Bem-vindos ao Cinema & Consciência, um novo espaço para a difusão e a discussão do cinema brasileiro e internacional. Vamos falar de filmes ou documentários, discutir ética e estética do cinema, com enfoque nas pessoas, nos temas e nos fatos. Os comentários dos visitantes serão sempre bem-vindos.

Todos os textos neste blog são de autoria de Mário Luna, salvo aqueles em que a fonte for mencionada.
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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Para Se Chegar a Paz é Preciso Entender a Violência


O drama da sobrevivência expõe a fraqueza do ser humano diante de um sistema irreversivelmente cruel, mais propenso a exterminar as suas próprias aberrações do que assumí-las e reeducá-las. O cineasta francês Gaspar Noé entende do assunto e nos oferece essa pequena amostra de cinema sério e maduro, que não apenas visa revelar o lado sórdido da violência humana, mas denunciar as razões que a reproduz. Após o filme, uma longa reflexão: nada me parece mais sensato do que pensar a paz como produto da compreensão da violência. Assim, descartamos a intolerância e chegamos de fato à pacificação íntima através de uma assistência reconciliatória.

Mas nada é fácil para o personagem central neste universo sórdido criado por Noé em Sozinho Contra Todos. O desemprego, a falta de oportunidades, a crise pessoal, a difícil relação com a filha, a solidão, os conflitos interpessoais, o fracasso conjugal, a falência recorrente da família. Isto é, o personagem central inverte sua evolução numa seqüência de fracassos pessoais desnorteadores de qualquer direção construtiva de vida. E o que parece mais assustador é saber o quanto tais fatos atormentam muitos nos dias de hoje. O filme está bem mais próximo da realidade do que podemos supor e ilustra um sistema social elitista, seletivo, competitivo e discriminador na luta tanto pelo poder quanto pela sobrevivência. É aqui que retomamos a questão da paz. Pode haver paz sensata num sistema social de desigualdades e injustiças sociais ? Na medidade em que a paz designa um estado de espírito isento de ira, desconfiança e de um modo geral surge destituído de todos os sentimentos negativos, a paz é um princípio de ordem pessoal, que, sem a compreensão da violência, não existe de fato.

Compreender a violência não é ser condescendente com ela, mas uma maneira de contê-la, com um olhar sério e investigativo nas raízes sociais que a produzem: desigualdade, exclusão, falta de oportunidades no mercado de trabalho, falência familiar, racismo, discriminação, ausência de escola e formação profissional etc. A violência não surge apenas como conseqüência de índoles patológicas, mas também como alternativa de sobrevivência, sobretudo se olhamos as populações de jovens das favelas e a busca de meio de vida no tráfico.
Em Sozinho Contra Todos vemos um homem, ex-açougueiro, repleto de desqualidades (violento, racista, xenofóbico, homofóbico etc.), que cumpriu pena recentemente pela morte de um suposto estuprador da filha e que agora luta pela sobrevivência tentando conseguir um emprego. Sua luta por uma recolocação social esbarra numa esposa controladora, que detém o poder do dinheiro na casa, e histérica de ciúmes, além de ter pela frente uma recessão e as vicissitudes de suas próprias desqualidades. Tudo isso, aos poucos, vai levando-o ao declínio total. Gaspar Noé acompanha esse declínio passo a passo e mesmo com toda a agressividade que seu filme mostra é possível vislumbrar as razões pelas quais os limites humanos, quando ultrapassados, instigam o lado primitivo da consciência, estimulando as índoles mais patologicamente comprometidas.



quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Você Já Teve Alguma Vivência Parapsíquica ?

Com esta pergunta surgiu a idéia do documentário Homo Sapiens Parapsychicus, uma obra engajada em mostrar que o parapsiquismo, isto é, a comunicação entre as dimensões intra e extrafísica, é muito mais comum do que podemos imaginar. Cabe apenas ao ser humano compreender a sua própria parafisiologia e conhecer suas faculdades paranormais, tendo a quebra de tabús e a desmistificação do processo parapsíquico como os principais obstáculos a serem vencidos.

