Bem-vindos ao Cinema & Consciência, um novo espaço para a difusão e a discussão do cinema brasileiro e internacional. Vamos falar de filmes ou documentários, discutir ética e estética do cinema, com enfoque nas pessoas, nos temas e nos fatos. Os comentários dos visitantes serão sempre bem-vindos.

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"Não acredite em nada que ler ou ouvir neste blog. Reflita. Tenha as suas próprias opiniões e conclusões"





quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Série Entrevistas - Volume 1: Woody Allen


Entrevista com Woody Allen realizada pela Revista TIME americana.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Em Cartaz: Destaques da Crítica e do Público


500 Dias com Ela


Tom (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem tímido e sem jeito com as mulheres. Formado em arquitetura, ele leva a vida elaborando frases para uma empresa que edita cartões de felicitação. Inteligente, mas acomodado, não vislumbra grandes rumos em sua vida. Até conhecer Summer (Zooey Deschanel), sua nova colega de trabalho, recém-chegada de Michigan, por quem se apaixona perdidamente. Ele faz de tudo para conquistá-la, mas ela não está muito interessada em relacionamentos sérios.

Indicado ao prêmio Globo de Ouro de 2009 nas categorias Melhor Filme (Musical ou Comédia) e Melhor Ator (Musical ou Comédia) com Joseph Gordon-Levitt.

"A paixão arrebata, consome. Tom Hansen se entrega a Summer Finn, prevendo seu futuro naqueles olhos enigmáticos. Para cada situação passada juntos, ele imagina uma música, como se a vida fosse um imenso video-clipe coreografado e com final feliz. Mas é ingenuidade esperar por um final feliz. Summer abandona Tom antes. A canção então diminui as rotações, fica triste. A expectativa não se confirma, e o mundo de Tom desaba." André Miranda - O GLOBO




À Procura de Eric

Eric Bishop (Steve Evets) é um jovem carteiro fanático por futebol descontente com a vida que leva. Casado há 30 anos com Lily (Stephanie Bishop), por quem já foi apaixonado, não consegue enfrentá-la nem controlar seus enteados. Apesar de tentar escapar dessa rotina sufocante, ele só consegue alguns momentos de tranquilidade quando acende um baseado e começa a receber conselhos de seu grande amigo, o ex-jogador de futebol Eric Cantona.

"Sair do cinema feliz da vida depois de assistir a um filme do britânico Ken Loach? Sim, isso é possível. “Looking for Eric” (no original), roteirizado por Paul Laverty, parceiro das antigas, mantém a pegada e o foco na vida dos excluídos, como nos dramáticos “Meu nome é Joe” e “Terra e liberdade”. Só que é um filme engraçado, de humor refinado, inteligente, no qual o mundo não é visceralmente nublado." Érico Reis - O GLOBO




Deixa Ela Entrar


No subúrbio de Estocolmo, em 1982, Oskar (Kare Hedebrant) é um garoto frágil de 12 anos, que sofre maus-tratos dos colegas na escola e se sente solitário. O que ele mais deseja é ter um amigo. Quando Eli (Lina Leandersson), uma garota séria e pálida, se muda para a vizinhança, esse desejo se concretiza. O problema é que a menina tem hábitos estranhos, só sai de casa à noite e não parece ser afetada pelo frio.

"A princípio, demora um pouco para o público entrar no clima frio e lento (e nórdico) de “Låt den rätte komma in” (no original). Depois, o espectador é totalmente enfeitiçado por este título inovador, provavelmente o mais original filme de vampiros que subvertem o vampirismo desde que o gênero foi criado. Ainda que os sanguessugas sejam uma praga hoje em dia (estão em toda parte, na TV e nos cinemas, em versões diluídas e anêmicas), nada se compara a esta intrigante produção sueca." Tom Leão - O GLOBO





No Meu Lugar


Um policial se vê obrigado a intervir num assalto a uma casa de classe média alta no bairro de Laranjeiras, no Rio. A partir deste evento, o filme acompanha três histórias passadas em tempos diferentes.

Algumas semanas antes, um entregador de compras de um supermercado descobre o amor da sua vida. Dias depois, o policial, suspenso das suas atividades, tenta seguir adiante com sua rotina normal, a vida com sua única filha e a presença dos amigos.

Cinco anos depois, uma mulher volta com seus dois filhos e o novo marido para esvaziar e vender a casa onde morou no seu casamento anterior até a morte do primeiro marido. Estreia de Eduardo Valente como diretor de longa-metragens.

"Os diálogos e o desempenho dos atores (destaque para Raphael Sil, Márcio Vito e Dedina Bernardelli, num elenco preciso) talvez sejam o ponto alto do filme. Mas não é só por causa desses componentes que o Bonequinho está aplaudindo de pé. Em seu promissor primeiro longa-metragem, Eduardo Valente revela perfeccionismo e amplo domínio cinematográfico. Tudo funciona bem no filme." Érico Reis - O GLOBO




Nova York, Eu Te Amo

Reunindo um elenco estelar de Holywood em onze curtas, “Nova York, eu te amo” conta histórias de amor que se passam na cidade que nunca dorme.

Nos moldes de “Paris, te amo”, o longa é um mosaico de olhares tecido por cineastas consagrados, como Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Shekhar Kapur, Joshua Marston, Mira Nair, Brett Ratner, Andrei Zvyagintsev e pela diretora novata, a bela atriz Natalie Portman.

Diversos, mas com o mesmo fio-condutor, os roteiros convidam o público a embarcar no cotidiano íntimo dos nova-iorquinos, descortinando brigas e, especialmente, as constantes buscas pelo amor.

Seguindo o sucesso de seu aclamado predecessor, a nova produção de Emmanuel Benbihy integra a série "Cidades do amor", que em cada filme busca conduzir o público às cidades mais amadas e culturalmente influentes do mundo. As próximas cidades serão Rio de Janeiro e Shangai, em 2010, e Jerusalém e Mumbai, em 2011.

"Filmes reunindo vários episódios dirigidos por cineastas diferentes costumam escorregar nos clichês e apresentar altos e baixos de qualidade. Não é o que acontece com “New York, I love you” (no original). O segundo filme da série “Cities of love”, do produtor francês Emmanuel Benbihy, dirigido por dez diretores, é coeso" Érico Reis - O GLOBO




O Fantástico Sr. Raposo

Baseado no livro "Raposas e fazendeiros", de Roald Dahl. O sr. Raposo (George Clooney) e sua mulher (Meryl Streep) levam uma vida tranquila com seu filho e um sobrinho, até que a rotina começa a pesar e ele não resiste aos seus instintos selvagens. Alguns anos atrás, quando a mulher engravidou, o raposo lhe fez uma promessa: abandonar a vida de malandro, deixar de roubar galinhas e levar uma vida respeitável. Mas a cada dia esse compromisso fica mais difícil de ser cumprido.

