofia devia ser praticada oralmente.

A interpretação de Jean Sylvère para Sócrates é comovente. É possível assistir Sócrates, acompanhado de seus discípulos, andando por Atenas e empregando seu método, a maiêutica, que levava seus interlocutores a caírem em contradição. Assim, podemos conhecer várias figuras da época.


Danton - O Processo da Revolução
Direção: Andrzej Wajda; Ano de produção: 1983; País: França, Polônia, Alemanha; Duração: 136min.

Após a Revolução Francesa, a França vive uma nova onda de terror. Danton, um dos líderes da revolução, enfrenta o governo na tentativa de mudar a situação. Confiando no apoio popular, ele entra em choque com Robespierre, seu antigo aliado, mas acaba sendo levado à julgamento.

A Revolução Francesa representa o conjunto de acontecimentos que, entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França. Ela começa com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e se encerra com o golpe de estado do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana, em 1776. A Revolução Francesa foi um dos maiores acontecimentos da história da humanidade.


O Povo Brasileiro (Documentário)
Direção: Isa Grinspum Ferraz; Ano de produção: 2000; País: Brasil; Duração: 260min; Episódios: 10.

O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. Esta produção realizada para a televisão mostra em 10 episódios (2 DVDs) a obra-prima do antropólogo, O Povo Brasileiro, em que ele tenta responder a questão "quem são os brasileiros ?", investigando a formação do nosso povo. A série conta com as participações especiais de Chico Buarque, Tom Zé, Antonio Cândido, Aziz Ab'Saber, Paulo Vanzolini, Gilberto Gil, Luiz Melodia, entre outros.

Com imagens captadas em todo o Brasil, amterial de arquivo raro e depoimentos, O Povo Brasileiro é indispensável para todos os interessados em conhecer a história do Brasil, desde os primeiros índios até os dias atuais.


Para Sempre Pestalozzi
Direção: Peter Von Gunten; Ano de produção: 1989; País: Alemanha, Suíça; Duração: 110min.

Biografia do educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), um dos pioneiros da pedagogia moderna. O DVD traz ainda uma palestra sobre a importância de Pestalozzi na educação do espírita, folósofo e educador francês Allan Kardec. O filme focaliza um período crítico no desenvolvimento das teorias educacionais de Pestalozzi, quando o educador dirigia um internato para crianças pobres em um vilarejo na parte francesa da Suíça.


Descartes
Direção: Roberto Rossellini; Ano de produção: 1974; País: Itália; Duração: 162 min.

René Descartes, o famoso filósofo, cientista e matemático francês, nasceu em 1596, na cidade de La Haye. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria, o que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas, que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica. Com quase 3 horas de duração e dividido em 2 episódios, o filme apresenta a biografia de Descartes, começando com sua educação no Colégio La Fléche. O filme apresenta o contexto da elaboração e publicação de suas principais obras. Aqui, Descartes faz a leitura de passagens do Discurso do Método.


Freud Além da Alma Direção: John Houston; Ano de produção: 1962; País: Estados Unidos; Duração:

Huston tinha em mente um projeto ambicioso, quando convidou ninguém menos que o filósofo francês Jean-Paul Sartre para escrever o roteiro. Sartre aceitou, demorou-se para entregar o texto e, quando o fez, este veio na forma de um calhamaço que acabou virando um livro de 769 páginas, que o diretor não conseguiu filmar. Dessa forma, o roteiro de Freud Além da Alma vem assinado por Charles Kaufman e Wolfgang Reinhardt.

Freud Além da Alma se concentra nos anos iniciais da trajetória do personagem, no desbravamento desse novo campo do conhecimento, aliás, bastante incômodo para o narcisismo contemporâneo. Não por acaso, a narrativa começa pela comparação freudiana de sua percepção da primazia do inconsciente com as teorias de Copérnico e Darwin, que desmistificaram a ilusão da Terra como centro do sistema solar e a do homem como espécie à parte no reino animal.


Tempo de Resistência (Documentário)
Duração: André Ristum; Ano de produção: 2004; País: Brasil; Duração: 115min.

