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Todos os textos neste blog são de autoria de Mário Luna, salvo aqueles em que a fonte for mencionada.
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terça-feira, 20 de agosto de 2013

O AMOR NOS TEMPOS DA CÓLERA

Michael Haneke é um diretor de arte. O seu último filme Amor é uma obra-prima e não é a toa que ele ganhou a Palma De Ouro em Cannes em 2012 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, além de outros prêmios, o que fez Haneke levar para casa o seu segundo Oscar nessa categoria - ele havia ganho anos antes com A Fita Branca. O final surpreende e divide opiniões, mas todo o filme está recheado de bons momentos cinematográficos e quem não ficou atento ao mais-que-trabalhado texto do filme, deixou passar algumas preciosidades, o que, provavelmente, afetou a interpretação final da obra: uma transcedente visão do amor.

O mais interessante é que a história (com h mesmo) é verdadeira: aconteceu com os tios do diretor. Assinando também o roteiro, Haneke se permitiu apresentar igualmente outras realidades da sua vida privada, como a reprodução fidedigna do apartamento em que vive seus pais (o filme foi todo produzido em estúdio) e grande parte dos diálogos, sobretudo, aqueles diálogos-chave, são cópias de conversas que ele teve na infância com os pais, especialmente com a mãe, como a estória que Georges conta para a mulher numa das cenas finais.

Brilhantemente, o diretor não está interessado em mostrar o que acontece com alguém que passa por um problema de saúde semelhante na terceira idade nem tampouco como lidar com pacientes terminais. Ao contrário, ele centra seu drama no elemento humano. Como lidar com a morte iminente de alguém que amamos muito e como os personagens se comportam diante desse fardo inexorável. Sem sentimentalismo, o diretor nos brinda com uma história de sentimento profundo, numa época em que a humanidade está mais ocupada em disputar suas diferenças brandindo a sua cólera com terror.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

VIACONS FILMES LANÇA DOCUMENTÁRIO SOBRE O CEAEC

A ViaCons Filmes lançou no ano passado INTERCÂMBIO GLOBAL NO CEAEC, documentário de média metragem que apresenta o Centro de Altos Estudos da Conscienciologia, localizado em Foz do Iguaçu, no Paraná. O centro é o primeiro campus conscienciológico, uma organização científica sem fins lucrativos, não-governamental, apartidária e não-religiosa, criada em 15 de Julho de 1995, mantida por pesquisadores-voluntários, totalmente voltada para cursos e pesquisas na área da Conscienciologia, uma neociência que estuda a consciência humana de forma integral, intra e extrafisicamente.

Centenas de pessoas se dedicam na administração do campus, tanto como professores e pesquisadores, como voluntários nas várias Instituições Conscienciológicas especializadas em diversas áreas de estudo. Milhares de pessoas passam pelo CEAEC todo o ano e grande parte delas vêm de outros países. Esse foi o motivo pelo qual o documentário foi realizado: mostrar o intercâmbio global existente e promovê-lo no intuito que esta interação seja cada vez maior.

O campus trata-se de um balneário bioenergético, localizado no bairro Cognópolis em Foz do Iguaçu-PR, um abiente que favorece a utilização lúcida da energias conscienciais e o desenvolvimento dos atributos mentais devido à sua riqueza ecológica. FONTE: www.ceaec.org

VERSÕES EM PORTUGUÊS E INGLÊS:




sábado, 12 de janeiro de 2013

ÁREA Q MOSTRA QUE PODEMOS FAZER ALGO ALÉM DE COMÉDIAS

O filme Área Q do diretor Gerson Sanginitto sai da linha do que está se tornando a especialidade do cinema nacional: a comédia. E não só: com ele, podemos acreditar que podemos fazer mais do que produzir dramas da seca ou que retratam a violência, o comércio de drogas, sexo e de quebra as comédias românticas. Isso não signifa que sejamos bons no gênero da ficção científica, mas a coprodução americana é a bicicleta de rodinhas que precisávamos para fazer algo de qualidade.

Confesso que ao pegar o filme eu não lhe dei os devidos créditos, mas como está tão difícil encontrar algo além da comédia, das histórias de amor e dos dramas nordestinos no cinema nacional hoje em dia, resolvi arriscar na esperança de que, enfim, algo de qualidade no gênero tivesse sido feito. E foi assim que assisti Área Q: minuto a minuto, buscando algo para criticar, reclamar, me decepcionar... mas não encontrei... para meu alívio. Sim, nós podemos fazer um bom filme de ficção científica!

