Bem-vindos ao Cinema & Consciência, um novo espaço para a difusão e a discussão do cinema brasileiro e internacional. Vamos falar de filmes ou documentários, discutir ética e estética do cinema, com enfoque nas pessoas, nos temas e nos fatos. Os comentários dos visitantes serão sempre bem-vindos.

Todos os textos neste blog são de autoria de Mário Luna, salvo aqueles em que a fonte for mencionada.
Críticas construtivas e sugestões em geral, envie e-mail para este blogger: cinemaconsciencia@gmail.com

"Não acredite em nada que ler ou ouvir neste blog. Reflita. Tenha as suas próprias opiniões e conclusões"





sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Realidades em Loop

A tênue linha entre projeção da consciência e sonho ou alucinação é uma intrigante questão só resolvida por meio do discernimento de quem passa pela experiência. E aqui vale aplicar o princípio da descrença. Em Danika, filme de Ariel Vromen, essa linha é mostrada de uma maneira quase hipnótica entre realidade e suposta fantasia, obrigando o espectador a refletir sobre suas próprias convicções a respeito do tema para solucionar o embróglio final.

A experiência projetiva, isto é, a saída do corpo físico, com restrita ou ampla lucidez, promovida pela consciência em seus veículos energéticos, é um fenômeno subjetivo, próprio da realidade do experimentador e fruto do seu parapsiquismo. Para muitos, a projeção consciente ainda é um caso para místicos e religiosos do oriente, muito embora recentes estudos e pesquisas, realizados por institutos científicos e conduzidos por médicos e cientistas, ofereçam hoje algo mais do que um punhado de crenças em que acreditar. Tais estudos são deveras importante. O mais simples conhecimento do assunto pode ser o ponto de partida para que a informação sobre o fenômeno esclareça um número cada vez maior de pessoas, que ainda temem a experiência por pura ignorância no assunto.

O filme Danika é, na verdade, uma viagem ao universo intraconsciencial de uma mulher casada e mãe de três filhos. As suas supostas alucinações começam após um acidente em que um mendigo se choca contra o seu carro - a senha do plot. O seu drama funciona também como um laboratório para seu parapsiquismo descontrolado. Mas as conexões dos parafatos em choque com a realidade física mostram não apenas que suas vivências estão longe de ser alucinógenas, como a evidência de que a realidade energética é parte integrante da realidade física. Sem a variável multidimensional, não é difícil nos surpreendermos com o que experimentamos no dia-a-dia. Em meio a tantas experiências limítrofes, isso é exatamente o que acontece com Danika, que, por falta de explicações sensatas, acha que está ficando louca.

Em uma das primeiras cenas do filme, Danika presencia um assalto ao banco em que trabalha. A violência do evento, em que muitos clientes e funcionários morrem pelas mãos do bandido, a deixa apavorada. Ela procura abrigo numa das salas do banco e se esconde do bandido. Contudo, pouco depois, a sala é invadida pelo criminoso, mas ao ser descoberta agachada debaixo de uma mesa, Danika recupera a lucidez e reconhece a sua chefe, agachada à sua frente, lhe perguntando se tudo está bem. Danika olha para o salão principal do banco e a agência está funcionando normalmente. O assalto foi uma alucinação ou uma projeção premonitória? Essa é uma questão que se repete em praticamente todo o filme.

 As alucinações continuam sem que Danika tenha uma explicação para elas. Aos poucos, elas vão tomando conta do seu cotidiano e afetando sua família. No jogo de fazer o real se confundir com a fantasia, o roteiro faz questão de esclarecer que Danika também tem visões premonitórias, que são reais. Ela assiste a morte de uma das professoras da filha, com quem descobre ter uma espécie de ligação atemporal, em algum ponto de sua teia multidimensional. Aqui há um bom sinal de que as alucinações são visões do seu mundo intraconsciencial em loop e clamando por reciclagens e reconciliações irremediáveis, num daqueles momentos da vida em que o nosso trem se descarrilha a fim de nos obrigar a enfrentar as mudanças necessárias. E ao choque de cada uma delas, Danika vive em crise o calvário dos acontecimentos que assolapa seus dias e lhe empurra para novos recomeços.

Na última parte do filme, Danika passa a viver, constantemente, os efeitos das suas alucinações ou projeções. Seu loop em parafuso se acentua na medida em que os parafatos se tornam indissociáveis à realidade física e sua vida se transforma num grande ponto de interrogação. Danika gera no espectador não apenas a inquietude da desconfiança sobre o que é verdade e o que não é, ou mesmo sobre o mito da crença e a convicção da verdade (relativa de ponta), como também coloca a questão da intraconsciencialidade, isto é, o universo interior, como ponto central de todos medos e proezas. Se a nossa realidade física é fruto de nossas projeções conscientes e relações interdimensionais ou alucinações só nós mesmos podemos dizer. Talvez o filme revele muito mais do que há escrito aqui. Mas cabe a você descobrir.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma Difícil Formalidade

O Mensageiro fala sobre a morte para os que ficam, para os que a comunicam, para os que a recebem como notícia, para aqueles que acham que a superaram e para aqueles que a superaram e não sabem. Dentro de uma realidade rotineira americana nos último anos, o filme aborda o momento em que o Estado, seguindo sempre um protocolo rígido, frio e impessoal, notifica formalmente as baixas da Guerra do Iraque às famílias de ex-combatentes. 