Não podemos nos considerar eruditos desprezando o conhecimento sobre a ditadura militar, posto que o episódio representa um período marcante da nossa história e uma ferida ainda aberta para muitas famílias de desaparecidos nos dias de hoje.

A partir do depoimento de mais de 30 pessoas diretamente envolvidas na resistência à ditadura, e impactantes imagens de arquivos, o documentário revela os fatos deste nebuloso momento brasileiro, que se estendeu por mais de 20 anos. Aqui, temos uma boa mostra sobre o que foi o período de repressão no país, o processo do golpe militar, desde o comício do Presidente João Goulart até o dia da Anistia. Além disso, o documentário aborda os reflexos da ditadura no interior do estado de São Paulo e no interior do Brasil.


Einstein - Muito Além da Relatividade / A Grande Idéia (Documentário)

Einstein - Muito Além da Relatividade, o volume 1, foi produzido pela NOVA/PBS a partir das anotações do próprio cientista. É uma ótima edição para fazer você compreender a criatividade científica que dominava o maior nome da física moderna. O documentário refaz a trajetória de um estudante não tão brilhante assim e um marido que não sabia lidar com a imprevisibilidade das relações humanas, até se tornar o mais famoso físico de todos os tempos. A produção criou animações para explicar a Teoria da Relatividade. Além disso, a obra traz reflexões de Einstein sobre a natureza da luz e da fusão do espaço-tempo num contínuo inseparável que alteraram para sempre a imagem que temos do Universo.

Einstein - A Grande Idéia, volume 2, mostra o jovem e obscuro funcionário de um escritório suíço de patentes quando ele concluiu que massa e energia são inseparáveis na Natureza. Essa idéia ainda viria a mudar completamente a forma como vemos o Universo. Voltamos a "tentar" entender a equação E=mc2 através de boas explicações criadas para leigos, com reconstrução histórica de todos os eventos que marcaram o momento em que o mundo conheceu a teoria mais famosa de todos os tempos.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Sacrifício de Andrei Tarkowski


Por José Marçal Gonçalves dos Santos

O filme O Sacrifício (Offret, Suécia, 1986) foi a última realização que o cineasta russo Andrei Arsensevich Tarkovski (1932-1986) ofereceu ao público antes de falecer aos 54 anos de idade, em dezembro de 1986.

O filme conta a história de um eventual encontro em família para comemorar o aniversário de Alexander (Erland Josephson), professor universitário e ex-ator de teatro que vive sob a angústia que o afastou dos palcos. No encontro, todos são surpreendidos pelo anúncio na televisão acerca do lançamento de um míssil nuclear e a instrução de que todos se mantenham em suas casas até uma possível segunda ordem. A angústia de Alexander, que reúne filho, filha, esposa e amigos em sua casa, o oprime a ponto de dispor-se a um sacrifício a fim de salvar sua família e seus amigos.

“O filme é uma parábola”, passível a muitas interpretações, e que se propõe a discutir a humanidade e a cultura moderna em meio à década de 1980. Especulando sobre o tema da catástrofe nuclear, reúne suas críticas à civilização tecnológica, ao estilo de vida de sua cultura sob o real potencial de autodestruição do planeta pelo ser humano. O filme lança seu olhar, contudo, na direção não exatamente de uma resposta moral ou de uma ética geral; ao contrário, encarna-se no dilema pessoal do protagonista e sua atitude de auto-sacrifício cuja motivação essencial é o amor e mesmo a sua carência. Nas palavras de Tarkovski:

"O que me impeliu foi o tema da harmonia que nasce apenas do sacrifício, da dupla dependência do amor. Não se trata de amor mútuo: o que ninguém parece entender é que o amor só pode ser unilateral, que não existe outra espécie de amor, que, sob qualquer outra forma, não é amor. Se não houve entrega total, não é amor."