Primeira animação de Wes Anderson. Indicado ao prêmio Globo de Ouro de 2009 na categoria Melhor Filme de Animação.

"Quando todos achavam que nenhum estúdio de animação seria capaz de barrar a criatividade da Pixar, um diretor assumiu para si a responsabilidade. Wes Anderson escolheu uma história do escritor Roald Dahl, convocou animadores de stop-motion, reuniu atores do primeiro time e filmou “The fantastic mr. Fox” (no original). O filme talvez tenha sido seu maior acerto." André Miranda - O GLOBO




Avatar


Com roteiro e direção de James Cameron - vencedor do Oscar, em 1998, com o filme "Titanic" -, "Avatar" narra uma batalha futurista em que terráqueos querem explorar Pandora, um planeta habitado pelos Na'vi, uma raça humanóide totalmente desconhecida e de cultura e idioma próprios.
O soldado Jake (Sam Wothington) - um veterano de guerra que ficou paraplégico - é escalado para liderar a operação no local desconhecido e com isso ter a chance de recomeçar na linha de combate.
Durante a missão, o grupo utilizará uma tecnologia completamente inovadora, envolvendo a criação de avatares a partir da mistura de DNA humano e extraterrestre, para aniquilar as criaturas de Pandora. Com exibição em 3-D em algumas salas.

Indicado ao prêmio Globo de Ouro de 2009 nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor (James Cameron), Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Canção Original ("I will see you", de James Homer, Simon Franglen e Kuk Harrell)

"Avatar" vende-se como um fliperama, um videogame tridimensional, prometendo elevar a sensibilidade da plateia para além das fronteiras do olhar. Existe um boato de que, na Fox, ninguém deveria se referir ao longa-metragem como uma ficção científica, definindo-o como "um filme de aventura para toda a família" por imposição de seu próprio realizador. Se ele deve ser comercializado assim, vende-se mal: o novo filme do midas que pôs o mundo a suspirar com "Titanic" (1997) alcança patamares muito mais complexos e provocantes do que sua promessa de encanto visual." Rodrigo Fonseca - O GLOBO

http://www.youtube.com/user/officialavatar?blend=4&ob=4#p/a/u/1/dyDQoXEBkGw

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Festa de Nachtergaele

Um homem toma um ônibus que parte do terminal. Ele veste um casaco. Por debaixo do casaco ele tem uma bomba. Em seus bolsos ele guarda pregos, bolas de chumbo e veneno para rato. O ônibus está quase lotado e dirige-se para o centro da cidade. O homem se senta ao lado de uma casal de meia idade. O casal parece ter ido às compras e agora fala da geladeira nova. Aos poucos mais pessoas tomam o ônibus, que agora está com todos os assentos ocupados. Há pessoas viajando em pé. Motivado pela fé, ele acionará a bomba quando o ônibus chegar na próxima parada. Motivado pela fé num Deus onipotente e onipresente, ele chegará ao paraíso por esse ato heróico. Mais ou menos assim começa o livro, O Fim da Fé, de Sam Harris.

Mas o que o homem faz com a sua fé ? O homem, em sua ampla maioria, não sabe viver sem fé. Lembro de uma frase o diretor de cinema polonês, Krzysztof Kieslowski, que disse, "sempre tenho contato a história do homem que, por achar difícil se orientar neste mundo, não sabe como viver." A fé se torna, assim, uma bússola através da qual o homem guia seus princípios e determina seu destino. A falta da fé tanto em algo como em alguém jogaria este mundo num caos moral, porque uma trajetória de vida baseada no pensamento do próprio homem é uma hipótese impensável - até aqui. Ele precisa da doutrina, da moral alheia e de alguém que represente essa moral. Não há massa crítica, porque, historicamente, nunca pudemos alcançá-la através das religiões. A manipulação espiritual sempre norteou a intencionalidade doutrinária eclesiástica e se ramificou em seitas, misticismos, comunidades esotéricas, igrejas protestantes, assim como em tantas outras religiões que se multiplicam a cada dia em busca de dízimos e promessas de paraíso. Se retirarmos todos os pensamentos incutidos no homem religioso, não restará muito pensamento que possa ser considerado dele.

A liberdade é uma ameaça e o que se vê é que o homem já nasce fadado a ser comandado de alguma maneira, porque, não sabendo viver, ele precisa de um guia, qualquer um serve. O filme A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele, não fala apenas da fé, mas da necessidade de haver um santo para recriá-la e mantê-la acesa. A busca cega pelo ícone espiritual exime o mesmo dos pecados da sua condição humana. No filme, vemos um santo real, emocionalmente desequilibrado, sexualmente desviado, vulnerável em suas convicções e atentado por seus próprios medos e fraquezas. Sabendo que este contexto não foge à realidade, não é difícil sentir uma certa compaixão pela humanidade.

A história centra-se no poder do misticismo numa comunidade perdida nos confins da Amazônia, vivendo num Brasil ainda desconhecido, arcaico, primitivo e feroz. Ali, praticamente toda a população vive em função da crença nas previsões anuais de Santinho, o personagem principal, uma espécie de beato com inúmeras características profanas, como o relacionamento dúbio com o próprio pai e os constantes destemperos histéricos que tem com sua equipe de trabalho em casa. O evento na comunidade acontece há 20 anos. Santinho ganhou seu status de santo ainda criança, quando recebeu de um cachorro os restos do vestidinho de uma criança desaparecida. O episódio foi interpretado como um sinal de divindade. Além disso, ele convive com a figura da mãe - dada como morta por suicídio -, assombrando a casa.

O filme teve sua estreia mundial em maio de 2008, dentro da seleção da respeitada mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar) do Festival de Cannes, onde colheu as primeiras comparações com a pegada radical do Cinema Novo. Ganhou prêmios internacionais em Chicago, Havana e Los Angeles, e nacionais em Gramado e no Rio de Janeiro. O filme tem um argumento muito bom, atuações primorosas, mas um roteiro que poderia ser menos elástico - o filme tem duas horas e quarenta minutos. Apesar disso, é um belo trabalho que surpreende na estréia de Matheus Nachtergaele como diretor.



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal

Já considerado um dos maiores fenômenos de bilheteria dos últimos tempos (com arrecadação superior a US$ 60 milhões nos EUA), Atividade Paranormal tinha tudo para entrar na lista dos melhores ghost movies: uma boa idéia. Mas esbarra no mito demoníaco, uma ferramenta temática já enferrujada da técnica de assustar.