O filme apresenta um roteiro bem escrito, estruturado, simples e que vai direto ao seu propósito. Além disso, a estória em si oferece uma série de possibilidades para tornar o drama bem sucedido, pois o tema é profundo, atual e próximo da realidade de qualquer um, pois lidamos sempre com a ameaça de uma perda na família. Este filme não é, entretanto, sobre a morte para aqueles que se vão, mas para aqueles que ficam e o duro trabalho da sua notificação é feito por dois soldados designados exclusivamente para isso. É interessante observar, entretanto, a luta que ambos travam contra uma assimilação simpática (envolvimento promovido por uma ligação energética, a qual, caso seja de caráter negativo, envolve emocionalismo) quase inevitável.


O drama que os soldados enfrentam no dia-a-dia, com essa tarefa, mostra a difícil responsabilidade de se lidar com a dor do outro, sem que haja qualquer envolvimento emocional. O protocolo é feito de uma maneira tão rígida e disciplinada que os soldados são psicologicamente preparados para não ouvir choros, gritos, histerismos, nem sentir na pele reações as mais agressivas, desde xingamentos e impropérios contra o Estado até ataques físicos dos familiares. A carapaça dura dos soldados para desempenhar a função (de saco de pancada) vai aos poucos amolecendo e a fortaleza emocional não suporta a pressão até ruir diante do doloroso destino daquelas famílias.


Um dos soldados ainda sente na pele os efeitos da guerra. Ele mesmo é atormentado pelos fantasmas que trouxe do Iraque, de onde voltou com ferimentos na perna e no olho esquerdo, Sem permissão para voltar à ação, ele agora tem de se contentar com esse pesaroso trabalho.  O soldado que se tornou seu parceiro foi quem o treinou e o introduziu na função. Os dois têm temperamentos completamente diferentes e se espezinham no começo da parceria, pois o veterano no cargo é, aparentemente, menos emocionalmente vulneravel do que o seu pupilo, mas uma proximação (inevitável) acontece nos solavancos das notícias de morte. O interessante é ver que, embora um dos soldados seja claramente mais emocionalmente vulnerável,  a dureza do outro não terá vida longa, pois ele não consegue resisitir ao desalinho das suas próprias emoções diante daqueles fatos.



Na lista de famílias que recebem a notícia, há uma jovem esposa de um combatente e seu filho. Ela depois revela a sua dependência emocional com o marido morto, uma interprisão que a fez resisitir aos arroubos de um homem violento em casa e que dizia preferir ir à guerra, pois não sabia viver em família. No variado leque de personagens marcados para o sofrimento da perda, há uma mulher casada que passou a viver com outro homem antes mesmo de saber se o marido havia morrido. De modo que a notícia de que ela era casada chegou para o novo parceiro junto com a de morte do seu marido - diga-se aqui, uma cena extremamente bem dirigida. Nesse leque, inevitavelmente, um dos soldados se envolve afetivamente com a viúva do ex-marido violento. Os dois são atraídos pelas circunstâncias pesarosas, mas há sentimento na relação. Ele passa a acompanhá-la, faz visitas e tentar promover uma aproximação com o filho dela. Suas tentativas são sinceras e coerentes com a inteção de começar uma relação a dois. Ela aos poucos cede aos seus encantos e à sua obstinação, até que ambos decidem assumir uma atração mútua e reconstrutiva. 

O filme é forte, com um texto afiado e uma dupla de protagonistas que merece respeito. Mas quando o roteiro muda para entrar na segunda parte, a qual explora a realidade emocional dos protagonistas, o ritmo cai um pouco e narrativa fica lenta (para os amantes de filmes europeus, isso não chega a ser um problema), embora muitos colóquios sejam magistrais, como a conversa que os dois soldados têm na cozinha da casa de um deles, onde o veterano ouve do parceiro uma de suas proezas na guerra, a de salvar um companheiro numa de muitas batalhas urbanas. Nesse momento, vemos a fortaleza do veterano ruir de vez, a casa cair e o balde ser chutado. Ninguém é, absolutamente, de ferro.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Insustentável Leveza da Invisibilidade

EQM - Experiência de quase-morte é a projeção involuntária, forçada, que ocorre em casos de morte clínica, doenças terminais ou acidentes, em que o paciente ou acidentado se vê fora do corpo, acessa outras dimensões e, depois, retorna ao corpo. Em inglês, é conhecido por Near-Death Experience (NDE). Pode significar um sinal para a retomada de tarefas importantes e também desencadear uma série de reciclagens dos pensamentos, sentimentos e energias (www.iipc.org).  