Andrei Tarkovski nunca escondeu a intencionalidade que afeta sua criação, de alcançar e registrar em sua lente uma observação da vida, cujo critério de autenticidade e verdade é a alma humana. Com seus filmes, Tarkovski buscou construir uma relação entre obra e público, convidando a uma comunicação de experiências cuja verdade é, por isso, essencialmente amorosa e relacional. A originalidade de Tarkovski está naquilo que ele chamava de “ligação orgânica” entre autor e obra e o modo que encontrou para compartilhar de si mesmo por meio de seus filmes.

À medida que fez cinema, vivenciou novos nascimentos, recriou sua própria memória, sua infância, sua geração numa nova realidade, a obra de arte. Por isso, ele defendia a idéia de que o cinema, como toda arte, tem uma função espiritual de “preparar uma pessoa para a morte, arar e cultivar sua alma, tornando-a capaz de voltar-se para o bem”. A seu modo, ele entende que esse “cultivo de si” por meio da arte é possibilitado pela mediação comunicativa da arte, cuja intenção expressiva entende sempre como um exercício amoroso de compartilhar de si. Como vemos no início e no fim de O Sacrifício: “no princípio era o verbo”, um estado de relação e comunicação de almas em que, porém, não necessariamente algo precisa ser dito, mas pode ser compartilhado como presença apenas.

Tarkovski desenvolveu sua arte ao longo de pouco mais de vinte anos, perfazendo uma obra de sete longas-metragens, dois documentários e um curta-metragem que o diplomou na faculdade de cinema, além de algumas participações como roteirista e ator. De certo modo, uma obra modesta em números, mas reconhecida pela originalidade estilística, desenvolvida também sob um cuidado teórico-crítico de busca por uma forma autêntica de arte cinematográfica. A diretriz teórica para essa autenticidade, por sua vez, Tarkovski encontra na noção de “tempo impresso”. Assim, para ele, não é o movimento e a concatenação de acontecimentos numa narrativa que define o cinema como arte da observação, mas o tempo como experiência subjetiva de participação e contemplação, encontro e estranhamento com a realidade mediada pela arte da imagem em movimento. Concebendo o tempo como matéria-prima do cinema, Tarkovski autocompreende-se, ao lado de outros cienastas como um poeta cuja arte cria universos próprios sintetizados por instantes esculpidos em imagem em movimento.

Os filmes de Tarkovski, por conseguinte, exigem um público aplicado. Além de tempo – em média seus filmes têm em torno de 3 horas de duração – também requerem uma atitude de entrega e participação criativa. A cena de abertura de O Sacrifício descrita acima, por exemplo, tem em torno de seis minutos, coincidindo exatamente com o tempo da música que conduz a cena. O filme inicia convidando a uma dubiedade entre o “presente” que o rei mago traz ao Jesus-Criança de Da Vinci e o “sacrifício” do Cristo que ressoa na música de Bach. A ausência de movimento pela falta absoluta de ação dos personagens literalmente, ou melhor, pictoricamente fixados à tela, causa um primeiro estranhamento que, se aceito pelo espectador, lhe abrirá as portas para a história.

"Essas revelações poéticas, todas elas válidas e eternas, testemunham o fato de que o ser humano é capaz de reconhecer a imagem e semelhança de quem o criou, e de exprimir este reconhecimento." A. Tarkovski em Escupir o Tempo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sabedoria Condenada

A vida de Hypatia foi marcada por sua paixão pelo conhecimento. Hypatia era a filha de Theon, que foi considerado um dos homens mais cultos de Alexandria, no Egito. Educada num mundo de instrução e academicismo e desde cedo vivendo num ambiente de ideias, Hypatia não somente ficou conhecida como matemática e cientista, mas também como uma grande filósofa. Além disso, desenvolveu grande entusiasmo pela astronomia e astrologia.


Alguns historiadores acreditam que Hypatia nasceu no ano 370. Outros afirmam que era uma mulher mais velha (60 anos) na época de sua morte, assim tendo seu nascimento sido no ano 355. Ela foi sem dúvida a primeira mulher a ter um impacto profundo no pensamento matemático. Hypatia viveu em Alexandria quando o cristianismo começou a dominar as outras religiões e a dizimar aqueles que se opunham às suas idéias.