Atividade Paranormal
conta a história de Katie e Micah, um jovem casal que, ao se mudar para uma nova casa em San Diego, passa a conviver com uma estranha presença. Um especialista em fenômenos paranormais visita a dupla assustada com os eventos, que ocorrem sobretudo durante a noite, mas ele não pode ajudá-los e receita a visita de um demoniólogo (nem sabia que havia a especialidade). Os eventos são evidenciados pela camera de vídeo que Micah acaba de comprar para registrar os fatos já anunciados pela namorada - uma paranormal com um histórico intrafísico bastante pertubador (ela havia passado por experiências de clarividências, pirogenia e poltergeists na infância) e extrafísico inimaginável (a figura que ronda os aposentos da casa acompanha a jovem há tempos imemoriais - que companhia!).

O namorado Micah é um jovem deslumbrado pelo desconhecido e sobrenatural, um pseudocorajoso adolescente tardio que desafia a criatura com seus shots da camera e uma tábua Oudja que ele compra para se comunicar com o além. O interessante é que é a própria criatura fantasmagórica quem se comunica com ele, e não o inverso. Na sua ausência, o espírito deixa literalmente o seu recado no objeto. Até aqui tudo bem. Lembre-se que a realidade (leia-se coerência, lógica e probabilidade) dita a qualidade de um bom ghost movie; não a fantasia e o desvario.

Com o registro das primeiras imagens e a comprovação dos eventos paranormais na casa enquanto o casal dorme, a curiosidade de Micah dá lugar a uma competição que ele trava consigo mesmo com o intuito de vencer as barreiras dimensionais e derrotar a criatura no grito. Mas as suas investidas documentais só aceleram o processo de resgate da tal "coisa que perambula a casa," pioram a situação, agravam a perda de mando de campo e dão cabo do controle energético da dupla - se é que havia algum desde o começo.

A idéia da camera de vídeo de Micah como o condutor das imagens do filme é muito boa e tem seus méritos no resultado que isso causa na platéia. Claro que já havíamos visto isso antes em A Bruxa de Blair, Cloverfield, Um Conto de Natal etc. Mas esse recurso ainda produz um bom efeito documental na história e tem força semiótica. O roteiro tem conteúdo dramático e ritmo ardiloso, mas o diretor não fez um documentário. E como filme, a intensão foi mesmo a de assustar.

O filme chega então a um ponto em que o problema pluriexistencial de Katie é também o de Micah - ele compra a briga por ser ingênuo e infantil, mas também por tentar ser o cavaleiro da Tábua Oudja Redonda. Por conta das suas gracinhas e turbulências emocionais de um adolescente, "a coisa que perambula a casa de noite" agora quer lhe pegar (e não é que pega!).

Fenômenos conhecidos como Poltergeist ocorrem promovidos por energia física densa e por intermédio das bioenergias de consciências intrafísicas (vivas no plano físico). Os eventos envolvem chuvas de pedras, movimentação de objetos, manuseio de objetos elétricos, eletrônicos etc., pirogenia, aparecimento de água, sons, luzes, sem qualquer manipulação humana direta.

As razões para o aparecimento desses fenômenos, bem como o perfil das pessoas que os desencadeiam são bastante complexas. A hipótese mais aceita na ciência hoje é a teoria da psicodinâmica, adotada por William Roll e outros. Poltergeist é uma palavra de origem alemã que se popularizou na época da Reforma, sendo utilizada por Martinho Lutero para se referir à ação de um "espírito brincalhão;" polter (barulhento, brincalhão) e geist (espírito). Na verdade, geist também significa "a mente de alguém vivo."

Sempre que há o lançamento de um ghost movie fico torcendo para que os eventos da história sejam coerentes, para que o misticismo religioso que se criou em torno do tema seja, aos poucos, desfeito. A cultura do medo pelo desconhecido, pelo sobrenatural, criado pelas religiões, com as dicotomias céu-inferno, paraíso-purgatório, bem como através do materialismo, no entanto, é um fator alijante da evolução humana e do conhecimento multidimensional. Estamos sempre atrelados a condicionantes de verdades absolutas e não deixamos a "tigela esvasiar" para que novos conhecimentos tenham lugar na razão. A intensão de assustar desses filmes é tão sorrateira e ardilosa que o simples uso da sonoplastia pode ter essa intenção, como em Atividade Paranormal - sempre que "a coisa que perambula na casa" está por aparecer, uma música sinistra toca antes (a trilha sonora do medo). Isso é comum, mas ainda lamentável. O resultado disso é que milhares de consciências infantilizadas por essa cultura não conseguem dormir à noite por causa do filme. Bye bye maturidade consciencial.





segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Linguagem, Imagem & Ação

O Ilusionista, filme do diretor holandês, Jos Stelling, produzido em 1984, permanece um clássico cult 26 anos depois do seu lançamento, e, por isso, ganha uma nova edição nacional pela Cult Classics, uma coleção para os amantes do cinema fora dos circuitos comerciais. O filme, uma analogia à história de Caim e Abel e fundamentado em teorias freudianas, com boas pitadas de humor, mas sem desprezar o drama, conta a história de dois irmãos, que vivem em uma região pacata da Holanda. Um deles sonha com as luzes da ribalta e com a possibilidade de ser um showman. O outro, deficiente mental, vive imerso numa rotina tranquila em seu restrito mundo, sem qualquer ambição maior do que desfrutar da vida na medida em que ela acontece.

Vencedor do prêmio do Público da 9ª Mostra de Cinema de São Paulo, O Ilusionista é um desses filmes que devemos rever de vez em quando, pois a cada observação tiramos mais das imagens de Stelling, um dirtetor que se diz influenciado pelo cristianismo e que privilegia a imagem acima de todas as coisas. Além disso, o filme não tem diálogos. Apenas sons ambientes, de vozes disformes, grunhidos etc. Depois de revê-lo algumas vezes, continuo achando, quase 20 anos depois de vê-lo pela primeira vez, que esta obra não precisa de diálogos. O trabalho de imagens é de tal forma sinalético e bem apresentado que, qualquer tentativa de explicar o que acontece na tela por meio de palavras, tiraria toda a carga dramática dos sigmas os quais norteiam as cenas.

Encontramos salmos bíblicos em placas de ônibus, mensagens subliminares nos cenários, objetos com significados figurados, um outdoor cujo anúncio narra os sentimentos do personagem, linguagens corporais eficientes, gestos e expressões que nenhuma palavra poderia substituí-los de modo a representar melhor e mais fielmente o andamento da história. Cada cena é precisamente medida e explorada através da linguagem não-verbal, uma aula de comunicação universal. O Ilusionista é o que costumo chamar de cinema, mas do que um filme - fazer cinema vai muito além do que simplesmente contar uma história. E nisso o holandês Jos Stelling é um mestre.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Em Busca do Ser Humano Perfeito

Segundo o dicionário Aurélio, por Eugenia entende-se a ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e melhoramento da raça humana. Embora o termo possa implicar o uso da manipulação genética em tempos de clonagem, o diretor sueco Peter Cohen enfoca aqui um problema muito maior: a eugenia negativa para fins de limpeza racial, ocorrida no começo do Século XX, na Europa e nos Estados Unidos. A Eugenia pode também ser definida como uma direção manipulável da evolução humana, largamente usada por nazistas, fascistas e stanlinistas, antes e durante a Segunda Grande Guerra.


