
O documentário de Robert Drew, Crise, que já havia rodado um antecedente sobre a campanha política de Kennedy à presidência americana em 1960, intitulado Primárias, volta a utilizar a inovadora técnica da camera direta - filmar as cenas com a camera no ombro, acompanhando tudo em tempo real - surpreende ao levar o espectador para dentro da Casa Branca, da residência de Robert Kennedy e do próprio governador do Alabama, George Wallace, numa clara demonstração do seu prestígio diante dos ícones do caso em questão.

Embora mais uma vez o filme se estruturasse no antagonismo entre duas forças políticas, com Crise Robert Drew conseguiu ser mais bem-sucedido no que diz respeito à construção de um clima dramático que vai crescendo rumo ao embate derradeiro. Se em Primárias o momento final (a votação e a apuração da eleição) era tratado com um enfoque mais frio e contemplativo do que o registro dos momentos de campanha, em Crise o espectador é envolvido pelo suspense, já que como o governador diz que vai barrar a entrada dos negros pessoalmente na porta da universidade, um clima de apreensão é notado no comportamento de todos, e ressaltado pela montagem e pela narração. Esse triunfo político de Drew teve por base um desafio estético e uma revolução tecnológica. Ex-veterano da Segunda Guerra e ex-repórter da “Life”, Drew foi um dos pioneiros a notar, em meados dos anos 1950, que havia algo de errado com o documentário americano, em cinema e em TV. A história estava na narração e não nas imagens.
A crise em questão não teve proporções imensas como no caso de Watergate e tampouco alcançou uma escala internacional como a da Guerra do Vietnam. O filme é sobre um problema de ordem domésti

Crise demonstra uma evolução na técnica de se filmar documentários. A montagem cria um clima mais definido, um roteiro enxuto, interligando fatos ocorridos em Washington e no Alabama com muma precisão só vista em filmes de ficção. A boa sinergia entre cinegrafistas vista em Primárias, aquela para qual dizemos que os caras tiveram muita sorte, segue redondo em Crise. Considerando que as equipes não sabiam o que uma estava filmando, a cena em que a filha de quatro anos de idade de Robert Kennedy toma o telefone do pai para falar com Katzenbahc no Alabama é digna de nota, pois a conversa da menina com o procurador serve de alívio naquele cume de tensão da história. A cena poderia ter sido muito bem escrita por um roteirista atento, mas não foi nada disso o que aconteceu. Tudo aquilo foi casual e real.

|Até hoje não acredito nas desculpas que George Wallace pediu aos líderes negros. Acho que ele estava coagido pelos acontecimentos que se sucediam nos Estados Unidos. Sem esquecer que ele ficou paralítico em virtude dos tiros disparados por homem branco.
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