É aqui que o filme do diretor espanhol Alejandro Amenábar (o mesmo de Os Outros e Mar Adentro) começa. Interessante pontuar que o filme foi proibido na Itália, censurado nos EUA e não tem previsão para chegar no Brasil - apenas disponível por download na internet. Na Espanha, a película teve a maior bilheteria em 2009, ganhando mais de 10,3 milhões dólares em apenas quatro dias de exibição. Até 1 de fevereiro de 2010, Ágora tinha arrecadado cerca de US $ 35 milhões.

O drama histórico espanhol de Amenábar mostra cruamente os conflitos políticos, religiosos e culturais que marcaram o século IV na cidade de Alexandria, famosa por sua biblioteca, tantas vezes destruída e renascida literalmente das cinzas. O filme é um petardo no caráter obscurantista do cristianismo e uma celebração à liberdade do pensamento científico. Tendo escrito também o roteiro, Amenábar desfila sua sensibilidade histórica com maestria. Ele consegue ser profundo e imparcial, mostrando todos os tópicos em questão: filosofia, ciência grega, política romana, o avanço do cristianismo, os judeus ortodoxos e as linhas religiosas mais radicais da época.

Além da ferocidade cristã contra a cultura egípcia, o que mais impressiona em Ágora é saber que foi ela, Hypatia, quem primeiro afirmou em suas aulas na universidade que a Terra girava em torno do sol, que havia uma lei da gravidade, que havia relatividade nos movimentos e a posição dos planetas no sistema solar, poerias que só muitos séculos depois Copérnico, Newton e Einstein voltariam a levantar. Mas Ágora é muito mais do que uma biografia de Hypatia. O filme trata de um capítulo importante da História do Mundo e se torna por isso a biografia de uma cultura que atravessaria os séculos como uma das bases sólidas do pensamento filosófico e científico.

Amenábar coloca a condenação a todo tipo de fanatismo no centro de sua obra, imprimindo sua ideologia em cenas grandiosas e repleta de efeitos visuais, algumas intimistas, outras profundas. O toque sublime de sua abordagem, digamos humanista-universalista, é quando a camera viaja no espaço sobre a Terra e de lá mergulha até a cidade de Alexandria. Isso mostra o quanto somos pequenos diante do cosmo e o quão qualquer disputa se torna insignificante diante de uma perspectiva universalista. Seus diálogos têm igualmente grande impacto filosófico.

Em tais diálogos, a obra evidencia o retrocesso que a seita cristã trouxe para o mundo. Se os egípcios não estavam isentos das tradições cegas, posto que permitiam a escravidão, serviam sacrifícios aos seus deuses e se dividiam em castas, eles tinham uma qualidade inegável: reservavam ao ser humano um papel muito mais intelectual do que aquele que o obscurantismo dos cristãos tinha em mente. Quando o Egito deixou de ser o centro produtor de idéias e ciência do mundo antigo, o cristianismo dominou deixando o novo mundo na escuridão. Não tardou para a seita cristã armar seus alicerces na alma humana, culminando com a chegada da idade média e o terror da Inquisição.

Numa das cenas mais profundas do filme, a protagonista Hypatia confronta um dos seus alumos, quando ele tenta convertê-la ao cristianismo. Ela responde: "se você não questiona a sua fé, então você não acredita realmente nela." Mais tarde, ao ser julgada por seu ateísmo, Hypatia rebateria, "eu acredito na Filosofia." Ou seja, Hypatia já utilizava para si o princípio da descrença. Não acredite em nada, só naquilo que tiver sido experimentado... ou questionado.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Série Entrevistas: Volume 4 - Federico Fellini

Entrevista de Federico Fellini concedida a BBC inglesa em 1965.

