Bem-vindos ao Cinema & Consciência, um novo espaço para a difusão e a discussão do cinema brasileiro e internacional. Vamos falar de filmes ou documentários, discutir ética e estética do cinema, com enfoque nas pessoas, nos temas e nos fatos. Os comentários dos visitantes serão sempre bem-vindos.

Todos os textos neste blog são de autoria de Mário Luna, salvo aqueles em que a fonte for mencionada.
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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Para Se Chegar a Paz é Preciso Entender a Violência


O drama da sobrevivência expõe a fraqueza do ser humano diante de um sistema irreversivelmente cruel, mais propenso a exterminar as suas próprias aberrações do que assumí-las e reeducá-las. O cineasta francês Gaspar Noé entende do assunto e nos oferece essa pequena amostra de cinema sério e maduro, que não apenas visa revelar o lado sórdido da violência humana, mas denunciar as razões que a reproduz. Após o filme, uma longa reflexão: nada me parece mais sensato do que pensar a paz como produto da compreensão da violência. Assim, descartamos a intolerância e chegamos de fato à pacificação íntima através de uma assistência reconciliatória.

Mas nada é fácil para o personagem central neste universo sórdido criado por Noé em Sozinho Contra Todos. O desemprego, a falta de oportunidades, a crise pessoal, a difícil relação com a filha, a solidão, os conflitos interpessoais, o fracasso conjugal, a falência recorrente da família. Isto é, o personagem central inverte sua evolução numa seqüência de fracassos pessoais desnorteadores de qualquer direção construtiva de vida. E o que parece mais assustador é saber o quanto tais fatos atormentam muitos nos dias de hoje. O filme está bem mais próximo da realidade do que podemos supor e ilustra um sistema social elitista, seletivo, competitivo e discriminador na luta tanto pelo poder quanto pela sobrevivência. É aqui que retomamos a questão da paz. Pode haver paz sensata num sistema social de desigualdades e injustiças sociais ? Na medidade em que a paz designa um estado de espírito isento de ira, desconfiança e de um modo geral surge destituído de todos os sentimentos negativos, a paz é um princípio de ordem pessoal, que, sem a compreensão da violência, não existe de fato.

Compreender a violência não é ser condescendente com ela, mas uma maneira de contê-la, com um olhar sério e investigativo nas raízes sociais que a produzem: desigualdade, exclusão, falta de oportunidades no mercado de trabalho, falência familiar, racismo, discriminação, ausência de escola e formação profissional etc. A violência não surge apenas como conseqüência de índoles patológicas, mas também como alternativa de sobrevivência, sobretudo se olhamos as populações de jovens das favelas e a busca de meio de vida no tráfico.
Em Sozinho Contra Todos vemos um homem, ex-açougueiro, repleto de desqualidades (violento, racista, xenofóbico, homofóbico etc.), que cumpriu pena recentemente pela morte de um suposto estuprador da filha e que agora luta pela sobrevivência tentando conseguir um emprego. Sua luta por uma recolocação social esbarra numa esposa controladora, que detém o poder do dinheiro na casa, e histérica de ciúmes, além de ter pela frente uma recessão e as vicissitudes de suas próprias desqualidades. Tudo isso, aos poucos, vai levando-o ao declínio total. Gaspar Noé acompanha esse declínio passo a passo e mesmo com toda a agressividade que seu filme mostra é possível vislumbrar as razões pelas quais os limites humanos, quando ultrapassados, instigam o lado primitivo da consciência, estimulando as índoles mais patologicamente comprometidas.



quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Você Já Teve Alguma Vivência Parapsíquica ?

Com esta pergunta surgiu a idéia do documentário Homo Sapiens Parapsychicus, uma obra engajada em mostrar que o parapsiquismo, isto é, a comunicação entre as dimensões intra e extrafísica, é muito mais comum do que podemos imaginar. Cabe apenas ao ser humano compreender a sua própria parafisiologia e conhecer suas faculdades paranormais, tendo a quebra de tabús e a desmistificação do processo parapsíquico como os principais obstáculos a serem vencidos.

Antes mesmo de entender a natureza parapsíquica do ser humano, é preciso conhecer a constituição energética do universo em que vivemos. Para isso, recomendo o filme "Quem Somos Nós." O entendimento da realidade energética, em meio a qual nossas ações se desenvolvem, é um passo fundamental para entender que a comunicação entre as realidades física e extrafísica não diz respeito apenas aos ditos seres paranormais ou faz parte tão somente das habilidades exploradas pelas correntes místicas dogmáticas.

Embora pareça transceder a base de conhecimento estabelecida pela ciência convencional, o fenômeno parasíquico é uma faculdade natural, comum a todos e faz parte da parafisiologia humana. Ainda que extremamente controvertidos, os fenômenos parapsíquicos têm sido extensamente relatados pelos mais diversos povos e culturas ao longo da história. Segundo a opinião média da comunidade científica, a existência de tais fenômenos não foi comprovada por nenhum experimento rigorosamente controlado e passível de reverificação. De igual modo, a inexistência dos fenômenos parapsíquicos também não foi comprovada por quaisquer meios (Wikipedia). São exemplos de fenômenos parapsíquicos: telepatia, telecinésia, clarividência, premonição (precognição), retrocognição, materialização, experiência fora do corpo, psicofonia, psicografia, catalepsia projetiva entre muitos outros.

Durante as primeiras pesquisas realizadas com aproximadamente 90 pessoas de procedências, classes, faixas etárias e níveis de educação os mais variados possíveis, percebi que o resultado de 83% de confirmação da experiência paranormal mostrava sinal de que o documentário ganhava definitivamente uma boa razão para ser produzido. Entre os que disseram nunca terem tido qualquer vivência paranormal, uma parte afirmou que conheciam alguém que já havia experimentado alguma experiência parapsíquica (amigos, parentes próximos ou distantes), restando aos 100% céticos um percentual significantemente minoritário. Como professor, a pesquisa foi realizada com meus alunos, no escopo de complexidade de tipos já mencionado acima, e encontra-se hoje ainda em andamento.

O documentário pretende apresentar uma compilação de entrevistas não apenas com transeuntes nas ruas do Rio de Janeiro, mas também com pesquisadores em bioenergias, psicólogos, psiquiatras, assim como com pessoas comuns, alunos e amigos, interessados no tema, que se disponibilizaram para gravar entrevistas narrando seus casos. Considero "pessoas comuns" aquelas que não têm reconhecidamente experiências freqüentes na comunicação parapsíquica e que não são consideradas paranormais. O trabalho tem como objetivo justamente analisar o parapsiquismo na vivência diária, fora do eixo das experiências daqueles considerados paranormais, com enfoque no pressuposto de que o ser humano é parasíquico por natureza e que os eventos paranormais não trazem (ou pelo menos não devem trazer) qualquer classificação mística, religiosa, esotérica ou sobrenatural.

