O princípio bastante interessante em O Primeiro Mentiroso, ao menos inicialmente, é de que é possível viver só falando a verdade, pois, como ninguém sabe definir o que é a mentira, tudo passa a ser verdade imediatamente quando dito. Ninguém naquele mundo duvida de absolutamente nada do que ouve, lê, aprende etc. O conceito criado sobre verdade e mentira funciona de maneira muito dinâmica, mais ou menos assim: se um homem branco diz que é preto, então, rapidamente, o conceito de preto é alterado, para que um homem branco possa ser chamado de preto, numa mudança brusca e vertiginosa de paradigma. Como dizia o filósofo alemão Nietzsche, "a verdade é uma designação, tomada universalmente como válida, dada à expressão do que uma pessoa percebe e sente como realidade. Logo, a verdade está submetida às convenções da linguagem. Mas, por mais rigorosas que possam ser tais convenções, toda expressão é expressão de um sujeito."
Quando o personagem de Gervais aprende a mentir, ele passa a dominar o mundo, catequizar as pessoas e tenta achar um sentido para sua vida. No meio de todos os temas explorados nesse momento, há o medo da morte, a crença religiosa, o sucesso profissional e financeiro e a busca por um grande amor, além de colocar a mentira no patamar do necessário. Infelizmente ninguém pode viver sem mentir, ou mesmo omitir, o que é quase mentir, pois omitindo pretendemos não saber quando, de fato, sabemos. As consequências do saber mentir são mais ou menos óbvias e todas levam ao poder, fato que encontramos um bom exemplo nas mãos de políticos que, tirando proveito da ignorância do seu eleitorado, mentem à vontade.
Quando o personagem de Gervais aprende a mentir, ele passa a dominar o mundo, catequizar as pessoas e tenta achar um sentido para sua vida. No meio de todos os temas explorados nesse momento, há o medo da morte, a crença religiosa, o sucesso profissional e financeiro e a busca por um grande amor, além de colocar a mentira no patamar do necessário. Infelizmente ninguém pode viver sem mentir, ou mesmo omitir, o que é quase mentir, pois omitindo pretendemos não saber quando, de fato, sabemos. As consequências do saber mentir são mais ou menos óbvias e todas levam ao poder, fato que encontramos um bom exemplo nas mãos de políticos que, tirando proveito da ignorância do seu eleitorado, mentem à vontade.
A verossimilhança da estória e também dos personagens trafega, no entanto, no limite do improvável, uma vez que a possiblidade da paródia virar realidade é nula. Mas ela é válida no sentido de justamente ser uma experimento, de mostrar o como-seria. A sensação de estranhamento é normal, pois estamos acostumados à mentira. O modo como os personagens vão sendo colocados em cena e a naturalidade que eles passam na impossibilidade da mentira criam uma hilária impressão de normalidade muito light de se ver. Contudo, mais do que pretender encontrar no filme de Gervais a ironia que lhe é peculiar em outras produções,ou a cadência plausível documentarista de trabalhos como The Office, o segredo é se deixar levar por essa grande mentira.
A maior vantagem de O Primeiro Mentiroso é oferecer aos espectadores mais filosóficos uma reflexão sobre conceito de verdade e mentira. É elaborando uma crítica da verdade que Nietzsche pretende nos mostrar a decadência de nossa época cientificista. "A pedra fundamental da ciência é a crença em uma verdade universal, existente fora e independente do homem e que pode ser alcançada e conquistada pelo intelecto humano. Em nossa busca cega pela verdade, somos incapazes de perceber a completa falta de sentido deste empreendimento." Ele ainda diz que " impulso da verdade nasce desta obrigação impingida por pacto social. O mentiroso é mal visto, castigado e excluído pelos outros membros da comunidade. Para ser valioso e repeitado é necessário orientar-se sempre em direção a verdade (estabelecida). Mas esta verdade não passa de uma convenção social, com a finalidade de regular os interrelacionamentos humanos e possibilitar a formação de uma comunidade."
Nenhum comentário:
Postar um comentário