O filme O Invisível, do diretor David Goyer e do mesmo estúdio que produziu O Sexto Sentido, fala de EQM de uma maneira bastante didática e apresenta uma estória com princípios cosmo-éticos baseados na reconcialiação. Para muitos, O Invisível se trata de um thriller sobrenatural. Mas desde os estudos do médico norte-americano, Raymond Moody Jr., Ph.D., nos anos 70, a EQM deixou de ser uma coisa do outro mundo para se tornar um assunto cujas novas descobertas se renovam a cada ano. Originalmente, O Invisível foi levado às telas como drama por Mats Wahl, baseado no romance homônimo de Den Osynlige, adaptado agora por Goyer para a realidade das bilheterias americanas. O melhor do filme, entetanto, permaneceu intocável pelo diretor americano, que se limitou a alterar o final. Alguns críticos chegam a afirmar que a versão americana perdeu a seriedade do original. Como gostei muito da versão acessível de Goyer e não consegui encontrar a versão alemã, fica a sugestão para a versão americana disponível.

O Invisível conta a estória de Nick, um jovem com um futuro brilhante, que após tomar uma surra de uns malandros rivais da escola, permanece dias em coma jogado em algum lugar da floresta e dado como morto. Enquanto isso, ele vaga pelos lugares de rotina e assiste o mundo na sua ausência. A confusão mental natural de quem se encontra repentinamente numa outra dimensão e a representação da forma pensamento são bastante fiéis à realidade das pesquisas e um dos pontos altos do filme em termos de fenomenologia. Como Nick, na verdade, está em coma, a solução do problema toma proporções de uma urgência desesperada, pois ele não resisitiria muito tempo largado no fundo de uma vala.

Na sua peregrinação no além, Nick tenta como pode interferir naqueles que ficaram no aquém, para que encontrem uma solução capaz de salvá-lo. A sua morte, entretanto, provoca uma série de reciclagens naqueles com quem ele convivia, inclusive na sua arqui-rival, uma garota dark punk da escola, agressiva como um visigodo, mas frágil e vulnerável pelo desprezo com que a sua família a tratava. A mãe de Nick também acorda para a vida na falta do filho. Tomada pelo trabalho, ela não tinha o hábito de olhar à sua volta e enxergar as necessidades dele, o que só ocorre, claro, com a ausência em casa. Quando cai em si, ela passa por uma reciclagem dolorosa.

Em 1975, Raymond Moody Jr., Ph.D., trouxe ao conhecimento do grande público, uma coletânea de relatos sobre EQM - Experiência de Quase Morte, através de sua obra Vida Depois da Vida, que teria ainda duas continuações, dado o sucesso alcançado. A partir daí, mais e mais pesquisadores sérios buscaram explicações para o fenômeno, publicando vários estudos em revistas especializadas, inclusive a Projeciologia. Embora a ciência explique as visões na EQM como fruto de reações químicas no cérebro, o fenômeno está 100% fundamentado nas pesquisas projeciológicas. Segundo os relatos daqueles que passaram por uma EQM, o que ocorre é uma sensação interior de paz, às vezes ouvem ruídos ou assistem ao desenrolar de suas vidas como um filme rodado em incrível velocidade, de modo a que nenhum fato se perca, até os mais banais. Encontram-se com seus familiares e amigos já falecidos (dessomados), com imensa alegria. Todos dizem-lhe das tarefas desenvolvidas no mundo espiritual, da necessidade de continuar trabalhando, evoluindo, estudando. Outros afirmam que os laços familiares não se rompem, pelo contrário, se fortalecem na dimensão extrafísica. Não raramente, aqueles projetados numa EQM, passam por uma revisão de suas responsabilidades na dimensão física. Aliás, o desprezo por responsabilidades essenciais  no mundo físico, muitas vezes, é a razão pela qual a consciência passa por uma EQM.


Após a experiência de uma EQM, é comum a consciência recuperar a lucidez da sua condição multidimensional, pluriexistencial, e redirecionar-se nos trilhos fundamentais da sua vida - a programação existencial. A EQM trata-se de uma reciclagem drástica, determinante e essencial para a consciência perdida e amaurótica quanto ao que veio fazer no mundo físico. Muitos que passaram pela experiência relatam a mudança que a mesma lhes causou, um verdadeiro turning point, ou ponto de retorno, na bifurcação entre o que deve ser e o que tinha que ser evitado. Os retornos à base física, não raramente, são considerados verdadeiros milagres pela medicina.