Aqueles que podem contribuir com suas experiências pessoas para o conteúdo deste documentário podem lançar aqui seu comentário ou enviar e-mails diretamente para mim: marioluizdesa@yahoo.com.br

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Educação no Cinema I

Muitos filmes falam do processo educativo escolar, retratam a realidade das salas de aula, o papel socializador das escolas e a função do professor, reunindo um rico escopo de informação e experiências da realidade pedagógica que em muito pode servir como referência a docentes e dicentes. Nesta série de três volumes, recomendo alguns títulos.

"Coach Carter" conta a história real e inspiradora de um treinador que decide mostrar os diversos aspectos dos valores de uma vida ao suspender seu time campeão por causa do desempenho acadêmico dos atletas. Assim, Ken Carter recebe elogios e críticas, além de muita pressão para levar o time de volta às quadras. É então que ele deve superar os obstáculos de seu ambiente e mostrar aos jovens um futuro que vai além das gangues, das prisões e até mesmo do basquete.

"Eu sou um mendigo. Mas… Eu sou um mendigo em Harvard", diz Simon Wilder, que vive pelos seus próprios recursos naquele campus. Lá ele encontra o veterano Monty Kessler (Brendan Fraser), que não teria nada a ver com o sem teto se não fosse por uma coisa: Simon tem a única cópia de tese final de Monty! Ele a devolverá por comida, um lugar para ficar e mais: uma página - por um favor - por vez. Uma nova vida está começnaod para Monty e seus colegas de dormitório (Moira Kelly, Patrick Dempsey, Josh Hamilton). Eles estão prestes a aprender que se você quer uma graduação, vá para Harvard. Se você quer aprender algo sobre a vida, veja "Com Mérito."

"Ana e O Rei" se passa em 1862. Anna Owens é uma jovem viúva inglesa que, tendo um filho para criar, aceita trabalhar como professora das crianças da família real do Sião. Quando chega a Bangcoc o choque cultural é imediato. Aos poucos ela obtém o respeito do rei, se tornando sua confidente e conselheira diplomática.

O objetivo deste trabalho é analisar as ações pedagógicas, sociais e culturais no filme "Conrack," produzido em 1974 com direção de Martin Ritt. A análise será feita com foco em três personagens principais, que são: Pat Conroy (o professor, representado por Jon Voight), Sra. Scott (a diretora, representada por Madge Sinclair) e Sr. Skeffington (o superintendente, representado por Hume Cronyn). Além disso, também será feita uma abordagem em relação aos alunos da escola.

Pat Conray é um professor branco que passou boa parte de sua vida como racista. Tem a oportunidade de redimir-se, ensinando crianças negras em uma ilha em que essa raça é a predominante. Em sua primeira aula, depara-se com alunos que não sabem absolutamente nada, que desenvolveram sua própria linguagem e cujos recursos pedagógicos utilizados até então eram baseados em castigos físicos e psicológicos.

"Duelo de Titãs" mostra um destes temas já tantas vezes visto no cinema: refere-se à luta racial entre brancos e afro-americanos, comum em estados mais conservadores dos Estados Unidos. A produção da Disney não traz novidades, mas comove o espectador, principalmente por tratar-se de uma história verídica, ocorrida no estado da Virgínia. O filme se passa na cidade de Alexandria, em 1971. O futebol americano colegial era tudo para o povo da cidade. Quando a diretora da escola local é forçada a integrar um time de uma escola de afro-americanos com um time de uma escola de brancos, a tradição do futebol sofre com ameaças de preconceito e racismo. Os dois treinadores não só transformam um grupo de garotos raivosos e desconhecidos em um time dinâmico e vencedor, como também os tornam homens dedicados e responsáveis, mudabndo o paradigma vigente. É a união que faz com que a cidade deixe d elado o preconceito e a intolerância, levando o time ao triunfo.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Clara Vidência

A idéia de ver espíritos ainda é vista por um prisma fantasmagórico e atormentador, e não é para menos. Educados em bases religiosas, alvejados por filmes de terror engajados em assombrar e atormentados pelo medo de almas penadas e monstros embaixo da nossa cama, não dá para simplesmente girar um botão da nossa mente e deixar todos esses imaginários de pesadelo para trás. De um simples contar de histórias mal assombradas entre amigos tarde da noite até assistir grandes produções do cinema americano, a cultura do medo do além nos afasta da compreensão do lugar onde viemos e para onde vamos e nos isola em apenas um lado da realidade em que vivemos. O filme dos irmãos Pang fala sobre Clarividência - a habilidade de ver o que há em outras dimensões conscienciais - de maneira lógica e coerente, com um roteiro limpo e uma direção sóbria, sem deixar nada fora do lugar. O tipo de filme o qual pode perfeitamente nos mostrar as implicações intrafísicas das relações multidimensionais. Olhe para a capa do filme sem preconceitos e se dê o benefício da dúvida. Go ahead!

Que coragem para ver espíritos pode sobreviver à uma educação re
ligiosa de inferno, pecados, almas penadas, demônios, castigos, purgatório, satanás, e também aos filmes de terror sobre fantasmas sanguinolentos, monstros, assombrações, visões do além, ocultismos os mais variados, pesadelos alucinatórios e torturas macabras ? A lista de geradores do medo pode ser bem maior se incluirmos os fatores psicológicos criados pelo preconceito, que os paranormais enfrentam ao serem considerados "estranhos" e não raramente "mentirosos," "fantasiosos" e "alucinados." O medo coletivo do mundo intangível permanece retroalimentado através de uma cultura religiosa-materialista-histórica difícil de se lidar na contramão, sem uma boa dose de convicção íntima sobre a própria experiência, autoconhecimento e coragem para evoluir.

Mas o que é a clarividência, que todos os seres humanos possuem em algum nível, e sobre a qual nos sentimos vulneráveis e passíveis, quando não controlada ? O dom, como muitos preferem considerar, é, na verdade, uma faculdade humana parapsíquica, que habilita ou condiciona a percepção visual do ambiente multidimensional ou dimensão energética. Ou seja, a clarividência é a percepção da realidade num nível mais amplo e complexo, que ocorre mais frequentemente aos mais condicionados a ver através dos para-olhos. Isto porque os olhos humanos não possuem constituição adaptável à captação de imagens em níveis muito sutís, energéticos, não materiais. Os para-olhos são os nossos olhos extrafísicos, olhos do popularmente conhecido espírito, através dos quais enxergaremos após a morte física. Portanto, para vermos com os nossos para-olhos é preciso uma minidescoincidência dos nossos veículos de manifestação, um leve desprendimento da fisicalidade, que geralmente ocorre quando estamos relaxados, em meditação ou em transe, como os espíritas costumam chamar. A visão humana dos olhos conecta-se a dos para-olhos por meio de uma descoincidência natural e pontual, captando a imagem extrafísica.