Mas o diretor foge aos rótulos. Em entrevista ao G1, Gerson Sanginitto disse que “este filme não é espírita, não é religioso, a gente não fala de religião, não é doutrinário. Não é nem ficção científica, que eu acho que até diminui um pouco o filme”, continua o cineasta. “Esses elementos de ficção, essa abordagem sutil espiritualista, na verdade é um pano de fundo para o drama desse pai que está à procura do filho que desapareceu.”

Protagonizado por Isaiah Washington, que trabalhou com Spike Lee e viveu o dr. Burke no seriado Grey's Anatomy, e com Murilo Rosa e Tania Khallil, Área Q conta a história de abduções no interior do Ceará, numa região povoada por cidades que começam com Q, Quixadá, Quixeramobim etc. Os casos parecem de fato serem verídicos segundo conta o relato dos habitantes dessa região e a ideia do diretor foi inicialmente retratar tais depoimentos. Isaiah Washington vive o jornalista que é enviado ao interior do Ceará para fazer uma reportagem sobre as abduções e descobre nessa experiência que o sumiço do seu filho, nos EUA, anos antes, está diretamente ligado aos casos dos desaparecimentos brasileiros.

O roteiro, embora ainda repetindo fórmulas antigas da nossa escola, com algumas tomadas longas, cenas explicadas além da conta, foi escrito com maestria no quesito tratamento. É muito legal ver que podemos escrever roteiros como os americanos - bem urdido, com elipse de tempo, com sub-plots que convergem para um final surpreedente, dando à estória um acabamento envolvente e ao espectador a sensação de que ele não passou quase duas horas diante da tela. Talvez alguns críticos com Steven Spielberg na cabeça encontrem alguma coisa para dizer que Área Q é um embrião no gênero - para mim, foi uma mais do que grata surpresa.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CHEGA DE SAUDADE DO ETTORE SCOLA

O filme Chega de Saudade da diretora Laís Bodanzky poderia ter sido feito pelo diretor italiano Ettore Scole pois me lembrou o seu clássico O Baile, com um desfile de personagens heterogêneos que se encontram num mesmo espaço nos enchendo de humanidade.

O mais cativante em Chega de Saudade é ver o trabalho de camera. Aqui o roteiro não peca no tempo da camera ligada. Pelo contrário, a camera ligada nesse caso mostra tanto que esquecemos que todo aquele universo faz parte de uma mesma tomada. Os personagens são ricos em fatos, tipos, situações vividas no baile, experiências de vida, modo de ver a realidade e opiniões. Não sou adepto dos bailes de música de salão, mas aqui há muito mais do que isso: há humanidade, uma realidade crua do ser humano em busca da felicidade, do prazer. Tudo isso numa idade em que muitos ali já dobraram o cabo da boa esperança. Há tanta vida nesse filme!

A diretora foi muito feliz ao escolher o tratamento para o seu filme. Chega de Saudade mostra um baile de música de salão, em algum clube situado numa esquina de São Paulo. Os personagens chegam ainda à luz do dia e ficam lá até tarde. Todos querem se divertir, dançar, sentir alguma paixão, beijar, viver, transar no fim da noite ou lá mesmo, conhecer pessoas, paquerar, sentir prazer, algum tipo de contentamento e felicidade. Essa busca nos leva a conhecer o ser humano em sua essência, em tantos casos paralelos que se encontram nessa humanidade explícita no filme.

Como disse, não sou fã da música de salão, mas sou fã da boa música e o filme apresenta 30 temas diversos, que vão desde Marvin Gaye cantando Get It On ao hino do bloco pernambucano de frevo Batutas de São José, do compositor João Santiago. Assim como a música, há um amálgama de gente que se completa tanto por pessoas de 20 anos como por senhores e senhoras de 80. Essa diversidade espantosa parece incrível funcionar num espaço reduzido de uma maneira tão humanamente harmoniosa.

Creio que, saindo do gênero comum da comédia e dos filmes de violência urbana e os dramas da pobreza, tenho ultimamente descoberto razões para repensar o cinema nacional e Chega de Saudade é uma dessas produções que me levam a isso.