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terça-feira, 20 de agosto de 2013

O AMOR NOS TEMPOS DA CÓLERA

Michael Haneke é um diretor de arte. O seu último filme Amor é uma obra-prima e não é a toa que ele ganhou a Palma De Ouro em Cannes em 2012 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, além de outros prêmios, o que fez Haneke levar para casa o seu segundo Oscar nessa categoria - ele havia ganho anos antes com A Fita Branca. O final surpreende e divide opiniões, mas todo o filme está recheado de bons momentos cinematográficos e quem não ficou atento ao mais-que-trabalhado texto do filme, deixou passar algumas preciosidades, o que, provavelmente, afetou a interpretação final da obra: uma transcedente visão do amor.

O mais interessante é que a história (com h mesmo) é verdadeira: aconteceu com os tios do diretor. Assinando também o roteiro, Haneke se permitiu apresentar igualmente outras realidades da sua vida privada, como a reprodução fidedigna do apartamento em que vive seus pais (o filme foi todo produzido em estúdio) e grande parte dos diálogos, sobretudo, aqueles diálogos-chave, são cópias de conversas que ele teve na infância com os pais, especialmente com a mãe, como a estória que Georges conta para a mulher numa das cenas finais.

Brilhantemente, o diretor não está interessado em mostrar o que acontece com alguém que passa por um problema de saúde semelhante na terceira idade nem tampouco como lidar com pacientes terminais. Ao contrário, ele centra seu drama no elemento humano. Como lidar com a morte iminente de alguém que amamos muito e como os personagens se comportam diante desse fardo inexorável. Sem sentimentalismo, o diretor nos brinda com uma história de sentimento profundo, numa época em que a humanidade está mais ocupada em disputar suas diferenças brandindo a sua cólera com terror.