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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Série Entrevistas - Volume 1: Woody Allen


Entrevista com Woody Allen realizada pela Revista TIME americana.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Em Cartaz: Destaques da Crítica e do Público


500 Dias com Ela


Tom (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem tímido e sem jeito com as mulheres. Formado em arquitetura, ele leva a vida elaborando frases para uma empresa que edita cartões de felicitação. Inteligente, mas acomodado, não vislumbra grandes rumos em sua vida. Até conhecer Summer (Zooey Deschanel), sua nova colega de trabalho, recém-chegada de Michigan, por quem se apaixona perdidamente. Ele faz de tudo para conquistá-la, mas ela não está muito interessada em relacionamentos sérios.

Indicado ao prêmio Globo de Ouro de 2009 nas categorias Melhor Filme (Musical ou Comédia) e Melhor Ator (Musical ou Comédia) com Joseph Gordon-Levitt.

"A paixão arrebata, consome. Tom Hansen se entrega a Summer Finn, prevendo seu futuro naqueles olhos enigmáticos. Para cada situação passada juntos, ele imagina uma música, como se a vida fosse um imenso video-clipe coreografado e com final feliz. Mas é ingenuidade esperar por um final feliz. Summer abandona Tom antes. A canção então diminui as rotações, fica triste. A expectativa não se confirma, e o mundo de Tom desaba." André Miranda - O GLOBO




À Procura de Eric

Eric Bishop (Steve Evets) é um jovem carteiro fanático por futebol descontente com a vida que leva. Casado há 30 anos com Lily (Stephanie Bishop), por quem já foi apaixonado, não consegue enfrentá-la nem controlar seus enteados. Apesar de tentar escapar dessa rotina sufocante, ele só consegue alguns momentos de tranquilidade quando acende um baseado e começa a receber conselhos de seu grande amigo, o ex-jogador de futebol Eric Cantona.

"Sair do cinema feliz da vida depois de assistir a um filme do britânico Ken Loach? Sim, isso é possível. “Looking for Eric” (no original), roteirizado por Paul Laverty, parceiro das antigas, mantém a pegada e o foco na vida dos excluídos, como nos dramáticos “Meu nome é Joe” e “Terra e liberdade”. Só que é um filme engraçado, de humor refinado, inteligente, no qual o mundo não é visceralmente nublado." Érico Reis - O GLOBO




Deixa Ela Entrar


No subúrbio de Estocolmo, em 1982, Oskar (Kare Hedebrant) é um garoto frágil de 12 anos, que sofre maus-tratos dos colegas na escola e se sente solitário. O que ele mais deseja é ter um amigo. Quando Eli (Lina Leandersson), uma garota séria e pálida, se muda para a vizinhança, esse desejo se concretiza. O problema é que a menina tem hábitos estranhos, só sai de casa à noite e não parece ser afetada pelo frio.

"A princípio, demora um pouco para o público entrar no clima frio e lento (e nórdico) de “Låt den rätte komma in” (no original). Depois, o espectador é totalmente enfeitiçado por este título inovador, provavelmente o mais original filme de vampiros que subvertem o vampirismo desde que o gênero foi criado. Ainda que os sanguessugas sejam uma praga hoje em dia (estão em toda parte, na TV e nos cinemas, em versões diluídas e anêmicas), nada se compara a esta intrigante produção sueca." Tom Leão - O GLOBO





No Meu Lugar


Um policial se vê obrigado a intervir num assalto a uma casa de classe média alta no bairro de Laranjeiras, no Rio. A partir deste evento, o filme acompanha três histórias passadas em tempos diferentes.

Algumas semanas antes, um entregador de compras de um supermercado descobre o amor da sua vida. Dias depois, o policial, suspenso das suas atividades, tenta seguir adiante com sua rotina normal, a vida com sua única filha e a presença dos amigos.

Cinco anos depois, uma mulher volta com seus dois filhos e o novo marido para esvaziar e vender a casa onde morou no seu casamento anterior até a morte do primeiro marido. Estreia de Eduardo Valente como diretor de longa-metragens.

"Os diálogos e o desempenho dos atores (destaque para Raphael Sil, Márcio Vito e Dedina Bernardelli, num elenco preciso) talvez sejam o ponto alto do filme. Mas não é só por causa desses componentes que o Bonequinho está aplaudindo de pé. Em seu promissor primeiro longa-metragem, Eduardo Valente revela perfeccionismo e amplo domínio cinematográfico. Tudo funciona bem no filme." Érico Reis - O GLOBO




Nova York, Eu Te Amo

Reunindo um elenco estelar de Holywood em onze curtas, “Nova York, eu te amo” conta histórias de amor que se passam na cidade que nunca dorme.