sábado, 17 de abril de 2010

Contatos Impressionantes

A realidade tende a ser mais assustadora do que qualquer ficção. Embora a frase seja um fato e até se tornado um clichê, ela tem funcionado como um recurso dramático para uma geração (assim podemos dizer) de filmes de suspense/terror desde a Bruxa de Blair. A ferramenta para dar sustos mais consistentes em platéias foi recentemente usada de forma eficiente no blockbuster Atividade Paranormal e causado muita polêmica em Contatos de 4° Grau, filme lançado ano passado no circuito mundial.Desde O Exorcista (o primeiro e mais assustador), um filme não me faz remexer da cadeira tantas vezes nem acelerar tanto meus batimentos cardíacos como em Contatos de 4° Grau. Isso por dois motivos básicos: (1) a capa do DVD anuncia que o filme foi baseado em casos verídicos, e (2) o diretor decidiu mesclar cenas ficcionais com as dos vídeos gravados na realidade, de modo que vemos atores encenando simulações de cenas reais em split screen - técnica cinematográfica em que a tela se divide em duas. Nada mais original, impressionante e, digamos, assustador! Não há quem dê de ombros para o filme como eu fiz com Atividade Paranormal. Aqui, a razão de ter medo é real, ou melhor, baseada em casos reais.

Enquanto produção artística cinematográfica, Contatos de 4° Grau é um thriller inteligente de regelar a espinha e faltar a respiração. Ambientado em Nome, pequena cidade do Alasca, a história dá conta de desaparecimentos de pessoas misteriosamente abduzidas por alienígenas na região. Mostra evidências, apresenta estísticas e reporta casos com envolvimento do FBI. No entanto, apesar de toda a investigação, nada até o momento foi comprovado. Quando a psicóloga Dr. Abigail Tyler começa a gravar suas sessões com pacientes traumatizados por contatos com inteligências alienígenas, ela acaba descobrindo as mais perturbadoras evidências de abduções jamais reveladas ao público. Ela mesma está imersa no mesmo problema e sofre dos mesmos males após a morte do marido, supostamente abduzido: pertubações mentais, esquecimentos súbitos, visões atemorizantes, insônia, possessões etc.

Nos depoimentos, a psicóloga descobre que diversas pessoas sonhavam com a mesma coisa, a aparição de uma coruja, e relatavam os mesmos terrores noturnos. Em sessões de hipnose, a Dra. Abgail concluiu que todas haviam sido abduzidas por extra-terrestres, até que termina ela mesma hipnotizada por um colega de profissão e descobre que também teve o seu contato de 4° grau. O filme então já se encontra em seu ápice dramático e sua fábrica de produzir medos, sustos e sobressaltos funcionando a todo vapor. Na sua linha documental, as cenas ficionais mescladas com as reais numa mesma tela, sem dúvida, produzem uma carga emocional extra ao espectador, efeito para mim até então inédito no cinema. É quando temos a comprovação de que a realidade é mesmo mais assustadora do que a ficção.

Contudo, não é apenas na produção que a indústria do medo se supera em Contatos de 4° Grau. Com uma nova proposta para o (relativamente novo) gênero de filmes conhecidos por documentais, ou ficção/documentário, a idéia vai bem mais longe do que imaginamos na intenção de impressionar pela realidade. Aqui, tanto a ficção quanto a realidade foram inventadas agressivamente, não apenas como recurso dramático, mas como uma jogada de marketing. O estúdio Universal divulgou matérias fictícias para corroborar os casos narrados no filme em jornais americanos e também em websites. No começo do filme, a atriz Milla Jovovich apresenta estatísticas sobre abduções no Alasca desde a década de 1960, adverte sobre o conteúdo real de áudio e vídeo e passa ao espectador a decisão de acreditar ou não nos fatos mostrados no filme. Enfim, a produção garante que o filme é baseado em casos reais, mas a afirmação não é verdadeira, o que causou muita polêmca nos EUA quando o filme foi lançado. O filme é pura ficção.

Mesmo como uma obra ficcional o filme impressiona, pois não podemos negar que a apelação foi original e inteligente. Seu mérito é desfazer a impressão de que tudo é falso, com uma história curiosa, assustadora e até convincente, abduzindo facilmente o espectador mais distraído.