Antes mesmo de entender a natureza parapsíquica do ser humano, é preciso conhecer a constituição energética do universo em que vivemos. Para isso, recomendo o filme "Quem Somos Nós." O entendimento da realidade energética, em meio a qual nossas ações se desenvolvem, é um passo fundamental para entender que a comunicação entre as realidades física e extrafísica não diz respeito apenas aos ditos seres paranormais ou faz parte tão somente das habilidades exploradas pelas correntes místicas dogmáticas.

Embora pareça transceder a base de conhecimento estabelecida pela ciência convencional, o fenômeno parasíquico é uma faculdade natural, comum a todos e faz parte da parafisiologia humana. Ainda que extremamente controvertidos, os fenômenos parapsíquicos têm sido extensamente relatados pelos mais diversos povos e culturas ao longo da história. Segundo a opinião média da comunidade científica, a existência de tais fenômenos não foi comprovada por nenhum experimento rigorosamente controlado e passível de reverificação. De igual modo, a inexistência dos fenômenos parapsíquicos também não foi comprovada por quaisquer meios (Wikipedia). São exemplos de fenômenos parapsíquicos: telepatia, telecinésia, clarividência, premonição (precognição), retrocognição, materialização, experiência fora do corpo, psicofonia, psicografia, catalepsia projetiva entre muitos outros.

Durante as primeiras pesquisas realizadas com aproximadamente 90 pessoas de procedências, classes, faixas etárias e níveis de educação os mais variados possíveis, percebi que o resultado de 83% de confirmação da experiência paranormal mostrava sinal de que o documentário ganhava definitivamente uma boa razão para ser produzido. Entre os que disseram nunca terem tido qualquer vivência paranormal, uma parte afirmou que conheciam alguém que já havia experimentado alguma experiência parapsíquica (amigos, parentes próximos ou distantes), restando aos 100% céticos um percentual significantemente minoritário. Como professor, a pesquisa foi realizada com meus alunos, no escopo de complexidade de tipos já mencionado acima, e encontra-se hoje ainda em andamento.

O documentário pretende apresentar uma compilação de entrevistas não apenas com transeuntes nas ruas do Rio de Janeiro, mas também com pesquisadores em bioenergias, psicólogos, psiquiatras, assim como com pessoas comuns, alunos e amigos, interessados no tema, que se disponibilizaram para gravar entrevistas narrando seus casos. Considero "pessoas comuns" aquelas que não têm reconhecidamente experiências freqüentes na comunicação parapsíquica e que não são consideradas paranormais. O trabalho tem como objetivo justamente analisar o parapsiquismo na vivência diária, fora do eixo das experiências daqueles considerados paranormais, com enfoque no pressuposto de que o ser humano é parasíquico por natureza e que os eventos paranormais não trazem (ou pelo menos não devem trazer) qualquer classificação mística, religiosa, esotérica ou sobrenatural.

Aqueles que podem contribuir com suas experiências pessoas para o conteúdo deste documentário podem lançar aqui seu comentário ou enviar e-mails diretamente para mim: marioluizdesa@yahoo.com.br

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Educação no Cinema I

Muitos filmes falam do processo educativo escolar, retratam a realidade das salas de aula, o papel socializador das escolas e a função do professor, reunindo um rico escopo de informação e experiências da realidade pedagógica que em muito pode servir como referência a docentes e dicentes. Nesta série de três volumes, recomendo alguns títulos.

"Coach Carter" conta a história real e inspiradora de um treinador que decide mostrar os diversos aspectos dos valores de uma vida ao suspender seu time campeão por causa do desempenho acadêmico dos atletas. Assim, Ken Carter recebe elogios e críticas, além de muita pressão para levar o time de volta às quadras. É então que ele deve superar os obstáculos de seu ambiente e mostrar aos jovens um futuro que vai além das gangues, das prisões e até mesmo do basquete.

"Eu sou um mendigo. Mas… Eu sou um mendigo em Harvard", diz Simon Wilder, que vive pelos seus próprios recursos naquele campus. Lá ele encontra o veterano Monty Kessler (Brendan Fraser), que não teria nada a ver com o sem teto se não fosse por uma coisa: Simon tem a única cópia de tese final de Monty! Ele a devolverá por comida, um lugar para ficar e mais: uma página - por um favor - por vez. Uma nova vida está começnaod para Monty e seus colegas de dormitório (Moira Kelly, Patrick Dempsey, Josh Hamilton). Eles estão prestes a aprender que se você quer uma graduação, vá para Harvard. Se você quer aprender algo sobre a vida, veja "Com Mérito."