Se estamos ou não preparados para uma comunicação interdimensional efetiva e freqüente só nosso condicionamento físico pode responder. A preparação mental-emocional para a visualização de imagens extrafísicas pode ser analisada através da forma como captamos e lidamos com as imagens intrafísicas. Isto é, a maneira como eu lido com a realidade material irá mostrar o meu preparo (ou despreparo) para lidar com as imagens da realidade espiritual. Não somos duas pessoas completamente diferentes em dimensões distintas. Nossos sistemas psico-emocionais íntimos são únicos e transparentes em algum nível . O mais importante, entretanto, na clarividência não reside naquilo que podemos ver, mas no que podemos fazer com o que vemos, ou seja, na forma como interpetamos a imagem e lidamos com ela mostrará se o contato foi ou não interessante e assistencial para as consciências envolvidas. Nesse aspecto, The Eye - A Herança nos mostra uma história coerente e lógica, contada de forma orgânica pelos irmão Pang. Lúcidos para o processo multidimensional, eles não estão apenas interessados em assustar. A realidade em si já possui elementos interessantes e intrigantes o suficiente para tomarmos susto com ela. Qualquer coisa além disso fica apelativo. The Eye - A Herança é um filme sobre clarividência na medida certa, onde tudo na tela é de fato possível (apesar de inacreditável).

Em muitas discussões sobre doação de órgãos e cremações ouvimos que o desejo para tais procedimentos post mortem deve ser do doador, ainda em vida, expressado em documento assinado por ele. Isso irá, sobretudo, ajudar a consciência recém dessomada, ou falecida, a não ter vínculo materialista patológico com o próprio corpo. Essa consciência deve estar preparada para a doação. Isso significa ver seus órgãos em uma outra pessoa ou entender que o corpo em processo de cremação foi apenas o invólucro físico o qual ela utilizou em vida e que, a partir da sua morte física, não mais lhe servirá e pertencerá a uma outra pessoa. Quando não há esse entendimento, baseado numa formação espiritual, é comum haver casos de assédio do doador aquele a quem seus órgãos foram doados (por mais incrível que isso pareça). Em The Eye - A Herança esse problema é produzido pelo suicídio da doadora.

O filme conta a história de uma garota cega desde os dois anos de idade, que recebe um transplante de córnea. Contudo, além da visão das pessoas comuns, ela também herda o dom da clarividência. Mas essa habilidade não lhe cai bem. Embora demonstre uma certa maturidade oriental na questão espiritual, ela sofre com o processo e parte em busca de solução, ou cura. Burlando a ética médica, ela recebe o endereço do doador - uma adolescente tailandesa - e descobre então a razão dos seus tormentos. Os irmãos Danny e Oxide Pang possuem talento para o drama-suspense e merecem uma referência especial no gênenro por terem feito um filme com coerência e lucidez para os processos espirituais, evitando a natural inclinação para o susto gratuito.











quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um Filme Tão Bom Quanto o Livro

Os princípios ditatoriais restritivos da liberdade de expressão nunca foram e jamais serão qualquer forma de reeducação, mas um mecanismo sordido de manipulação de massas. Uma realidade não muito distante daquela que vivemos durante o período da ditadura militar. Mas "Balzac e A Costureirinha Chinesa" não se trata apenas de mais um exemplo de um marxismo equivocado. O filme é uma crônica sobre a felicidade da descoberta da literatura, sobre a fome insaciável pela leitura e o conhecimento, numa época em que as universidades na China foram fechadas e jovens intelectuais enviados para o campo para serem reeducados por camponeses pobres.

Isso aconteceu de fato no fim da década de 60, quando o líder chinês Mao Tse-Tung lançou uma campanha que seria conhecida por Revolução Cultural. Entre outras medidas para lá de radicais, o governo proíbe nas bibliotecas obras consideradas como símbolo da decadência ocidental. Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dostoievski, Dickens foram todos banidos na China Maoísta. Contudo, mesmo sob a opressão do Exército Vermelho, a literatura universal haveria de sobreviver de alguma forma, como que agonizante, nas mãos de dois jovens chineses, ao abrirem uma mala velha, carcomida e empoeirada, onde os clássicos estavam perigosamente escondidos.


Na verdade, Balzac e A Costureirinha Chinesa começou como um fenômeno literário na França. Dai Sijie, um autor desconhecido de origem chinesa, lança de forma discreta o seu primeiro romance, com uma tímida tiragem de 2 mil exemplares. Contudo, bastaram duas semanas para que o livro esgotasse e a editora tivesse que reaquecer as rotativas. Uma nova edição levou a obra para o topo das listas de best-sellers, ganhando elogios nos principais jornais e revistas. O resultado contabilizou 175 mil cópias vendidas e a candidatura de Balzac e A Costureirinha Chinesa ao Goncourt, principal prêmio da literatura francesa. Uma fotografia lisérgica e um enredo envolvente faz deste filme uma das pérolas do cinema internacional. Um filme que faz refletir, pensar, divagar, sentir e ter a gostosa sensação de conteúdo no nosso mentalsoma.

Dai Sijie foi ele próprio submetido à reeducação. Ele vive na França há quinze anos, onde dirigiu três filmes de longametragem, dentre os quais Chine ma Douleur. Em Balzac e A Costureirinha Chinesa o autor levanta uma questão inquietante: como reagiríamos se coibidos de desenvolvermos nossos talentos, amordaçados por uma ditadura, retringidos de expressar nossas convicções e exercermos nossos princípios ? Seguramente a resposta atinge diretamente o campo do posicionamento íntimo, ricocheteia na autenticidade e resvala no risco que teríamos ao assumirmos quem realmente somos. Não posso, no entanto, imaginar o que foi viver no Brasil durante a ditadura militar, onde autores foram presos e suas obras banidas, artistas vigiados ou deportados e muitos estudantes universitários perseguidos, todos vivendo sob a sombra irracional, ameaçadora, grotesca, psicótica e obssessiva do comunismo. Andamos, decerto, no sentido inverso daquele imposto pelo ditador Mao. Mas, no fim, todas as formas de manipulação acabam indo na mesma direção: de encontro à liberdade democrática.

Entre os que tiveram de abandonar as cidades está o narrador de Balzac e A Costureirinha Chinesa e seu melhor amigo, Luo. O destino deles é uma aldeia escondida no topo de uma montanha. Neste local, eles devem aprender a se desapegarem de seus princípios capitalistas-ocidentais e descobrir como é a vida campesina revolucionária. Um vida, diga-se, nada fácil para a dupla de amigos, mas com muita coragem, senso de humor, uma forte imaginação e a companhia da Costureirinha — a menina mais bela da região — o tempo vai passando e eles vão exercendo suas convicções e alimentando decentemente seus espíritos através da leitura dos "livros proibidos." É quando eles descobrem uma mala repleta de livros banidos pela Revolução Cultural. As obras, sobretudo Ursule Mirouët, de Balzac, revelam aos adolescentes uma realidade que nunca haviam imaginado. E é por intermédio desse mundo novo, descortinado pelo escritor francês, muito além das muralhas chinesas, e também por outros grandes mestres da literatura que o narrador, Luo e a Costureirinha compreendem que suas vidas pertencem a algo muito mais importante.