Assista ao trailer do filme no rodapé do blog.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Série Entrevistas - Volume 3: Ingmar Bergman


Entrevistas com o diretor sueco, Ingmar Bergman, para a BBC inglesa.


PARTE 1



PARTE 2



PARTE 3



PARTE 4



PARTE 5



PARTE 6

terça-feira, 9 de março de 2010

A Imprevisibilidade Previsível do Oscar

No hace falta posts sobre os ganhadors do Oscar, porque essa notícia muitos já devem ter recebido de diversas fontes na web. A mais interessante e amplamente discutida no pré e pós evento, no entanto, está no blog O Cinemtógrafo http://o-cinematografo.blogspot.com/. Mas vale a pena algumas linhas sobre a festa da Academia de Holywood, que, de tão imprevisível, se tornou previsível.

Desde a ausência de 2012, um filme que chegou arrebatando platéias e lotando cinemas já na primeira semana, com orçamento milionário e show pirotécnico de efeitos especiais, eu já previa um ano de muitas surpresas. Mas ver o trabalho multimilionário de James Cameron (vide Titanic) e recordista de bilheteria de todos os tempos Avatar perder para Guerra ao Terror, com modesto orçamento e uma diretora que podemos perguntar sem medo, "quem é ela ?" foi além das expectativas em torno das surpresas. Que Jeff Bridges passou ao largo em praticamente tudo que fez até hoje e Sandra Bullock é a queridinha da América não é surpresa. Ok. Eles parecem ter realizado o grande trabalho da vida deles no ano passado - não vi suas atuações. Mas é igualemte surpreendente ver uma ex-campeã das listas dos piores do ano ganhar de Helen Mirren e Merryl Streap, além da estreante de Precious, Gabourey Sidibe, cuja mãe, pasmem, recusou o papel de ser a mãe da própria filha no drama e seguiu tocando e cantando nas estações de metro de Nova Iorque, onde ela ganha um Oscar todos os dias.

O ponto alto da noite ficou por conta do documentário vencedor. The Cove chacoalhou os discretos japoneses e causou rebuliço na população afetada pelas imagens de suas práticas nada ecológicas - porque não dizer nada humanas. Depois do prêmio, os japoneses enlouqueceram, protestaram, se defenderam e proibiram a exibição do filme no Japão (terá sido isso mesmo ?). Foi como se eles dissessem ao mundo, "vocês não têm o direito de vir aqui e ver como somos desumanos." Por lá, parece que matar golfinhos é uma prática de fundo cultural, típica, quase um cartão postal da região. Nesse ponto, paramos e perguntamos: como o ser humano se acostuma à maldade e a transforma em idílicos culturais ? ou mesmo, como julgamos ter direito de sermos perversos ? Bem, se na Arábia se decapita a espadas em praça pública, nos Estados Unidos se pune presos, a maioria negros, com injeções letais, na China quase 10.000 chineses são condenados a morrer todos os anos com uma bala paga pela própria família, alguns deles por conta de cheques sem fundos, porque no Japão não se pode matar golfinhos culturalmente ? Mas o mundo legal (leia-se, das leis) garante, "você pode matar à vontade, desde que tenha uma boa razão para isso e esteja dentro da lei." Parem esse mundo que eu quero descer ! Hey, antes de descer assista The Cove !

sábado, 6 de março de 2010

Neste Mundo Humanamente Frágil

No campo de refugiados de Shamshatoo, localizado na cidade de Baxery no Paquistão, viviam 53 mil refugiados afegãos em 2002, época em que o diretor inglês Michael Winterbottom filmou Neste Mundo. Fugidos primeiramente da invasão soviética em 1979, e depois dos bombardeios americanos em 2001, a população afegã refugiada passou a viver em condições precárias e de pobreza extrema, situação que perdura até hoje.