Com um texto muito bem escrito, e muitas vezes assustador, o diretor varre os anos em que a Eugenia se tornou, digamos assim, moda, época em que, na Europa e nos Estados Unidos, cientistas racistas levaram a sério a idéia de uma limpeza racial e colocaram em prática esta ferramenta de manipulação da gênese humana. Mas a origem dessa ciência elitista data muito antes dela cair nas mãos de nazistas e fascistas. Começando no século 19, a Eugenia surgiu como uma filosofia social, baseada em métodos pseudo-científicos, a qual tentava aperfeiçoar a qualidade da hereditariedade humana de maneira que a produção de uma raça superior humana pudesser ser controlada. Estava, portanto, lançada a febre da boa procriação.

O aperfeiçoamento da raça humana pode ser considerado um dos ícones da visão Utópica desde tempos helênicos. A seleção (nada natural) de genes e controle (manipulativo) da produção humana é um ideal que nos chega oriundo dos tempos de Platão, que acreditava que a reprodução humana deveria ser controlada pelas autoridades. Ele mesmo propôs que tal seleção deveria funcionar como uma espécie de "falsa loteria, manipulada pelo governo," de maneira que os sentimentos das pessoas não fosse atingido com a consciência dos princípios da prática seletiva. Outro sinal da Eugenia em tempos mais remotos é a prática mitológica de Esparta, que consistia em largar os bêbês de saúde fraca fora dos limites da cidade para que morressem no abandono.

Mas foi o trabalho de Francis Galton, nas décadas de 1860 e 1870, que sistematizou a idéia e a prática da Eugenia em tempos mais atuais, através do seu "novo conhecimento a respeito da evolução do homem e dos animais," baseada na teoria de seu primo famoso, Charles Darwin. O conceito de seleção natural de Darwin encantou Galton e o cientista interpretou a idéia como um método potencialmente realizável de melhoria da raça humana, o que corroborava com a prática atemporal das sociedades de privilegiar os dotados de inteligência e desprezar as classes intelectualmente prejudicadas. Ela tinha intrinsecamente o caráter de extinguir aqueles intelectualmente (e fisicamente) fracos. Não demorou para que Galton tivesse a adesão de outros darwinistas, que logo começaram a trabalhar a idéia de que os fortes não deveriam ajudar os fracos. Eles não só acreditavam na evitação passiva da assistência, como na tomada de medidas ativas que defendessem a seleção natural por meio da hereditariedade intelectual - eles acreditavam que inteligência se herdava. Assim, segundo ele, "as sociedades ficariam livres da mediocridade."

Na prática, a Eugenia ganhou apoio político e social e duas (ou três) classes operacionais: a primeira, considerada positiva, selecionava aqueles humanos "adequados" para se reproduzirem com mais frequência; a segunda, considerada negativa, proíbia aqueles humanos "desadequados" de se reproduzirem por meio da esterilização. A terceira classe, a qual também incluo aqui, é a da engenharia genética, que surgiria mais tarde. Em 1900, o movimento eugênico teve uma recepção calorosa nos Estados Unidos. Na década de 30, a maioria dos estados americanos adotaram a política eugênica de esterilização de sua população considerada geneticamente fraca (os defeituosos, como eram chamados), apoiados pela decisão infame da Suprema Corte americana de tornar tal política constitucional.

A Eugenia não apenas defendia a procriação apenas dos nativos "adequados," como criou um movimento anti-imigração nos anos 1910 e 1920, a fim de evitar a miscigenação da raça, com o argumento de que negros e imigrantes eram inferiores aos nativos brancos em inteligência e condição física e moral. Em 1924, a lei de Restrição a Imigrantes foi aprovada, com os eugenistas ganhando papel central no debate congressista, como os especialistas no estudo de indivíduos indevidos na sociedade americana. A tal lei reforçou a proibição da miscigenação entre nativos brancos com imigrantes e negros e defendeu a todo custo a manutenção da seleção genética humana. Nessa época, a Eugenia era vista como o grande método científico e progressista da aplicação natural do conhecimento em favor da criação e controle da evolução humana. Antropólogos como Franz Boas e H. S. Jennings, que defendiam a pluricultura e a unificação das raças, com o argumento de que todas elas tinham o seu devido valor e importância, tentaram mostrar, por meio de estudos meticulosos, que os métodos eugênicos eram falhos e representavam uma farsa em suas pretensões. Mesmo assim, a moda pegou e parecia cada vez mais fortalecida.

É claro que a Eugenia não poderia deixar de ser um dos pratos principais do banquete nazista. Com a idéia da purificação da raça ariana, a corrente capitaneada por Adolf Hitler se tornou famosa por seus inimagináveis programas eugênicos, antes e durante a Segunda Grande Guerra. Talvez aqui, a Eugenia tenha ganho seu ápice de surrealidade. Com a bandeira da "higiene racial," os nazistas desenvolveram uma ampla sorte de experimentos com a vida humana, desde testes genéticos os mais variados até à medição de características físicas ideais, como os impiedosos e terríveis experimentos com gêmeos, liderados por Joseph Mengele nos campos de concentração. Em 1933, a Alemanha esterilizou todos os seus judeus e crianças alemãs miscigenadas. Nos anos 1930 e 1940, os nazistas extenderam a esterilização a todos os alemãs considerados mental e fisicamente "defeituosos," além de literalmente matarem centenas de doentes descapacitados por meio de um institucionalizado programa de eutanásia. O novo regime hitlerista implementou uma série de políticas eugênicas para promover a raça ariana pura, uma delas exigia que mulheres consideradas aptas a pertencerem a tal raça ariana, fossem emprenhadas por oficiais da SS. O mesmo regime selecionou, segregou e sistematicamente assassinou milhares de indivíduos que não atendiam às novas exigências raciais do país. O resultado final do programa alemão de Eugenia levou ao Holocausto, com um total de seis milhões de mortes.

O ponto de reflexão nisso tudo - para que esse texto não fique apenas numa base teórica - é identificarmos a herança do método eugênico que ainda nos afeta nos dias de hoje. Não apenas cientificamente, com a possibilidade da clonagem humana, ou socialmente, através da exclusão social, promovida por muitos governos, mas, sobretudo, individualmente, com o preconceito racial. A idéia da aceitação de uma raça "condizente" com a nossa e uma "tolerância" sublimiar à pluricultura norteiam de alguma forma as relações em sociedade.

