
O drama da sobrevivência expõe a fraqueza do ser humano diante de um sistema irreversivelmente cruel, mais propenso a exterminar as suas próprias aberrações do que assumí-las e reeducá-las. O cineasta francês Gaspar Noé entende do assunto e nos oferece essa pequena amostra de cinema sério e maduro, que não apenas visa revelar o lado sórdido da violência humana, mas denunciar as razões que a reproduz. Após o filme, uma longa reflexão: nada me parece mais sensato do que pensar a paz como produto da compreensão da violência. Assim, descartamos a intolerância e chegamos de fato à pacificação íntima através de uma assistência reconciliatória.
Mas nada é fácil para o personagem central neste universo sórdido criado por Noé em Sozinho Contra Todos. O desemprego, a falta de oportunidades, a crise pessoal, a difícil relação com a filha, a solidão, os conflitos interpessoais, o fracasso conjugal, a falência recorrente da família. Isto é, o personagem central inverte sua evolução numa seqüência de fracassos pessoais desnorteadores de qualquer direção construtiva de vida. E o que parece mais assustador é saber o quanto tais fatos atormentam muitos nos dias de hoje. O filme está bem mais próximo da realidade do que podemos supor e ilustra um sistema social elitista, seletivo, competitivo e discriminador na luta tanto pelo poder quanto pela sobrevivência. É aqui que retomamos a questão da paz. Pode haver paz sensata num sistema social de desigualdades e injustiças sociais ? Na medidade em que a paz designa um estado de espírito isento de ira, desconfiança e de um modo geral surge destituído de todos os sentimentos negativos, a paz é um princípio de ordem pessoal, que, sem a compreensão da violência, não existe de fato.



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