Nos moldes de “Paris, te amo”, o longa é um mosaico de olhares tecido por cineastas consagrados, como Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Shekhar Kapur, Joshua Marston, Mira Nair, Brett Ratner, Andrei Zvyagintsev e pela diretora novata, a bela atriz Natalie Portman.

Diversos, mas com o mesmo fio-condutor, os roteiros convidam o público a embarcar no cotidiano íntimo dos nova-iorquinos, descortinando brigas e, especialmente, as constantes buscas pelo amor.

Seguindo o sucesso de seu aclamado predecessor, a nova produção de Emmanuel Benbihy integra a série "Cidades do amor", que em cada filme busca conduzir o público às cidades mais amadas e culturalmente influentes do mundo. As próximas cidades serão Rio de Janeiro e Shangai, em 2010, e Jerusalém e Mumbai, em 2011.

"Filmes reunindo vários episódios dirigidos por cineastas diferentes costumam escorregar nos clichês e apresentar altos e baixos de qualidade. Não é o que acontece com “New York, I love you” (no original). O segundo filme da série “Cities of love”, do produtor francês Emmanuel Benbihy, dirigido por dez diretores, é coeso" Érico Reis - O GLOBO




O Fantástico Sr. Raposo

Baseado no livro "Raposas e fazendeiros", de Roald Dahl. O sr. Raposo (George Clooney) e sua mulher (Meryl Streep) levam uma vida tranquila com seu filho e um sobrinho, até que a rotina começa a pesar e ele não resiste aos seus instintos selvagens. Alguns anos atrás, quando a mulher engravidou, o raposo lhe fez uma promessa: abandonar a vida de malandro, deixar de roubar galinhas e levar uma vida respeitável. Mas a cada dia esse compromisso fica mais difícil de ser cumprido.

Primeira animação de Wes Anderson. Indicado ao prêmio Globo de Ouro de 2009 na categoria Melhor Filme de Animação.

"Quando todos achavam que nenhum estúdio de animação seria capaz de barrar a criatividade da Pixar, um diretor assumiu para si a responsabilidade. Wes Anderson escolheu uma história do escritor Roald Dahl, convocou animadores de stop-motion, reuniu atores do primeiro time e filmou “The fantastic mr. Fox” (no original). O filme talvez tenha sido seu maior acerto." André Miranda - O GLOBO




Avatar


Com roteiro e direção de James Cameron - vencedor do Oscar, em 1998, com o filme "Titanic" -, "Avatar" narra uma batalha futurista em que terráqueos querem explorar Pandora, um planeta habitado pelos Na'vi, uma raça humanóide totalmente desconhecida e de cultura e idioma próprios.
O soldado Jake (Sam Wothington) - um veterano de guerra que ficou paraplégico - é escalado para liderar a operação no local desconhecido e com isso ter a chance de recomeçar na linha de combate.
Durante a missão, o grupo utilizará uma tecnologia completamente inovadora, envolvendo a criação de avatares a partir da mistura de DNA humano e extraterrestre, para aniquilar as criaturas de Pandora. Com exibição em 3-D em algumas salas.

Indicado ao prêmio Globo de Ouro de 2009 nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor (James Cameron), Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Canção Original ("I will see you", de James Homer, Simon Franglen e Kuk Harrell)

"Avatar" vende-se como um fliperama, um videogame tridimensional, prometendo elevar a sensibilidade da plateia para além das fronteiras do olhar. Existe um boato de que, na Fox, ninguém deveria se referir ao longa-metragem como uma ficção científica, definindo-o como "um filme de aventura para toda a família" por imposição de seu próprio realizador. Se ele deve ser comercializado assim, vende-se mal: o novo filme do midas que pôs o mundo a suspirar com "Titanic" (1997) alcança patamares muito mais complexos e provocantes do que sua promessa de encanto visual." Rodrigo Fonseca - O GLOBO