A razão da existência, quando tem mesmo que acontecer, possui uma força assustadoramente forte e irremediável. É por meio desta força que as implicações desta união tripla de amigos ganham a realidade. Os laços de amizade dos amigos com a costureirinha, um cargo oficial que a jovem tem na vila, criam vículos e vincos para muito além daquela realidade. Esta liberdade concedida pelo livro de Balzac, uma ruptura com o autoritarismo intelectual, , os aponta novas direções e liberta seus talentos, sem julgamento nem conclusões, para serem o que vieram ser. Aqui, os efeitos sociais da literatura são enfim preservados e se comprova a tese de que ela pode de fato mudar o nosso universo interior. É difícil imaginar qualquer tipo de evolução consciencial sem a participação efetiva da leitura, sem as mudanças radicais que os livros realizam no intelecto humano - seja através de estudo, pesquisa, experiência ou puro encantamento. Assim como é improvável encontrar sentido em qualquer ideal revolucionário sem saber o que ele significa.




Vidas em Loop

Se pudéssemos decupar nossa vida e colocar as cenas do que vivemos até aqui num filme, numa rotação acelerada, nos veríamos repetindo tantas vezes as mesmas coisas que teríamos vertigem com a nossa própria automimese. Buñuel deve seguramente ter feito esse exercício ao criar O Anjo Exterminador. O resultado é uma obra inquietante e suficientemente reflexiva aos mais engajados com a evolução pessoal. O surrealismo de Buñuel toma emprestado dos pesadelos suas técnicas narrativas.

O cineasta surrealista espanhol segue fortemente a linha dos seus amigos, Salvador Dalí e Federico García Lorca. Seus filmes, mais do que apresentarem situações absurdas ou ininteligíveis, criam atmosferas de sonho (ou pesadelo), mas nada que nos afugente. Muito pelo contrário, Buñuel é cinematografia obrigatória ao curriculum dos aficcionados mais exigentes, pois ele faz cinema com conteúdo de gente grande. Interpretar os filmes de Buñuel requer, no entanto, um dose satisfatória de conteúdo pessoal de psicologia humana, pois ele trabalha com símbolos nem sempre reconhecíveis na realidade comum, mas presentes no inconsciente. O extermínio, aqui, é das convenções e das máscaras cultivadas na sociedade, sobretudo na aristocracia, que luta por uma sobrevivência muitas vezes de pura aparência.

O Anjo Exterminador é uma de suas maiores obras-primas. Repleto de cenas legendárias, pode-se entender o que está ali de diferentes maneiras. O tom e o clima do filme são fiéis ao surrealismo do cineasta, mas a narrativa em si é mais convencional, e talvez por isso a obra seja ainda mais genial. O filme é especialmente célebre por possuir um dos plots mais originais da história do cinema: um grupo de pessoas da alta sociedade, após passar a noite na casa de um deles, se vê impossibilitado de sair da sala, mesmo com a porta escancarada. Mas o que aparentemente parece ser uma idéia sem sentido, ilógica e estranha abre margem para um tema de reflexão extremamente rico: a falta de posicionamento diante dos fatos, a repetição mimética da vida na sociedade, a devoção por aparências, os mata-burros estagnadores, os ganhos secundários desnorteadores da ação construtiva, a patologia humana diante da superficialidade da vida e assim por diante.

O próprio Buñuel diria "a moral burguesa é, para mim, uma imoralidade contra a qual há de se lutar; esta moral que se baseia em nossas instituições sociais mais injustas como são a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade." Ele era radical, mas, embora sua contradição contra as imoralidades da sociedade se tornasse aparente por meio do machismo, que lhe era peculiar, Buñuel sabia criticar através da sua arte. O retrato da burguesia criado por ele de fato é fiel posto que descortina uma faceta cruel, fria e desumana de um nicho acima-do-bem-e-do-mal da sociedade. Não podemos negar as vulnerabilidades humanas da classe, representada aqui com certa complacência através de desvios padrões de comportamento, como a arrogância, a hipocrisia, o adultério, a vaidade, o preconceito, a desconsideração ao próximo, a imoralidade, além da inevitável ironia sórdida. O Anjo Exterminador atua como carrasco desses seres, que na visaõ do cineasta, preferem explorar e pisotear os menores, enquanto afundam-se no caviar e embreagam-se de champagne francesa.

Sem tomar partido, podemos levar boas lições do filme e um pacote de temas para reflexão, pois, burguesia a parte, somos todos humanos e, em maior ou menor grau de vulnerabilidade, com maiores ou menores conseqüências, sofremos mais ou menos dos mesmos males.


Psicologia no Cinema III

Em Abril Despedaçado vemos a mimese patológica de duas famílias rivais que, no interior do Nordeste, matam seus vizinhos por incontáveis gerações. A história transcorre no Brasil de 1910. No filme, a aridez nordestina, a subserviência e a hierarquia norteiam enredo e personagens. O pai protagonista é extremamente severo e rígido com os filhos, causando-lhes o esquema da "menos-valia," baixa auto-estima e complexo de infeiroridade. Os filhos agem diante do pai com respeito e medo. É possível perceber as reações nos filhos do sentimento de desprezo do pai. Com isso, não resta aos filhos muito mais do que a opção da fuga. Numa das cenas, um dos personagens recebe um livro de presente, para sua surpresa e encantamento. O livro assume uma importância que não podemos calcular. Mas está claro que, sendo uma tábuia de salvação como instrumento de fuga, o livro lhe chega em boa hora. O mundo curel que o cerca torna-se paralelo, através da leitura e das imagens do livro, pois ele nunca foi à escola. O final, antecipando-o sem estragá-lo no entanto, é trágico, mas mostra como o universo humano é complexo, cheio de diferentes personalidades, assim como das implicações dessas consciências na vida dos indivíduos. O filme gera muitas reflexões sobre a identidade e a existência humana, fadada, pelo menos até onde chegamos em termos evolutivos, a perpetuar automimeses desnecessárias, norteadas por padrões de comportamentos patológicos.

A grande razão de viver é evoluir e o insucesso da nossa
empreitada existencial é a estagnação, representada pela
falta de lucidez para o prórpio processo evolutivo. Mas de
que forma esta evolução é percebida ? Seguramente é certo
afirmar que a assistência ao outro é o denominador mais claro da nossa evolução terrestre. O grau de assistência que fazemos determina o quão em caminhos evolutivos estamos, assim como o egoísmo e a falta de assistência no nosso comportamento pode marcar o quão distante estamos do ideal propulsor da evolução. No filme A Corrente do Bem, temos um bom modelo do processo assistencial ideal: pratique o bem sem importar a quem, e sem esperar retornos. Um garoto realiza um projeto inédito para a escola: fazer uma corrente entre as pessoas através da qual elas teriam que praticar um ato de bondade aos outros sem esperar devoluções. Cada pessoa teria que fazer tal ato a três outras pessoas, pedindo para que elas estendessem a corrente indefinidamente. O fime traz discussões importantes sobre as dificuldades do relacionamento familiar, nosso grupocarma mais próximo e prioritário, e o entendimento do pensamento dos jovens. Da mesma forma, levanta a poeira para reflexões sobre conceito de justiça e moral, temas urgentes a serem colocados em prática, pois, na teoria, todos os conhecem muito bem.