Muitas crianças nasceram no campo e algumas delas trabalham por menos de 1 dólar por dia, como é o caso do protagonista do filme, Jamal. Em Shamshatoo falta dinheiro, educação, saúde e a comida é racionada. A ração diária da população é de 480g de farinha de trigo, 25g de óleo vegetal e 60g de sementes. Cada família recebe uma tenda, uma capa plástica, três cobertores e um fogão. Os gastos com refugiados ficam muito aquém dos 7,9 bilhões de dólares detonados nos bombardeios americanos, que começaram em 7 de outubro de 2001 sob o pretexto de procurar Osama Bin Laden ou derrubar Saddam Hussein - bem, ambos os motivos são válidos. A ONU afirma que não tem verba suficiente. "Nosso orçamento estimado para lidar com o problema dos refugiados nesses primeiros meses é de pelo menos US$ 50 milhões, e temos pouco mais de 30% dessa quantia", afirmara Peter Kessler, 39, porta-voz da organização no Paquistão, no começo do confltio.

O cenário em Shamshatoo é o de uma favela em más condições. Casas de pau-a-pique e mesquitas recém-construídas disputam o pouco espaço do lugar. Boa parte do campo só tem barracas de lona desordenadas, onde é comum ver crianças pedindo comida ou qualquer outra coisa. Nas 21 escolas existentes não há condições de ensino para os professores nem de estudo para os alunos. "Aqui, quando falta giz, a gente dá aula escrevendo no chão", afirma Saeed Mahboab, 45. "Cerca de 90% dos alunos são órfãos de pai." Cada barraca funciona como uma sala de aula. Espremidas em pouco mais de 15 m2, as crianças têm aulas de disciplinas como matemática e religião.

No aspecto político, a situação não fica nem um pouco melhor. Em Shamshatoo, a ONU, o Taleban, ONGs missionárias e organizações extremistas islâmicas dividem espaço sob olhares de desconfiança e ódio mesmo. A falta de recursos gera conflitos e preconceitos dos paquistaneses contra os afegãos. Segundo a ONU, há 203 campos de refugiados no país que não têm estrutura para funcionar de maneira humanamente aceitável. Os afegãos são acusados de causar desemprego e há um clima de animosidade generalizada na região. Kessler, que esteve em campos de refugiados em Ruanda, Congo, Kosovo e Bósnia, faz um diagnóstico pessimista. "Este é o pior acampamento em que já trabalhei. Em Ruanda, a miséria era imensa, mas havia solidariedade, os vizinhos tentavam ajudar. Aqui, há ódio."

Na saúde, "as condições (também) são ruins," como afirma o médico e refugiado Ahmad Karimi, 32, que trabalha em um dos postos de saúde. "Doenças como cólera, febre tifóide e leishmaniose são comuns." A temperatura na região chega facilmente a 50°C no verão. Dentro das barracas atinge 60°C, fazendo com que não apenas haja mais proliferação de doenças como um enfraquecimento físico da população para combatê-las.

Nesse cenário de pesadelo, muitos não resistem e morrem. Outras centenas tentam fugir no desespero e encontram a morte um pouco mais além, nas estradas da fronteira, minadas por contrabandistas de gente, policiais corruptos e grupos de combatentes de ambos os lados da guerra, armados até os dentes. Só no último mês, cerca de 60 mil afegãos cruzaram a fronteira paquistanesa, engordando o contingente de mais de 2 milhões que fugiram desde a invasão soviética. Vivendo de subempregos nas grandes cidades, não são poucos os que partem para a mendicância ou para atividades ilícitas, como o contrabando e o tráfico de drogas. A ONU calcula que só o conflito com os EUA produziu um contigente de mais de 1 milhão de fugitivos afegãos.

O número de vítimas de uma guerra é significativamente maior do que aqueles que dão conta dos mortos em combate. Embora possam existir argumentos psicológicos, políticos, históricos e culturais para a deflagração de uma guerra, o que ela representa é, na verdade, uma extorsão humana. Em benefício de uma irrisória minoria criam-se os custos incomensuráveis de uma maioria incólume: a população civil. Aquele que busca a informação apenas nas reportagens dos meios de comunicação, certamente, não sabe que durante os três primeiros meses da guerra americana no Afeganistão, o número de mortos na população civil ultrapassou 3.700 (vítimas). Um número maior do que o de mortos no ataque de 11 de setembro, em Nova Iorque.