No documentário, Cohen garimpa preciosos documentos de época que servem aos seus propósitos. Uma dessas cenas, feita por um cinegrafista anônimo, registra a feira de Paris, nos anos 30. Em outra aparece os pavilhões da Alemanha nazista e da União Soviética stalinista, um de frente para o outro. A bandeira com a suástica tremulava em frente das estátuas do homem e da mulher que elevavam bem alto os símbolos da higienização racial. O nazismo e o stalinismo são os principais alvos da crítica de Cohen, pelo uso negativo que fizeram da Eugenia. A obra do sueco Peter Cohen é fundamental para entendermos muitos dos nossos atuais pecadilhos sociais, históricos, raciais e políticos, a presunção humana, a origem do preconceito, entre outras muitas distorções no entendimento da evolução humana.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Retrospectiva Espiritualista

O cinema tem, ao longo de já algum tempo, voltado suas lentes para a questão da espiritualidade. Numa perspectiva religiosa, superproduções como Ben-Hur, Os Dez Mandamentos, Jesus de Nazaré, Joana D'arc, Quo Vadis, Irmão Sol Irmão Lua, entre outros, pontuaram as listas dos mais vistos e revistos pela crítica. A partir dos anos 80, podemos dizer que as lentes deram então maior zoom em filmes sobre cultura e religião orientais, como O Pequeno Buda, Sete Anos no Tibet, Viver a Vida, A Balada de Narayama, Kundun, O Último Imperador, Samsara, só para mencionar alguns dos mais conhecidos. Depois de sobrevivermos, entretanto, a série aparentemente inesgotável de filmes com temática religiosa-satânica, como O Iluminado, O Exorcista (em incontáveis partes), (assim como foi) A Profecia, Coração Satânico, O Enviado etc., entre centenas de outros engajados em aterrorizar platéias, chegamos enfim à uma fase mais racional, coerente e cientificamente testada dos ghost movies, a partir, talvez, do sucesso de Ghost - Do Outro Lado da Vida. Particularmente acho esse filme, juntamente com Em Algum Lugar do Passado, os grandes divisores de água do cinema com temática espiritual. Foram depois de tais sucessos de bilheteria que uma grande safra de filmes espiritualistas deixaram a religião e seus demônios de
lado para mostrar um universo paralelo e paranormal sensato, coerente e, como disse, cientificamente comprovado.

Com o avanço, nos Estados Unidos, das pesquisas sobre Experiências Fora do Corpo (EFC) e Experiência de Quase Morte (EQM), além de um olhar mais profundo nos casos de fenômenos paranormais, como vemos, por exemplo, em vários seriados para a TV, como Ghost Whisperer, Supernatural, Ghost Hunters, Fringe, entre outros, o cinema tem produzido ótimos roteiros espiritualistas, com destaque para Os Outros, Além da Eternidade, Amor Além da Vida, O Orfanato, Passageiros, E Se Fosse Verdade, A Troca e Campo dos Sonhos - e certamente estou cometendo alguma injustiça nos destaques. Há também os sempre sensatos filmes asiáticos sobre o tema, como The Eye - A Herança, Espíritos, Dorm - O Espírito, Depois da Vida, e muitos outros.

Os 10 requisitos básicos do sistema (de produção) para se fazer um bom filme espiritualista são (1) não trazer monstros, vampiros, nem a já tão famigerada imagem do demônio na capa, contracapa ou encarte, se houver, (2) realizar
uma pesquisa séria e cientifica, baseada em estudos de casos, sobre o tema tratado, (3) não ter tão-somente a intenção de aterrorizar a platéia, (4) não fazer (o mal) uso da fantasia e da alucinação, (5) não misturar temas religiosos com fenomenológicos - por exemplo, anjos não cabem mais no papel dos amparadores extrafísicos, nem projeção astral deve vir no mesmo pacote do diabo, (6) apresentar histórias orgânicas coerentes, isto é, com começo, meio e fim e a lógica norteando todo o enredo, (7) não envolver religião, nem qualquer corrente filosófica, dogmática - como em filmes que suscitam pecado, pecadilhos e punições divinas, (8) não envolver mecanismos de manipulação, como símbolos e esteriótipos - como em roteiros que sugerem que todo parapsíquico é um cara esquisito, de poucos amigos e olhar endemoniado, (9) não misturar temas distintos como sonho e projeção, realidade e ficção, sanidade e loucura, pois isso deixa o espectador perdido, além de cético quanto à veracidade dos fatos do roteiro, e finalmente (10) não abusar do uso de gritos, rezas do além, gemidos, sussurros, vozes macabras incompreensíveis, pois ninguém aguenta mais esse tipo de coisa, e tão pouco do
uso do ectoplasma nas cenas de aparição - ainda se entende pouco deste vapor extrafísico e normalmente vemos o efeito da aparição sem qualquer critério de verossimilhança. A consciência extrafísica parece ter uma vida física independente e sobressalente, e não é bem assim o que está escrito nas leis da natureza.

Muitos já me perguntaram se eu não teria uma lista de filmes espiritualistas
para sugerir. Sempre respondi que tinha várias listas. E a dificuldade sempre foi a de justamente compilar uma única listagem, com heterocrítica na qualidade dos filmes e na classificação espiritualista (ghost movies). Uma preocupação constante ao criar uma única listagem de filmes espiritualistas é a de englobar filmes evangelistas e religiosos, como filmes sobre milagres ou com apelo demoníaco. Contudo, filtrar a qualidade dos fenômenos ao ponto de desconsiderar o da possessão pode ser uma decisão preconceituosa, de modo que decidi por incluí-los. Mas este não é, ou foi, o único dilema. Nas muitas listagens encontradas na internet e/ou enviadas por amigos há filmes que ainda não vi e, portanto, não tenho massa crítica para sugerí-los (ou não). Porém, em se tratando de listagens especializadas, muitas de sites espíritas, ou
enviadas por pessoas ligadas ou interessadas pelo tema, decidi por incluir esses filmes, pois as listas, assim como a exposta logo abaixo, servem como sugestão para mim... também.

Para o levantamento da lista abaixo não houve critério de escolha quanto ao estilo da obra. Há drama, comédia, aventura, policial, suspense, terror, religioso, documentário, programa exibido na televisão etc.
Os títulos em língua estrangeira indicam que a versão lançada no Brasil não foi encontrada até o momento - isso não que dizer que não tenham sido. As obras com continuação, como filmes com parte 1, 2, 3 etc. foram lançadas apenas no título (por exemplo Cocoon - evitando mencionar Cocoon 1, Cocoon 2 etc.). E muitos filmes possuem continuações, como Exorcista, A Profecia, Espíritos, entre outros. O mesmo critério foi adotado para remakes ocidentais de originais orientais, como é o caso de The Eye - A Herança, que teve versões feitas nos Estados Unidos. A exceção ficou por conta de " Imagens do Além," remake de "Espíritos," original japonês devido a qualidade da versão americana valer a pena ser assisitida, mesmo por aqueles que viram o original japonês.