"Ana e O Rei" se passa em 1862. Anna Owens é uma jovem viúva inglesa que, tendo um filho para criar, aceita trabalhar como professora das crianças da família real do Sião. Quando chega a Bangcoc o choque cultural é imediato. Aos poucos ela obtém o respeito do rei, se tornando sua confidente e conselheira diplomática.

O objetivo deste trabalho é analisar as ações pedagógicas, sociais e culturais no filme "Conrack," produzido em 1974 com direção de Martin Ritt. A análise será feita com foco em três personagens principais, que são: Pat Conroy (o professor, representado por Jon Voight), Sra. Scott (a diretora, representada por Madge Sinclair) e Sr. Skeffington (o superintendente, representado por Hume Cronyn). Além disso, também será feita uma abordagem em relação aos alunos da escola.

Pat Conray é um professor branco que passou boa parte de sua vida como racista. Tem a oportunidade de redimir-se, ensinando crianças negras em uma ilha em que essa raça é a predominante. Em sua primeira aula, depara-se com alunos que não sabem absolutamente nada, que desenvolveram sua própria linguagem e cujos recursos pedagógicos utilizados até então eram baseados em castigos físicos e psicológicos.

"Duelo de Titãs" mostra um destes temas já tantas vezes visto no cinema: refere-se à luta racial entre brancos e afro-americanos, comum em estados mais conservadores dos Estados Unidos. A produção da Disney não traz novidades, mas comove o espectador, principalmente por tratar-se de uma história verídica, ocorrida no estado da Virgínia. O filme se passa na cidade de Alexandria, em 1971. O futebol americano colegial era tudo para o povo da cidade. Quando a diretora da escola local é forçada a integrar um time de uma escola de afro-americanos com um time de uma escola de brancos, a tradição do futebol sofre com ameaças de preconceito e racismo. Os dois treinadores não só transformam um grupo de garotos raivosos e desconhecidos em um time dinâmico e vencedor, como também os tornam homens dedicados e responsáveis, mudabndo o paradigma vigente. É a união que faz com que a cidade deixe d elado o preconceito e a intolerância, levando o time ao triunfo.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Clara Vidência

A idéia de ver espíritos ainda é vista por um prisma fantasmagórico e atormentador, e não é para menos. Educados em bases religiosas, alvejados por filmes de terror engajados em assombrar e atormentados pelo medo de almas penadas e monstros embaixo da nossa cama, não dá para simplesmente girar um botão da nossa mente e deixar todos esses imaginários de pesadelo para trás. De um simples contar de histórias mal assombradas entre amigos tarde da noite até assistir grandes produções do cinema americano, a cultura do medo do além nos afasta da compreensão do lugar onde viemos e para onde vamos e nos isola em apenas um lado da realidade em que vivemos. O filme dos irmãos Pang fala sobre Clarividência - a habilidade de ver o que há em outras dimensões conscienciais - de maneira lógica e coerente, com um roteiro limpo e uma direção sóbria, sem deixar nada fora do lugar. O tipo de filme o qual pode perfeitamente nos mostrar as implicações intrafísicas das relações multidimensionais. Olhe para a capa do filme sem preconceitos e se dê o benefício da dúvida. Go ahead!

Que coragem para ver espíritos pode sobreviver à uma educação re
ligiosa de inferno, pecados, almas penadas, demônios, castigos, purgatório, satanás, e também aos filmes de terror sobre fantasmas sanguinolentos, monstros, assombrações, visões do além, ocultismos os mais variados, pesadelos alucinatórios e torturas macabras ? A lista de geradores do medo pode ser bem maior se incluirmos os fatores psicológicos criados pelo preconceito, que os paranormais enfrentam ao serem considerados "estranhos" e não raramente "mentirosos," "fantasiosos" e "alucinados." O medo coletivo do mundo intangível permanece retroalimentado através de uma cultura religiosa-materialista-histórica difícil de se lidar na contramão, sem uma boa dose de convicção íntima sobre a própria experiência, autoconhecimento e coragem para evoluir.