Se somarmos o risco do combate propriamente dito aos riscos colaterais causados por ele, podemos considerar aqui as minas terrestres, a destruição dos sistemas hídricos e de esgoto, as bombas cluster e as cápsulas de urânio como fatores exponenciais de destruição humana, alargando seguramente o número de mortos na população civil. Acrescentando-se, claro, os mortos da retaliação, por conta dos efeitos em cadeia na teia internacional do conflito, uma espiral tão ensandecida e incoerente de crimes contra a humanidade que o combate ao terror é o verdadeiro e mais temido terror.

Para esse universo apocalíptico, Michael Winterbottom levou seis pessoas na sua equipe, encontrou localmente seus atores, todos amadores, e construiu, quase artesanalmente, uma obra consistente, comovente e chocante. No estilo documental, isto é, uma camera na mão, alguma granulação na imagem em certos momentos, narrativa em off e diálogos improvisados de acordo com a ocasião, Winterbottom nos mostra a saga de dois primos que decidem tentar a vida em Londres, literalmente fugindo de Shamshatoo.

O filme retrata a tentativa desesperada de muitos refugiados de buscar uma vida melhor muito longe da guerra e o papel do sonho nessa decisão arriscada, como combustível vital para a dura, incerta e não raramente inútil jornada. No trajeto até Londres não faltam obstáculos, policiais corruptos, contrabandistas de fronteira, aproveitadores e criminosos. Numa viagem imprevisível e quase suicida, os dois partem cheios de esperanças e com uma ingenuidade lamentável na bagagem.

Neste Mundo é um road movie que deixa a paisagem das estradas de pano de fundo para mostrar não só os exageros inevitáveis da vida, para quem vive num universo de condições extremamente precárias, mas sobretudo a intolerância humana e o desprezo das potências políticas com relação ao mundo pobre. O filme ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim em 2003, assim como outros prêmios europeus importantes.



quinta-feira, 4 de março de 2010

Tributo às Grandes Atrizes

Em mais uma grande montagem de Philip Scott Johnson, desta vez, um tributo às grandes atrizes. Um trabalho comovente e um time espectacular.

Mary Pickford, Lillian Gish, Gloria Swanson, Marlene Dietrich, Norma Shearer, Ruth Chatterton, Jean Harlow, Katharine Hepburn, Carole Lombard, Bette Davis, Greta Garbo, Barbara Stanwyck, Vivien Leigh, Greer Garson, Hedy Lamarr, Rita Hayworth, Gene Tierney, Olivia de Havilland, Ingrid Bergman, Joan Crawford, Ginger Rogers, Loretta Young, Deborah Kerr, Judy Garland, Anne Baxter, Lauren Bacall, Susan Hayward, Ava Gardner, Marilyn Monroe, Grace Kelly, Lana Turner, Elizabeth Taylor, Kim Novak, Audrey Hepburn, Dorothy Dandridge, Shirley MacLaine, Natalie Wood, Rita Moreno, Janet Leigh, Brigitte Bardot, Sophia Loren, Ann Margret, Julie Andrews, Raquel Welch, Tuesday Weld, Jane Fonda, Julie Christie, Faye Dunaway, Catherine Deneuve, Jacqueline Bisset, Candice Bergen, Isabella Rossellini, Diane Keaton, Goldie Hawn, Meryl Streep, Susan Sarandon, Jessica Lange, Michelle Pfeiffer, Sigourney Weaver, Kathleen Turner, Holly Hunter, Jodie Foster, Angela Bassett, Demi Moore, Sharon Stone, Meg Ryan, Julia Roberts, Salma Hayek, Sandra Bullock, Julianne Moore, Diane Lane, Nicole Kidman, Catherine Zeta-Jones, Angelina Jolie, Charlize Theron, Reese Witherspoon, Halle Berry

Music: Bach's Prelude from Suite for Solo Cello No. 1 in G Major, BWV 1007 performed by Yo-Yo Ma