Ninguém pode se corrigir antes da autoreflexão e tomada de consciência sobre os erros. Antes disso também ninguém pode ser culpado de nada, pelo simples fato de que, na existência humana, não há julgadores, nem juri, nem juiz - com todo respeito ao purgatório religioso. Mas o fato é que, antes da consciência assumir a sua própria necessidade de mudar, corrigir seu comportamento e enfim evoluir, não haverá quem o faça em seu lugar. Nesse ponto existencial, aparece Robert De Niro em Máfia no Divã. Ele é o chefão da máfia que quebra as regras do "homem não pode chorar" quando sua consciência entra em crise e se desmancha em lágrimas de crocodilo diante do seu terapêuta, Billy Crystal. O filme é uma comédia, mas consegue mostrar bem o momento da reversão existencial de um criminoso, os benefícios e o poder mítico de uma boa terapia, posto que é temida até pela própria máfia, preocupada no que pode se tornar o chefão De Niro depois da alta médica.

O próprio Prof. Henri Laborit explica em Meu Tio da América sua teoria sobre como o ambiente interfere na formação da personalidade dos seres humanos. Mas dessa vez, ao invés de ratos de laboratórios, os objetos de investigação são dois homens e uma mulher, de cidades, origens sociais e familiares diferentes, cujas vidas são acompanhadas desde a infância até a fase adulta. "A única razão de ser de um ser é ...ser. Conservar a sua estrutura."
Com esse impacto verbal, Alan Renais abre o seu filme e mostra de imediato a sua intenção: o aprofundamento do estudo da figura humana. o diretor aborda os mecanismos da memória e o paralelismo de épocas diversas de maneira bastante especial, criativa na forma e no conteúdo, e ainda transbordante de informação e reflexão crítica. As idéias, experiências e conclusões do cientista Henri Laborit, o mesmo que descobriu o funcionamento das sinapses neurôniais, motivam análises mais profundas, como a luta pelo poder, uma luta que não respeita os direitos dos outros e provoca conflitos. Revela a ambição da propriedade sem restrições e sem limites. É um filme que merece ser visto algumas vezes, tal é a riqueza de informação do seu conteúdo que, aos poucos, pode ser digerido sem contra-indicações.


Baseado no best-seller e premiado romance de Irvin Yalom, o filme Quando Nietzsche Chorou conta a história de um encontro fictício entre o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o médico Josef Breuer, professor de Sigmund Freud. Nietzsche é ainda um filósofo desconhecido, pobre e com tendências suicidas - isso é verídico. Breuer passa por uma má fase após ter se envolvido emocionalmente com uma de suas pacientes, Bertha, com quem cria uma obsessão sexual e fica completamente atormentado. Breuer é procurado por Lou Salome, amiga de Nietzsche, com quem teve um relacionamento atribulado. Ela está empenhada em curá-lo de sua depressão e desespero, assim pede ao médico que o trate com sua controversa técnica da “terapia através da fala”. O tratamento vira uma verdadeira aula de psicanalise, onde os dois terão que mergulhar em si próprios, num difícil processo de auto-conhecimento. Eles então descobrem o poder da amizade e do amor. Sobre Psicologia, o filme tem um farto repertório de informação, além de um apanhado geral sobre a personalidade atormentada do renomado filósofo, cuja obra, particularmente, tenho grande admiração e interesse. Recomendável.

O clássico Sociedade dos Poetas Mortos não poderia ficar de fora desta lista, que poderia até ser mais extensa
se incluíssemos filmes em que protagonistas mudam padrões arraigados de comportamento de uma comunidade. No filme em questão, um professor consegue mudar as estruturas rígidas e preconceituosas de uma escola americana na década de 1950. Nele também vemos como a comunidade, aqui de alunos, apresenta uma modificação de comportamento em função das atitudes positivas do professor. O mesmo Robin Williams, diga-se, havia feito algo do gênero em Patch Adams. Nesta obra obrigatória a todo candidato a bom cinéfilo, o ponto mais significativo fica por conta da representação das conseqüências que a usurpação (e distorção) dos valores pessoais causa no indivíduo. Não estarmos alinhados com o nosso melhor nos aniquila como pessoa. Quando essa usurpação de valores não causa danos irreversíveis, como foi o caso do personagem do filme, nos torna marionetes do meio, robôs manipulados para atender uma necessidade de sobrevivência apenas, em detrimento da vocação, fator essencial para a realização pessoal. A reflexão aqui fica por conta do que fazemos por automação, pelos outros, por repetição, sem realização íntima, sem o completismo de uma programação existencial original, legítima e fundamental para a evolução.

sábado, 4 de julho de 2009

Ilusões Vitais

Quanto tempo pode ser necessário para entendermos que a realidade em que vivemos não é exatamente aquela na qual acreditamos ? A resposta correta exige lucidez para entendermos os fatos e discernimento para concluirmos da forma correta tal realidade. Em ambos os casos não é nada difícil estarmos equivocados, siderados em crenças ou enganados por idéias psicóticas.

Psicose é um termo psiquiátrico genérico que se refere a um estado mental no qual existe uma perda de contato com a realidade. Ao experenciarmos um estado psicótico, nossos pensamentos ficam desorganizados, alucinado e em delírio. A falta de discernimento gera uma falha crítica, que se traduz numa incapacidade de reconhecermos o caráter estranho ou bizarro do nosso comportamento. Desta forma surge a dificuldade de compreendermos a realidade externa na qual vivemos. Muitos de nós têm experiências fora do comum ou mesmo relacionadas com uma distorção do que é real em algum momento da vida. Portanto, a psicose não se restringe apenas aos que sofrem de algum problema psiquiátrico patológico crônico. Muito pelo contrário, a psicose em algum nível faz parte do comportameto humano, através de idéias fixas e repetitivas e teimosias sem sentido que conservamos, contra toda a opinião externa.

Quando a psicose interfere na veracidade de nossas convicções a situação fica mais séria. A dificuldade que por vezes temos para entender uma determinada situação, condição ou contexto pode causar riscos à nossa interação social e, sobretudo, às nossas relações mais próximas. Exercitar o discernimento e a lucidez, por meio do autoconhecimento e da auto e heterocrítica, pode nos livrar de probelmas maiores, como a cronicificação do estado patológico. No filme de Rodrigo Garcia, Passageiros, o psicotismo ganha uma dimensão extrafísica, mas o diretor não perde a lucidez em nenhum momento. Aqui, a parapsicose está tratada de forma pensada e ordenada através de um bom roteiro e de maneira honesta e sem sensacionalismos por meio de uma produção limpa e direção sóbria. Está tudo ali e é daquele jeito mesmo.

Considerando a variável multidimensional, dizemos que o nosso comportamento reflete o que há em nossa psicosfera (bioenergética). Contudo, mais do que considerar aqui o nosso universo bioenergético, o comportamento psicótico está plantado na memória integral da consciência, na paragenética humana, ou mais dieratmente, na história consciencial, construída a partir de suas experiências intra e extrafísicas. Por isso a dificuldade que temos de nos livrarmos de antigos hábitos entrópicos, desorganizados e improducentes. E como é difícil mudarmos um comportamento arraigado. Desde parar de fumar até o ato de erradicar uma depressão, o comportamento "antigo" nos deixa apenas sob uma forte pressão da vontade, com obstinação e por meio da paciência. E, claro, quando isso não é resolvido no ambiente físico, não há razão para nos livrarmos desse fardo depois da morte física. E aí o negócio muda de figura sob inúmeros aspectos.