Falando com os Mortos
Depois da Vida
A Casa dos Espíritos
As Cico Pessoas que Você Encontra no Céu
As Profecias De Nostradamus
À Espera de Um Milagre
A Sétima Profecia
Quando os Mortos Falam
Dorm, O Espírito
Danika
Energia Pura - Powder
Paixão Eterna
Afterwards
Book of Days
Os Outros
Joelma 23° Andar
Quando os Anjos Falam
A Reencarnação de Peter Proud
No Te Mueras Sin Dicerme Adonde Vas
Minha Vida na Outra Vida
O Peso da Água
Aparição
O Mistério da Libélula
Corpo Fechado
Passageiros
Fenômeno
Na Hora da Zona Morta
Visões
Imagens do Além
Um Olhar na Escuridão
A Árvore Dos Sonhos
Os Três Desejos
Visões do Além
Eternity - O Guerreiro do Tempo
Cidade dos Anjos
Em Busca Dos Anjos
Amor Além da Vida
Amor Maior Que A Vida
O Homem Especial
A Procura de Alguém
Agnes de Deus
Juro Por Deus
Linha Mortal
O Exorcista
Ecos do Além
Amazing Stories - Histórias Maravilhosas
Voltar a Morrer
Competição de Destinos
Salvo pela Luz
Destino em Dose Dupla
Efeito Borboleta
A Profecia
Minory Report
De Caso com o Acaso
Manika
O Bêbê de Rosemary
Distante para Sempre
Em Algum Lugar do Passado
Ghost - Do outro lado da vida
Ghost Writer - Com A Morte Não Se Brinca
O Céu Pode Ajudar - Heaven Can Help
Expresso para Katmandu
Campo dos Sonhos
Espíritos
Minhas Vidas - Shirley Mclaine
Morrendo para Viver
Dreamscape - Morte nos Sonhos
O Sexto Sentido
O Exorcismo de Emily Rose
Além da Eternidade
Experiências Fora do Corpo
Vida Além da Morte
Fernão Capelo Gaivota
Contato
School Spirit
Um Visto para o Céu
Atormentada
Vibes - Boas Vibrações
A Corrente do Bem
Um Anjo Rebelde
Byrd
Grand Cannion
Ressureição
Revelação
Stigmata
Vanilla Sky
Asas do Desejo
O Jardim da Meia-Noite
O Avião
Cartas de Amor
Um Espírito Baixou em Mim
A Troca
A Profecia dos Anjos
A Última Profecia
A Educação da Pequena Árvore
O Jogo dos Espíritos
The Eye - A Herança
Em Busca de Um Sonho
E Se Fosse Verdade
Out Of Body
Celta
O Chamado
Uma Mente Brilhante
Waking Life
Ponette
Os Órfãos
Paixões Paralelas
Reencarnação
Asas do Desejo
Bezerra de Menezes
O Grito
Duas Vidas
Morrendo e Aprendendo
O Orfanato
O Céu Pode Esperar
Lembranças de Outra Vida
O Dom da Premonição
Gladiador
Ecos do Além
Ilusões Pergiosas
Jogada Decisiva
A Chave Mestra
Um Sinal de Esperança
Cidade da Esperança
Alma Perdida
The Nines
Encontro Marcado
Os Olhos de Laura Mars
As Duas Vidas de Audrey Rose
O Encontro - The Gathering
Sem Medo de Viver
Alta Frequência
O Esconderijo
Os Dois Mundos de Jennie Logan
Espíritos - Believe
Tão Longe Tão Perto
Gritos do Além
Os Espíritos - The Frighteners
Segredos do Passado
Premonições
Um Espírito Atrás de Mim
A Visão - The Sight
O Fantasma de Lucy Keyes
Vivendo na Eternidade
Defending Your Life
Poder Além da Vida
Jogos Sinistros
Muito Além de Rangun
Os Inocentes
A Mão do Diabo
A Menina Santa
Luzes do Além
O Céu se Enganou
Oriundi
Protegida por um Anjo
O Jardim dos Esquecidos
A Espinha do Diabo
A Premonição
Conversando com Deus
Os Mensageiros
A Passagem
O Invisível
Um Conto de Natal
O Advogado do Diabo
Awake - Por um Fio
Evocando Espíritos
Cinco Dias Antes da Morte – Five
Os Anjos da Guarda
Os Fantasmas Se Divertem
O Violino Vermelho
O Terceiro Milagre
Joanna D'arc de Luc Besson
Papai Fantasma
Sem Limites para Sonhar
Distante para Sempre
Déjà Vu
Dona Flor e Seus Dois Maridos
Espíritos Inquietos
Assombração
Coisas Para se Fazer Quando Você Está Morto
Filha da Luz
Cocoon
O Pequeno Buda
Kundun
O Milagre Veio do Espaço
Final Fantasy
O Iluminado
Alguém Lá em Cima Gosta de Mim
A Morte Lhe Cai Bem
Alucinações do Passado
Dark Water
Navio Fantasma
Na Companhia do Medo
Mensagem do Além
O Enviado
Sete Anos no Tibet
Adorável Avarento
Poltergeist – O Fenômeno
Dogma
Feito no Céu
Antes que Termine o Dia
Já Nos Conhecemos
O Céu se Enganou
Silk - O Primeiro Espírito Capturado
As Brumas de Avalon
As Cartas de Chco Xavier e Outras Histórias
Eurípedes de Barsanulfo - Educador e Médium

INFOGRAFIA

http://www.consciencial.org/filmes.html
ttp://www.oconsolador.com.br/linkfixo/filmes/principal.html
ttp://www.illuminare.pro.br/filmes_espiritas_e_espiritualistas.htm
http://filmefantastico.blogspot.com/
http://pipocandoonline.blogspot.com/2008/07/filmes-espiritualistas-captulo-ii-os.html
http://forum.alemdosegredo.com/verTopico.php?id=1178
http://mediunidadelivre.spaceblog.com.br/248606/Filmes-tematicos-espiritualistas/

domingo, 15 de novembro de 2009

A Criação da Loucura

Uma família vive numa mansão no interior da Inglaterra.
O pai é um Lorde falido, que vive pressionado a vender a sua propriedade; a mãe está muito doente e passa os dias numa cama, dependendo de medicamentos e cuidados; o único filho sofre de deficiência mental e, como a mãe, vive a base de fortes medicamentos. O cenário para a trama do diretor Simon Rumley está criado, remontando em parte o seu drama pessoal: Simon perdeu o pai de ataque cardíaco e, pouco depois, a mãe, de cancer. Tendo ele mesmo vivido um pesadelo
familiar, numa época traumática da sua vida, escrever Distúrbio Fatal foi uma válvula de escape para seus fantasmas interiores. Originalmente, o filme fora idealizado para ser uma história surreal, pesadelíaca, além da imaginação. Mas Simon chegou ao produto final conservando os ingredientes originais para inserí-los numa realidade tangível: o inferno particular de uma família malfadada a doenças e à interprisão, num cenário de puro suspense e terror.