http://www.youtube.com/user/officialavatar?blend=4&ob=4#p/a/u/1/dyDQoXEBkGw

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Festa de Nachtergaele

Um homem toma um ônibus que parte do terminal. Ele veste um casaco. Por debaixo do casaco ele tem uma bomba. Em seus bolsos ele guarda pregos, bolas de chumbo e veneno para rato. O ônibus está quase lotado e dirige-se para o centro da cidade. O homem se senta ao lado de uma casal de meia idade. O casal parece ter ido às compras e agora fala da geladeira nova. Aos poucos mais pessoas tomam o ônibus, que agora está com todos os assentos ocupados. Há pessoas viajando em pé. Motivado pela fé, ele acionará a bomba quando o ônibus chegar na próxima parada. Motivado pela fé num Deus onipotente e onipresente, ele chegará ao paraíso por esse ato heróico. Mais ou menos assim começa o livro, O Fim da Fé, de Sam Harris.

Mas o que o homem faz com a sua fé ? O homem, em sua ampla maioria, não sabe viver sem fé. Lembro de uma frase o diretor de cinema polonês, Krzysztof Kieslowski, que disse, "sempre tenho contato a história do homem que, por achar difícil se orientar neste mundo, não sabe como viver." A fé se torna, assim, uma bússola através da qual o homem guia seus princípios e determina seu destino. A falta da fé tanto em algo como em alguém jogaria este mundo num caos moral, porque uma trajetória de vida baseada no pensamento do próprio homem é uma hipótese impensável - até aqui. Ele precisa da doutrina, da moral alheia e de alguém que represente essa moral. Não há massa crítica, porque, historicamente, nunca pudemos alcançá-la através das religiões. A manipulação espiritual sempre norteou a intencionalidade doutrinária eclesiástica e se ramificou em seitas, misticismos, comunidades esotéricas, igrejas protestantes, assim como em tantas outras religiões que se multiplicam a cada dia em busca de dízimos e promessas de paraíso. Se retirarmos todos os pensamentos incutidos no homem religioso, não restará muito pensamento que possa ser considerado dele.

A liberdade é uma ameaça e o que se vê é que o homem já nasce fadado a ser comandado de alguma maneira, porque, não sabendo viver, ele precisa de um guia, qualquer um serve. O filme A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele, não fala apenas da fé, mas da necessidade de haver um santo para recriá-la e mantê-la acesa. A busca cega pelo ícone espiritual exime o mesmo dos pecados da sua condição humana. No filme, vemos um santo real, emocionalmente desequilibrado, sexualmente desviado, vulnerável em suas convicções e atentado por seus próprios medos e fraquezas. Sabendo que este contexto não foge à realidade, não é difícil sentir uma certa compaixão pela humanidade.

A história centra-se no poder do misticismo numa comunidade perdida nos confins da Amazônia, vivendo num Brasil ainda desconhecido, arcaico, primitivo e feroz. Ali, praticamente toda a população vive em função da crença nas previsões anuais de Santinho, o personagem principal, uma espécie de beato com inúmeras características profanas, como o relacionamento dúbio com o próprio pai e os constantes destemperos histéricos que tem com sua equipe de trabalho em casa. O evento na comunidade acontece há 20 anos. Santinho ganhou seu status de santo ainda criança, quando recebeu de um cachorro os restos do vestidinho de uma criança desaparecida. O episódio foi interpretado como um sinal de divindade. Além disso, ele convive com a figura da mãe - dada como morta por suicídio -, assombrando a casa.

O filme teve sua estreia mundial em maio de 2008, dentro da seleção da respeitada mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar) do Festival de Cannes, onde colheu as primeiras comparações com a pegada radical do Cinema Novo. Ganhou prêmios internacionais em Chicago, Havana e Los Angeles, e nacionais em Gramado e no Rio de Janeiro. O filme tem um argumento muito bom, atuações primorosas, mas um roteiro que poderia ser menos elástico - o filme tem duas horas e quarenta minutos. Apesar disso, é um belo trabalho que surpreende na estréia de Matheus Nachtergaele como diretor.



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal

Já considerado um dos maiores fenômenos de bilheteria dos últimos tempos (com arrecadação superior a US$ 60 milhões nos EUA), Atividade Paranormal tinha tudo para entrar na lista dos melhores ghost movies: uma boa idéia. Mas esbarra no mito demoníaco, uma ferramenta temática já enferrujada da técnica de assustar.