Quem ainda não ouviu histórias de espíritos que se recusam a aceitar a morte física, que perambulam pelos locais onde viveu, que não abandonam os entes queridos, que revivem o momento traumático em que morreram, que acreditam psicoticamente que ainda estão vivos ? Se essas condições lhe parecem coisas do "outro mundo," que tal nos colocarmos na situação em que psicoticamente também acreditamos no que não existe: uma pseudoamizade, um ponto de vista equivocado, um sonho, uma fantasia, um auto-engano, enfim, em situações que, na verdade, não percebemos que ficaram no passado.

Lamentamos as mudanças porque as lembranças do passado são mais fortes do que a realidade. É difícil abrir mão do que temos, dizer adeus, fechar ciclos, corrigir comportamentos, ou simplesmente mudar de emprego. Qualquer mudança é motivo de pânico para os neofóbicos. E quando tais mudanças cruzam dimensões, as superações ganham uma força extra. Não deixamos de ser quem somos após a morte física, e posso até arriscar a pensar que somos muito mais o que somos no além do que no aquém, pelo simples fato de reassumirmos a memória integral, onde não apenas as lembranças da útima experiência física existem, mas a memória de toda a nossa história consciencial, pessoal e atemporal.

Após um trágico acidente aéreo, a jovem (e bonita) psiquiatra Claire (Anne Hathaway) é escolhida por seu chefe para atender dez sobreviventes do vôo fatídico. Enquanto ela ouve os relatos de todos e coleta informações do que pode ter acontecido, Claire conhece o misterioso Eric (Patrick Wilson) e se sente atraída por ele. Os dois enfim se aproximam de uma forma tão intensa que essa relação vai além do campo profissional. No decorrer do tempo, os outros sobreviventes começam a desaparecer inexplicavelmente e Claire acredita que Eric tem as respostas para esses estranhos acontecimentos devido a visões que ele mesmo diz ter. Agora a jovem fará o que for preciso para descobrir a verdade sobre o que aconteceu e pode chegar a respostas surpreendentemente assustadoras. Assistam.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Psicologia no Cinema II

O processo de aquisição da linguagem falada é dinâmico e se relaciona a diferentes fatores, como costumes sociais e familiares, herança cultural, o relacionamento com a comunidade, a escola etc. A criança se apropria da linguagem na medida em que ela interage com o meio. Mas a linguagem vai além da palavra. Desemboca numa abordagem, num símbolo, meio, numa forma de ver a realidade, entender os fatos e solucionar os problemas. A linguagem não se limita a um processo de comunicação verbal, mas a vários outros processos de comunicação com o meio. Nesta peculiaridade, o estudo do comportamento infantil mostra como as crianças se relacionam entre si e com os adultos, quando as etapas do seu desenvolvimento ocorrem e de que maneira. Segundo Vygotsky, o aprendizado e o desenvolvimento estão interrelacionados, posto que o aprendizado precisa estar de acordo com o nível de desenvolvimento da criança. A criança faz uso da linguagem como instrumento de socialização. Esse movimento resulta em avanço intelectual e social.

Em Filhos do Paraíso, mergulhamos na linguagem do universo infantil para entender a maneira simples com que as crianças resolvem seus problemas. Trata-se de uma história de grande sensibilidade, mas tão simples quanto usar uma cabine de voto eletrônico. Aqui está a razão-chave de sedução do filme. Ele é simples, direto e incrivelmente eficiente, porque, aqui, as crianças falam pelos adultos. A história é sobre um menino de nove anos que perde os sapatos da irmã ao levá-los para o conserto. Como esse par de sapatos era o único que a menina possuía, ele se vê obrigado a emprestar o seu, até que ele recupere o da irmã. Mas, com o passar dos dias, isso se torna impossível. Na saída das aulas, ele tem que sair correndo para entregar os seus sapatos para que a irmã vá para a escola. Tudo isso em segredo. Leais um com o outro, os irmãos vão mantendo a rotina da troca de pés para aquele velho e surrado par de sapatos - grandes para a irmã inclusive - longe do conhecimento dos pais. Bem, chega um momento em que o irmão tem a chance de vencer uma mararona e ganhar um par de tênis novos se for o segundo lugar. Ele insiste em inscrever-se na escola e consegue participar da corrida. Tudo o que ele quer é ser o segundo lugar e ganhar o par de tênis novos para dá-lo à irmã.

A Língua das Mariposas, do espanhol José Luis Cuerda, conta a história de um menino com medo de frequentar uma escola, até que ele conhece um professor de idade, que usa método irreverentes de ensino, como caminhar no bosque da pequena cidade onde vivem, mostrando a vida das borboletas e mariposas para os alunos. O menino passa a adorar a escola por conta das aulas do professor idoso. Nessa época, a Espanha está se encaminhando para a Guerra Civil e o professor é perseguido pelo estado. O filme é muito bonito ao falar da mediação do ensino através dos métodos do professor e das ações compartilhadas entre o menino, seus amigos e seu irmão. Também mostra a incompreensão de signos novos, neosinapses, conceitos da linguagem e de política, elementos incompreensíveis para o menino. Em suma, o filme fala da importância do professor no processo de desenvolvimento cognitivo, pessoal, político e social da criança. E não só. O papel de um professor que influencia na medidade em que oferece algo mais próximo da realidade da criança, que atua com um método realista e eficaz por estimular e cultivar, utilizando na linguagem infantil, o prazer pelo aprendizado.

O filme Matilda fala em geral sobre a reluctância dos pais em aceitar um comportamento diferenciado dos filhos, quando eles claramente estão fora da média de inteligência. No caso de Matilda, seus pais definitivamente não percebem que a garota é "diferente," com inúmeras habilidades. Mas isso na sociedade não é visto de maneira normal e os diferenciados tendem à se excluir das demais crianças. Matilda estuda num colégio repressor e se esconde na biblioteca. A menina tem poderes mágicos e termina por usá-los para acertar a conta com todos, desde a diretora megera até aqueles coleguinhas indesejáveis. É um filme que mostra também, por meio do exagero, para engrandecer o plot do drama, como as crianças usam sua linguagem própria para resolver seus problemas psicológicos. Jean Piaget, profundo estudioso da psicologia infantil, afirma que "a inteligência não começa nem pelo conhecimento do eu nem pelo conhecimento das coisas enquanto tais, mas pelo conhecimento de sua interação e, orientando-se simultaneamente para os dois pólos desta interação, a inteligência organiza o mundo, organizando-se a si mesma." As crianças têm uma habilidade especial para lidar com esse modelo de construção da realidade, talvez justamente pela forma extremamente lógica e realista com que vêem o mundo a sua volta, muitas vezes desconcertantes para um ser humano adulto.