Quando o pai anuncia que fará uma viagem, o filho deficiente mental se vê na posição de "o homem da casa" para cuidar ele mesmo da mãe doente. Mas o pai rejeita a idéia e contrata uma enfermeira, que, mais tarde, não será aceita pelo adolescente. A impossibilidade de cuidar da mãe lhe trás culpa, rejeição, raiva, frustração e desamparo. Tentando ajudar a mãe, tudo que ele quer provar é que pode ser "o homem da casa" na ausência do pai, deixá-lo orgulhoso, ganhar definitivamente a sua confiança e ainda mostrar que sua doença não o torna um inválido, uma vez que, como tal, ele é tratado pela família. Quando enfim se vê sozinho na mansão, ele desdobra-se de atenção para cuidar da mãe acamada, mas, tendo ele abandonado seus próprios remédios, o seu estado clínico agrava-se cada vez mais, transformando a mansão em um cenário de puro terror e suspense.

O cenário narrativo mostra Distúrbio Fatal em duas partes distintas: na primeira, mais real e cotidiana, acompanhamos a agonia do filho adolescente e o calvário de sua mãe, dependente dos seus cuidados, depois que ele trancou todas as portas da mansão para que a enfermeira contratada pelo pai não pudesse entrar. Na segunda, alucinações, associações mentais patológicas, delírios, sonhos etc. se misturam para mostrar o universo da loucura por dentro, quando o adolescente entra em parafuso crônico. Os detalhes da história pessoal do doente mental são aqui mostrados, numa sequência repleta de referências psicanalíticas, necessárias para o desemaranhamento narrativo e o entendimento da história.

O que incomoda em Distúrbio Fatal é que tudo, por mais alucinógeno que possa ser para os olhos, é real. Na loucura não há fantasias. Tudo deve ser levado a sério. O filme sugere uma irrealidade que, no fundo, apenas reforça sua veracidade. Isso gera uma discussão ainda mais intensa: a relação da família com o seu doente mental. Quando o pai do adolescente não permite que ele atenda a porta da mansão, pois ele assustaria as pessoas, vemos que esses pacientes vivem numa espécie de encarceramento domiciliar. Ilda Witiuk e Rosangela Castro, em seu artigo, "Família do Portador de Transtorno Mental: Vítima ou Vilã ?," falam da difícil relação que se estabelece entre doente mental e família. Entre os resultados da pesquisa realizada pelas autoras destaquei alguns fatos importantes para o entendimento da condição em que o personagem central de Distúrbio Fatal se encontra.

(...) A efetivação do processo de desospitalização com o incentivo do Estado, a não criação de estruturas de apoio para o propcesso de desinstitucionalização do portador de transtorno mental, gerou desamparo aos doentes. A redução da responsabilidade do Estado tem acometido as famílias com a responsabilidade de provimento de cuidados ao portador de distúrbio mental (...) A família diante desta realidade de desamparo se desespera, pois a presença do doente em casa impõe exigências de cuidado e atenção emocional e material que lhes são inexistentes (...) A sociedade baseia-se no princípio de igualdade, mas é totalmente desigual. A família (...) tem passado por um acelerado procesos de empobrecimento. Este fenômeno tem cada vez mais vitimizado as famílias que não tem suas necessidades básicas atendidas, pois se veem desassistidas, com isso fragilizando os vínculos familiares cada vez mais (...) (A família de um doente mental) (...) fica fragilizada, suas relações internas e externas ficam totalmente comprometidas (...) A luta dos portadores de transtorno mental e seus familiares deve ser principalmente para que o doente mental tenha direito a ter direitos (...).

E, por último, as autoras sugerem (...), é de suma importância eliminarmos o preconceito e buscarmos a garantia dos direitos dos portadores de transtorno mental e sua inclusão nas políticas públicas de uma maneira mais efetiva (...) Ou seja, menos preconceito e mais ação e assistência. Uma última palavra fica para o excelente casting, com um trio de atores cujas atuações soberbas seguramente jamais cairão no esquecimento. Wow! Bravo !

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Grey Gardens - O Documentário

No ano de 1973, um escândalo ocupou as manchetes dos jornais americanos. Autoridades locais de East Hampton, uma área residencial nobre no estado de Nova Iorque, tentaram expulsar mãe e filha de uma mansão decadente do balneário de luxo, alegando falta de condições sanitárias. Isso tudo pode acontecer por inúmeras razões, mas, neste caso, mãe e filha se tratavam das ex-socialites Edith Bouvier Beale e sua filha Edie, outrora pertencentes ao crème de la crème da sociedade novaiorquina. Não apenas este fato inflamava as notícias nos jornais, mas, sobretudo, por elas serem, respectivamente, tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis.

A vida intrigante e pertubadoramente interessante de Edith Bouvier Beale e sua filha Edie foi inicialmente tema do polêmico documentário dos irmãos Albert e David Maysles, "Grey Gardens," lançado em1975. Inovadores da técnica do "cinema direto," os irmãos aportaram na mansão de East Hampton com uma camera e um microfone nas mãos e algumas ideias na cabeça. O resultado produziu um compêndio de excentricidades, protagonizado por duas mulheres, cujos diálogos deixariam perplexos Tenesse Williams e Euguene O'Neil. Mas, Grey Gardens mostra muito mais do que isso. O documentário foi feito dois anos depois da reforma da casa, realizada por Jacqueline K. Onassis, mas ainda é possível sentir a presença do abandono, do descaso, do autoflagelo humano e da imundície na qual Big Edie e Little Edie, como eram conhecidas, mergulharam nos últimos 20 anos de convivência na mansão.