Mas o que é a clarividência, que todos os seres humanos possuem em algum nível, e sobre a qual nos sentimos vulneráveis e passíveis, quando não controlada ? O dom, como muitos preferem considerar, é, na verdade, uma faculdade humana parapsíquica, que habilita ou condiciona a percepção visual do ambiente multidimensional ou dimensão energética. Ou seja, a clarividência é a percepção da realidade num nível mais amplo e complexo, que ocorre mais frequentemente aos mais condicionados a ver através dos para-olhos. Isto porque os olhos humanos não possuem constituição adaptável à captação de imagens em níveis muito sutís, energéticos, não materiais. Os para-olhos são os nossos olhos extrafísicos, olhos do popularmente conhecido espírito, através dos quais enxergaremos após a morte física. Portanto, para vermos com os nossos para-olhos é preciso uma minidescoincidência dos nossos veículos de manifestação, um leve desprendimento da fisicalidade, que geralmente ocorre quando estamos relaxados, em meditação ou em transe, como os espíritas costumam chamar. A visão humana dos olhos conecta-se a dos para-olhos por meio de uma descoincidência natural e pontual, captando a imagem extrafísica.

Se estamos ou não preparados para uma comunicação interdimensional efetiva e freqüente só nosso condicionamento físico pode responder. A preparação mental-emocional para a visualização de imagens extrafísicas pode ser analisada através da forma como captamos e lidamos com as imagens intrafísicas. Isto é, a maneira como eu lido com a realidade material irá mostrar o meu preparo (ou despreparo) para lidar com as imagens da realidade espiritual. Não somos duas pessoas completamente diferentes em dimensões distintas. Nossos sistemas psico-emocionais íntimos são únicos e transparentes em algum nível . O mais importante, entretanto, na clarividência não reside naquilo que podemos ver, mas no que podemos fazer com o que vemos, ou seja, na forma como interpetamos a imagem e lidamos com ela mostrará se o contato foi ou não interessante e assistencial para as consciências envolvidas. Nesse aspecto, The Eye - A Herança nos mostra uma história coerente e lógica, contada de forma orgânica pelos irmão Pang. Lúcidos para o processo multidimensional, eles não estão apenas interessados em assustar. A realidade em si já possui elementos interessantes e intrigantes o suficiente para tomarmos susto com ela. Qualquer coisa além disso fica apelativo. The Eye - A Herança é um filme sobre clarividência na medida certa, onde tudo na tela é de fato possível (apesar de inacreditável).

Em muitas discussões sobre doação de órgãos e cremações ouvimos que o desejo para tais procedimentos post mortem deve ser do doador, ainda em vida, expressado em documento assinado por ele. Isso irá, sobretudo, ajudar a consciência recém dessomada, ou falecida, a não ter vínculo materialista patológico com o próprio corpo. Essa consciência deve estar preparada para a doação. Isso significa ver seus órgãos em uma outra pessoa ou entender que o corpo em processo de cremação foi apenas o invólucro físico o qual ela utilizou em vida e que, a partir da sua morte física, não mais lhe servirá e pertencerá a uma outra pessoa. Quando não há esse entendimento, baseado numa formação espiritual, é comum haver casos de assédio do doador aquele a quem seus órgãos foram doados (por mais incrível que isso pareça). Em The Eye - A Herança esse problema é produzido pelo suicídio da doadora.

O filme conta a história de uma garota cega desde os dois anos de idade, que recebe um transplante de córnea. Contudo, além da visão das pessoas comuns, ela também herda o dom da clarividência. Mas essa habilidade não lhe cai bem. Embora demonstre uma certa maturidade oriental na questão espiritual, ela sofre com o processo e parte em busca de solução, ou cura. Burlando a ética médica, ela recebe o endereço do doador - uma adolescente tailandesa - e descobre então a razão dos seus tormentos. Os irmãos Danny e Oxide Pang possuem talento para o drama-suspense e merecem uma referência especial no gênenro por terem feito um filme com coerência e lucidez para os processos espirituais, evitando a natural inclinação para o susto gratuito.