Na mesma linha extraordinariamente infantil, o filme A Corrente do Bem traz a história politicamente correta de um menino que recebe a incumbência de um professor para montar um projeto de uma corrente para fazer com que as pessoas pratiquem o bem aos outros, sem esperarem qualquer vantagem, devolução ou retorno. Tarefa nada fácil. A corrente consistia em dar às pessoas a tarefa de fazer o bem para três indivíduos e pedir que os demais continuassem fazendo o mesmo com outras pessoas, isto é, praticando o bem indefinidamente. O filme levanta discussões sobre as relações humanas e também familiares. As dificuldades de uma relação universal, mais grupocármica e policármica e menos egocármica, e mostra também como ainda somos frutos de uma sociedade individualista e umbigóide - o egoísta que só sabe olhar para seu próprio umbigo. Além disso, o filme funciona bem ao tentar revisar o entendimento do pensamento dos jovens e serve como um momento de reflexão sobre o papel da justiça e o conceito de moral. O garoto-astro de Sexto Sentido e Inteligência Artificial, Haley Joel Osment, é o protagonista da película que, decerto, poderia passar na Sessão da Tarde, mas que vale a pena uma atenção porque faz refletir sobre nossas atitudes e intenções assistenciais no dia-a-dia. A teoria da assistência é bela, e muitas religiões pregam isso, mas na prática...

Mentes Que Brilham é dirigido pela Jodie Foster e anda na mesma linha dos filmes sobre crianças extraordinariamente inteligentes. Superdotado, ele é convidado a participar de olimpiadas de matemática e arrebata alguns campeonatos. Contudo, apesar de ter uma inteligência privilegiada, com uma capacidade cerebral muito além da sua idade, ele é imaturo em suas funções afetivas e sociais. No processo de desenvolvimento da criança, muitos psicólogos defende a idéia de uma equilibração interior caracterizada por aspectos do relacionamento com o meio e em si mesma. A base psicológica e emocional é a matéria prima para a relação com o meio, não havendo entretanto uma co-dependência desses aspectos. A inteligência surge assim de forma inata e por meio da experiência. Essa relação pode ser hígida ou entrópica e o entendimento da realidade será o resultado da maneira como essas relações se interagem no sistema cognitivo. Para Piaget, o processo de desevolvimento deve produzir um equilíbrio que possibilita a criança a autoregulação. Isto é, as ações físicas e sociais das crianças são elaboradas e reelaboradas a partir de todas as suas ações, tanto físicas quanto mentais, sobre o meio.

domingo, 14 de junho de 2009

Você é Feliz ?

O cineasta e etnólogo Jean Rouch e o sociólogo Edgar Morin saem às ruas de Paris para colher respostas à seguinte pergunta: "Você é Feliz ?"
O resultado desse documentário, um dos precursores do cinema-verdade, juntamente com os trabalhos Primárias e Crise do americano Robert Drew, mostra um retrato interessante dos jovens em 1960, ano de realização da obra. Sempre é muito rica toda informação que vem diretamente das pessoas comuns, na rua, enquanto vão e vem de destinos e bem no meio das suas ações diárias. Se toda teoria pudesse trazer um exemplo através de uma casuística pessoal, ela seria imediatamente aceita, pois, contra fatos não há argumentos. Rouch realizou trabalhos igualmente ricos em conteúdo que se tornaram grandes sucesos no cinema, como "Jaguar," "Eu Um Negro," "Pouco a Pouco," e "A Pirâmide Humana,"e figurou em várias listas pessoais dos dez melhores filmes franceses, lançados a partir do pós-guerra, publicados no Cahiers du Cinéma, em janeiro de 1965. Sua obra lhe valeu a fama de antropólogo, sobre o que ele diz "muitos dizem que, como cineasta, sou um bom antropólogo, e como antropólogo, sou um bom cineasta." De fato, Jean Rouch é formado em engenharia civil pela renomada École de Commerce francesa, título que lhe daria um bom emprego em qualquer empresa famosa. Mas ele preferiu colocar a camera no ombro e ir à luta pela semiótica. Desta vez, seu par foi nada menos do que o igualmente famoso Edgar Morin, sociólogo que conduziu os entrevistados em Crônica de Um Verão. O amálgama humano entrega um material para qualquer sociólogo ficar de bem com a vida. O que parecia uma simples e despretenciosa enquete se transforma numa rara coleta de informações fiéis sobre a natureza humana diante da conceito de felicidade. Ambos precognizam que o espectador irá se pergunta ao final do filme: "O que faço da minha vida ?" Boa reflexão.


O cinema verdade nasceu em Crônica de Um Verão. Com equipamentos de filmagem leves e portáteis, os cineastas promovem uma inovação radical nas técnicas de filmagem. Saem nas ruas sem nem ao menos terem certeza sobre o que vão perguntar às pessoas além da pergunta-chave. Aliaram a isso o método de Flaherty e as teorias de Vertov e a empreitada não só estendeu os limites da exposição da realidade do cotidiano humano como abriu as portas para o que hoje conhecemos como reality show. No campo da Sociologia, a participação de Morin enriquece a informação. Não seria justo afirmar que o filme busca, a partir dos depoimentos dos participantes, apenas mostrar os acontecimentos históricos que se desenrolaram no contexto socioeconômico, político e cultural francês daquela época. Ele vai além disso. A dinâmica de trabalho da dupla funciona como peças de Lego. Eles montam um grupo heterogêneo de pessoas que, primeiro individualmente, depois agrupadas, dão seus depoimentos e trocam experiências valiosas, modificando seus olhares sobre o outro e sobre si mesmo.

Mesmo numa obra fundada sob um modelo chamado cinema-verdade, fica difícil saber ao certo os limites da verdade. Mas tampouco faz sentido analisar aqui se os entrevistados estão sendo sinceros ou não, uma vez que não sabemos ao certo quando utilizamos recursos da ficção em nossas atuações diárias. Posso aqui enumerar facilmente algumas facetas de caráter que me deixam longe de mim mesmo. Numa das cenas iniciais do filme, Marceline diz que não ficará à vontade diante da camera. Isso por si só já é um recurso de ficção: ela atuará. Pelo menos até que se sinta bem para ser ela mesma. Os diretores têm consciência de que a camera irá modificar as relações das pessoas que estão na sua presença. Eles sugeriram que os personagens falassem à câmera de suas experiências captando fragmentos daquelas realidades. Para ilustrar a ficção no nosso comportamento diário podemos usar a seguinte analogia. Responder a tal pergunta diante do espelho traz um resultado particular. Mas a mesma pergunta respondida diante de uma camera, trará outro, assim como será outro o resultado da mesma pergunta respondida a um colega íntimo num bate-papo descontraído. Em que momento estamos sendo nós mesmos e em que momentos estamos atuando ?