O documentário é pertubador na medida em que gera reflexões inevitáveis, pois registra uma natureza humana não muito comum, totalmente incoerente e ilógica. Como duas mulheres outrora frequentadoras da alta sociedade nova iorquina puderam cair num isolamento tão intenso e num auto-abandono tão profundo ? Como uma mulher linda e rica na juventude não conseguiu um casamento, se este era um valor almejado de Little Edie ? Em linha geral fica difícil entender, mas, vendo o documentário conseguimos algumas dicas. A relação mãe e filha sofre da síndrome da ectopia afetiva e retroalimenta uma interprisão grupocármica difícil de anistiar. Ambas têm fortes tendências autofágicas, tanto pelo autoesquecimento quanto pelo autoflagelo em que as duas vivem submersas e dependentes. Há uma mistura de lucidez temporária e loucura quase permanente nas cenas em que aparecem entulhadas sobre as camas, com outras mil traquitandas, em meio à desordem do ambiente, que poderia muito bem ilustrar a desordem interior da vida daquelas duas ex-personagens da aristocracia americana dos anos 30 e 40.

Big Edie, a mãe, cantava. Little Edie, a filha, tinha sido modelo e tentado ser atriz. Ao serem filmadas pelos Irmãos Maisley, o que elas revelaram não era tanto seu comportamento cotidiano, mas as suas interpretações artísticas frustradas no passado. Os Maisley ilustram bem isso ao abusar da imagem da bela pintura a óleo de Big Edie, na qual ela aparece como uma jovem de beleza ímpar, e que, no momento do filme, estava jogado em um canto do quarto, servindo como esconderijo para os gatos fazerem cocô e xixi.

Do lado de fora da mansão, o abandono não é menos pronunciado. Composta por grandes jardins e um velho casarão, a mansão estava tomada por lixo, detritos, gatos pestilentos, guaxinis e pulgas. Isoladas de tudo e de quase todos, eram incapazes de sustentar as necessidades de manutenção do casarão e deixavam a velha mansão ruir à sua volta, enquanto viviam em condições precárias. Os dois lados da moeda da vida dessas duas personagens, no sentido mais amplo da palavra, convivem no mesmo cômodo: ao mesmo tempo em que vemos a deteriorização generalizada em que as duas se meteram, testemunhamos um esforço consciente de recriar uma certa aura de glamour sobre si mesmas. Essa contraposição entre esse senso de estilo anacrônico e o evidente esquecimento em que se tornou Grey Gardens gera o verdadeiro drama do filme e torna chocante a situação das Bouvier.

Depois do sucesso de Gimme Shelter, documentário que registrou a passagem da banda inglesa Rolling Stones pelo Estados Unidos anos antes, os irmãos Maisles conseguiram com Grey Gardens semelhante aclamação crítica universal, por expôr não só a estranha e dramática existência das Bouvier, mas a própria natureza dos documentários - dentro do estilo cine-verdade. Mas, por outro lado, o filme gerou uma polêmica helênica: a exposição das personagens reais foi vista como ato de desrespeito pelos críticos mais moralistas. Além disso, acusaram os diretores de exibir as mulheres sem os retoques de beleza necessários e imprescindíveis à qualquer beldade que aparecesse na grande tela naquela época.

Numa das cenas finais, Little Edie tem uma longa discussão com a mãe, finalmente confrontando as bases da relação, o que acarretou na malfadada existência de Grey Gardens. Enquanto Little Edie responsabiliza a mãe por tê-la obrigado a ficar na casa e afastado dela todos os pretendentes que teve quando jovem, ela olha para o lado e a câmera corta para um quadro na parede, com a imagem de Little Edie ainda adolescente, bela e com um futuro brilhante. Ao voltar para a envelhecida e ressentida senhora Edie, sempre coberta por véus que escondem sua falta de cabelo, o espectador não pode resistir a associar inconscientemente a cena a uma ideia geral de perda. Perda da juventude, da beleza, de um universo de possibilidades. Esta é apenas mais uma das cenas de compadecimento por uma consciência frágil, débil, perdida, manipulável, carente... intrerpesa com uma mãe igualmente frágil, débil, perdida, manipulável, carente e... intrerpesa. Este é um caso inesquecível de duas mulheres que nasceram para uma vida em comum, longe de quase tudo e quase todos, até que a interprisão as separe.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Grey Gardens - O Filme

Grey Gardens, o fime, foi produzido pela HBO em 2008 e lançado na televisão em abril deste ano, com Jessica Lange e Drew Barrymore nos papéis principais de mãe e filha respectivamente. O DVD da região 1 (América do Norte - a nossa é a região 4) saiu por aqui nas locadoras, mas é possível comprá-lo em algumas lojas online.

Naturalmente, o documentário poderia ser suficiente ao espectador, pois se trata de um documento-verdade clássico e sério. Mas, o filme ganha importância na medida em que aborda a fase do glamour das Beale, nos anos 30, e conta toda a trajetória até a fase decadente do lixo e do esquecimento, revelando como aconteceu a incompreensivel curva pessoal-social descendente de ambas as Beale. Isso não está, e nem poderia, no documentário. Esse talvez seja um dos raros casos em que um filme é necessário depois que um documentário sobre o tema foi feito. Da fase em que eram personalidades até se tornarem personagens há um período de 40 anos, mas a fase crítica começa mais especificamente com a morte do pai de Little Edie, de quem sua mãe estava divorciada. Foi então que começaram os altos e baixos financeiros, emocionais, afetivos, as carências seculares e a interprisão entre as duas se consolidou.

No filme sabemos que Big Edie teve dois outros filhos, cujos nomes não são mencionados por ela no documentário. Na faixa comentada no documentário, uma das produtoras explica que a relação entre ela e os filhos nunca foi próxima e, com o isolamento com a filha em Grey Gardens, ela simplesmente os apagou da memória. Eles tampouco tentaram qualquer aproximação no período das filmagens. Viviam no sul dos Estados Unidos na época em que a mãe e a irmã eram assuntos nos jornais de Nova Iorque.

Outro ponto alto do filme é a atuação de Jessica Lange e Drew Barrymore, ambas aclamadas e presentes no Globo de Ouro deste ano. A maquiagem para mostrar o envelhecimento ao longo de 4 décadas de história também é algo notável. Fernanda Torres, no documentário de Eduardo Coutinho, Jogo de Cena, diz que representar um personagem real é bem mais difícil do que um fictício, e por boas razões ela reconhece isso. Quando se tem um modelo vivo, qualquer representação parece aquém da realidade. Mas, a adapatação para as telas de Big e Little Edie é um show a parte. Drew Barrymore encarna a socialite de corpo, alma e voz - a entonação pitoresca e inesquecível de Little Edie ganha vida extra na voz de Drew. Impressionante. Assim como o é no aspecto visual. A mesma qualidade encontramos no trabalho de Jessica Lange, que também canta com ótima voz, como a personagem real. Bravo!

O filme completa o documentário dos irmãos Maisles. Vale a pena ver as duas obras para tentar entender, talvez em vão, alguns enigmas da natureza humana os quais norteiam a vida dessas duas mulheres incríveis.