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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Realidades em Loop

A tênue linha entre projeção da consciência e sonho ou alucinação é uma intrigante questão só resolvida por meio do discernimento de quem passa pela experiência. E aqui vale aplicar o princípio da descrença. Em Danika, filme de Ariel Vromen, essa linha é mostrada de uma maneira quase hipnótica entre realidade e suposta fantasia, obrigando o espectador a refletir sobre suas próprias convicções a respeito do tema para solucionar o embróglio final.

A experiência projetiva, isto é, a saída do corpo físico, com restrita ou ampla lucidez, promovida pela consciência em seus veículos energéticos, é um fenômeno subjetivo, próprio da realidade do experimentador e fruto do seu parapsiquismo. Para muitos, a projeção consciente ainda é um caso para místicos e religiosos do oriente, muito embora recentes estudos e pesquisas, realizados por institutos científicos e conduzidos por médicos e cientistas, ofereçam hoje algo mais do que um punhado de crenças em que acreditar. Tais estudos são deveras importante. O mais simples conhecimento do assunto pode ser o ponto de partida para que a informação sobre o fenômeno esclareça um número cada vez maior de pessoas, que ainda temem a experiência por pura ignorância no assunto.

O filme Danika é, na verdade, uma viagem ao universo intraconsciencial de uma mulher casada e mãe de três filhos. As suas supostas alucinações começam após um acidente em que um mendigo se choca contra o seu carro - a senha do plot. O seu drama funciona também como um laboratório para seu parapsiquismo descontrolado. Mas as conexões dos parafatos em choque com a realidade física mostram não apenas que suas vivências estão longe de ser alucinógenas, como a evidência de que a realidade energética é parte integrante da realidade física. Sem a variável multidimensional, não é difícil nos surpreendermos com o que experimentamos no dia-a-dia. Em meio a tantas experiências limítrofes, isso é exatamente o que acontece com Danika, que, por falta de explicações sensatas, acha que está ficando louca.

Em uma das primeiras cenas do filme, Danika presencia um assalto ao banco em que trabalha. A violência do evento, em que muitos clientes e funcionários morrem pelas mãos do bandido, a deixa apavorada. Ela procura abrigo numa das salas do banco e se esconde do bandido. Contudo, pouco depois, a sala é invadida pelo criminoso, mas ao ser descoberta agachada debaixo de uma mesa, Danika recupera a lucidez e reconhece a sua chefe, agachada à sua frente, lhe perguntando se tudo está bem. Danika olha para o salão principal do banco e a agência está funcionando normalmente. O assalto foi uma alucinação ou uma projeção premonitória? Essa é uma questão que se repete em praticamente todo o filme.

 As alucinações continuam sem que Danika tenha uma explicação para elas. Aos poucos, elas vão tomando conta do seu cotidiano e afetando sua família. No jogo de fazer o real se confundir com a fantasia, o roteiro faz questão de esclarecer que Danika também tem visões premonitórias, que são reais. Ela assiste a morte de uma das professoras da filha, com quem descobre ter uma espécie de ligação atemporal, em algum ponto de sua teia multidimensional. Aqui há um bom sinal de que as alucinações são visões do seu mundo intraconsciencial em loop e clamando por reciclagens e reconciliações irremediáveis, num daqueles momentos da vida em que o nosso trem se descarrilha a fim de nos obrigar a enfrentar as mudanças necessárias. E ao choque de cada uma delas, Danika vive em crise o calvário dos acontecimentos que assolapa seus dias e lhe empurra para novos recomeços.

Na última parte do filme, Danika passa a viver, constantemente, os efeitos das suas alucinações ou projeções. Seu loop em parafuso se acentua na medida em que os parafatos se tornam indissociáveis à realidade física e sua vida se transforma num grande ponto de interrogação. Danika gera no espectador não apenas a inquietude da desconfiança sobre o que é verdade e o que não é, ou mesmo sobre o mito da crença e a convicção da verdade (relativa de ponta), como também coloca a questão da intraconsciencialidade, isto é, o universo interior, como ponto central de todos medos e proezas. Se a nossa realidade física é fruto de nossas projeções conscientes e relações interdimensionais ou alucinações só nós mesmos podemos dizer. Talvez o filme revele muito mais do que há escrito aqui. Mas cabe a você descobrir.

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