A pergunta "Você é Feliz ?," que acompanha o filme, acaba sendo respondida pelo espectador inevitavelmente sugestionado. Mas o que é a felicidade ? Na minha opinião, um estado perene, próprio da essência humana, sobre o qual todas as tristezas se tornam curáveis.


sábado, 13 de junho de 2009

A Psicologia no Cinema I


Após um longo período da história em que esteve sob o julgo místico, pré-científico, por defender o dualismo do corpo e da alma, a Psicologia se tornou uma das ciências mais antigas da humanidade. Há alguns bons séculos atrás, os desvios de comportamento eram vistos como possessões espirituais, efeitos de fenômenos sobrenaturais. O início da Psicologia científica só veio a ocorrer no século XIX, com o estudo do cérebro, dos nervos e dos órgãos dos sentidos e o uso de diversos procedimentos experimentais para explicar a mente humana. Quando se tornou popular, a sua linguagem sofreu iguais modificações na ótica de várias correntes de estudo. Apesar da resistência de muitos para admitir sua importância no desenvolvimento psíquico do ser humano mesmo nos dias de hoje, sobretudo se tocamos no assunto terapia, confundido-a muitas vezes com "análise psiquiátrica," a Psicologia resiste ao tempo com popularidade e se firma no cotidiano de todos. Podemos dizer, embora ainda timidamente, que fazer terapia nos dias de hoje não significa ser maluco.

As diferentes linhas do pensamento psicológico surgiram mediante a necessidade da Psicologia se firmar como ciência. Por conta disso, variadas correntes, como estruturalismo, funcionalismo, gestalt, conexionistas, psicanálise, condutivismo, cognitivismo etc. se debruçaram no árduo trabalho de entender o desenvolvimento do ser humano, seja em sociedade ou na marginalidade social. Para mostrar as complexidades deste rico universo de estudo, muitos filmes trataram do assunto com muita maestria. Freud Além da Alma, filme realizado em 1962, com direção de John Houston, aborda os problemas vivenciados pelo psicanalista austríaco Freud para que a Psicanálise fosse aceita como ciência, além de apresentar as principais idéias da teoria freudiana. O filme foi feito a partir do livro de Jean-Paul Sartre, o que também se tornou um must da literatura. Huston realiza uma pseudo-biografia de Freud, mas descrevendo apenas um período de cinco anos (a partir de 1885) da vida do médico. Nessa época, a maioria dos colegas de Freud se recusavam a tratar dos casos de histeria por acreditar que tudo não passava de fingimento dos pacientes para chamar atenção. Assim Freud passou a aplicar a técnica da hipnose, que viria a se tornar uma prática no tratamento psiquiátrico.

Laranja Mecânica, realizado em 1971 por Stanley Kubrick, narra a vida do líder de um grupo de jovens violentos e torturadores que é preso e, na cadeia, são realizados experimentos e apresentadas diversas formas de controle do seu pensamento e sua consciência com o intuito de frear seus impulsos destrutivos e acaba se tornando impotente para lidar com a violência que o cerca. O que ocorre não é exatamente um tratamento contra a natureza violenta de Alex, personagem de Malcolm McDowell, mas uma condução comportamental à pacificação sobre a qual ele não teve qualquer escolha. O que o filme mostra é uma técnica de correção de conduta mais violenta do que os crimes cometidos por Alex. Uma clara tentativa de mostrar que não se pode mudar a concepção de um homem, nem sua essência, deixando suas experiências pessoais sem importância. A consciência humana aqui é desprezada por meio de métodos manipuladores do controle do comportamento. Em águas parecidas, pelo menos na teoria, os psicólogos americanos Watson, Hull, Tolman e Skinner defendiam que toda conduta humana é completamente determinada, nunca havendo liberdade de escolha. Assim surgiu o Condutivismo, uma corrente prática com o objetivo
de controlar e modelar o comportamento humano. Mas acredito que por métodos menos drásticos do que aqueles mostrados no filme.

Numa linha mais ou menos parecida, contudo bem menos violenta, O Show de Truman apresenta um indivíduo que tem sua vida transmitida para os Estados Unidos inteiro em canal de TV paga, mas ele mesmo não tem idéia do que acontecendo, numa mostra reality show que se tornaria uma febre no mundo todo. Ele também não sabe que tudo que está à sua volta é fictício. Isso torna o filme muito interessante, pois torna fictício um ambiente acreditado ser real e real um ambiente que se alimenta do fictício. Isso se desenrola aré o dia em que, claro, ele descobre tudo. Aqui, temos o exemplo de um filme que retrata os limites do controle do comportamento na vida humana. As reflexões a seguir podem ser inquietantes, ser levadas a sério. Se analisarmos mais a fundo o quanto nossas escolhas são de fato nossas e não um efeito da manipulação dos meios de comunicação. Vivemos da maneira que gostaríamos ou apenas como forma de sobrevivência ? Meu comportamento tem de fato a ver com minha personalidade ? Minha forma de pensar é original ou foi gerada pela sociedade ? Essa dicotomia sinérgica realidade-ficção pode descortinar inquietudes que valem umas boas reciclagens de comportamento de nossa parte.

Em O Enigma de Kaspar Hauser, de Werner Herzog, filme realizado em 1975, a vida de um garoto misterioso toma o centro das ações. Ele aparece do nada numa praça de Nuremberg, em maio de 1828. Ninguém sabia quem era ou conhecia seu paradeiro. Por anos trancado em um porão, Kaspar Hauser não sabia andar nem falar. Tinha por volta de 15 ou 16 anos de idade, um adolescente. O filme enfoca o modelo de desenvolvimento psicológico através das interações sociais, corrente originada na Rússia através de Vygotsky e a Psicologia Soviética. Nesta linha de pensamento, a estrutura e o funcionamento do psiquismo humano são construídos de acordo com a cultura dos indivíduos. Com a influência do socialismo, seus estudos voltaram-se para as interaçoes sociais e a construção coletiva do conhecimento. A relação de Kaspar Hauser com aquela comunidade foi modificando seus hábitos e por fim seu comportamento. O filme é muito interesante ao mostrar a maneira como as pessoas procuraram inseri-lo nos processos civilizatórios daquele lugar.

Da discussão sobre o comportamento de homens e macacos, muitos estudos foram realizados. Mas a interseção entre os dois modelos de comportamento nos remonta aos nossos ancestrais. Para falar sobre isso, Jean Jacques Annaud fez um belo filme em 1981, A Guerra do Fogo. Na película, dois grupos primitivos dividem o desenvolvimento da espécie. Um deles cultuava o fogo como algo sobrenatural. O outro, ao contrário, dominava a tecnologia de fazer fogo e a utilizava como recurso de sobrevivência. No filme, vemos o estágio de evolução biológica do homem/macaco naquele tempo. Ele já se locomovia como bípede e começava a aprimorar o uso das mãos. Em seus estudos sobre a evolução da atividade humana, Palangana afirmou que o uso das mãos fez com que os hominidas lidassem de uma forma diferente com o meio ambiente, numa época em que transitavam de arborícolas para terrícolas. Isso gerou grandes mudanças em sua linguagem e na forma com que defendia seu espaço, pois passaram a dominar técnicas de construção de armas de caça e auto-defesa. A necessidade da tecnologia do fogo levou os homens a aperfeiçoarem a comunicação. No início do filme, a linguagem era gestual, mas eles descobriram que os sons também poderiam se prestar à função comunicativa. A obra de Annaud é uma baita aula de História.