Atividade Paranormal
conta a história de Katie e Micah, um jovem casal que, ao se mudar para uma nova casa em San Diego, passa a conviver com uma estranha presença. Um especialista em fenômenos paranormais visita a dupla assustada com os eventos, que ocorrem sobretudo durante a noite, mas ele não pode ajudá-los e receita a visita de um demoniólogo (nem sabia que havia a especialidade). Os eventos são evidenciados pela camera de vídeo que Micah acaba de comprar para registrar os fatos já anunciados pela namorada - uma paranormal com um histórico intrafísico bastante pertubador (ela havia passado por experiências de clarividências, pirogenia e poltergeists na infância) e extrafísico inimaginável (a figura que ronda os aposentos da casa acompanha a jovem há tempos imemoriais - que companhia!).

O namorado Micah é um jovem deslumbrado pelo desconhecido e sobrenatural, um pseudocorajoso adolescente tardio que desafia a criatura com seus shots da camera e uma tábua Oudja que ele compra para se comunicar com o além. O interessante é que é a própria criatura fantasmagórica quem se comunica com ele, e não o inverso. Na sua ausência, o espírito deixa literalmente o seu recado no objeto. Até aqui tudo bem. Lembre-se que a realidade (leia-se coerência, lógica e probabilidade) dita a qualidade de um bom ghost movie; não a fantasia e o desvario.

Com o registro das primeiras imagens e a comprovação dos eventos paranormais na casa enquanto o casal dorme, a curiosidade de Micah dá lugar a uma competição que ele trava consigo mesmo com o intuito de vencer as barreiras dimensionais e derrotar a criatura no grito. Mas as suas investidas documentais só aceleram o processo de resgate da tal "coisa que perambula a casa," pioram a situação, agravam a perda de mando de campo e dão cabo do controle energético da dupla - se é que havia algum desde o começo.

A idéia da camera de vídeo de Micah como o condutor das imagens do filme é muito boa e tem seus méritos no resultado que isso causa na platéia. Claro que já havíamos visto isso antes em A Bruxa de Blair, Cloverfield, Um Conto de Natal etc. Mas esse recurso ainda produz um bom efeito documental na história e tem força semiótica. O roteiro tem conteúdo dramático e ritmo ardiloso, mas o diretor não fez um documentário. E como filme, a intensão foi mesmo a de assustar.

O filme chega então a um ponto em que o problema pluriexistencial de Katie é também o de Micah - ele compra a briga por ser ingênuo e infantil, mas também por tentar ser o cavaleiro da Tábua Oudja Redonda. Por conta das suas gracinhas e turbulências emocionais de um adolescente, "a coisa que perambula a casa de noite" agora quer lhe pegar (e não é que pega!).

Fenômenos conhecidos como Poltergeist ocorrem promovidos por energia física densa e por intermédio das bioenergias de consciências intrafísicas (vivas no plano físico). Os eventos envolvem chuvas de pedras, movimentação de objetos, manuseio de objetos elétricos, eletrônicos etc., pirogenia, aparecimento de água, sons, luzes, sem qualquer manipulação humana direta.

As razões para o aparecimento desses fenômenos, bem como o perfil das pessoas que os desencadeiam são bastante complexas. A hipótese mais aceita na ciência hoje é a teoria da psicodinâmica, adotada por William Roll e outros. Poltergeist é uma palavra de origem alemã que se popularizou na época da Reforma, sendo utilizada por Martinho Lutero para se referir à ação de um "espírito brincalhão;" polter (barulhento, brincalhão) e geist (espírito). Na verdade, geist também significa "a mente de alguém vivo."

Sempre que há o lançamento de um ghost movie fico torcendo para que os eventos da história sejam coerentes, para que o misticismo religioso que se criou em torno do tema seja, aos poucos, desfeito. A cultura do medo pelo desconhecido, pelo sobrenatural, criado pelas religiões, com as dicotomias céu-inferno, paraíso-purgatório, bem como através do materialismo, no entanto, é um fator alijante da evolução humana e do conhecimento multidimensional. Estamos sempre atrelados a condicionantes de verdades absolutas e não deixamos a "tigela esvasiar" para que novos conhecimentos tenham lugar na razão. A intensão de assustar desses filmes é tão sorrateira e ardilosa que o simples uso da sonoplastia pode ter essa intenção, como em Atividade Paranormal - sempre que "a coisa que perambula na casa" está por aparecer, uma música sinistra toca antes (a trilha sonora do medo). Isso é comum, mas ainda lamentável. O resultado disso é que milhares de consciências infantilizadas por essa cultura não conseguem dormir à noite por causa do filme. Bye bye maturidade consciencial.