Bem-vindos ao Cinema & Consciência, um novo espaço para a difusão e a discussão do cinema brasileiro e internacional. Vamos falar de filmes ou documentários, discutir ética e estética do cinema, com enfoque nas pessoas, nos temas e nos fatos. Os comentários dos visitantes serão sempre bem-vindos.

Todos os textos neste blog são de autoria de Mário Luna, salvo aqueles em que a fonte for mencionada.
Críticas construtivas e sugestões em geral, envie e-mail para este blogger: cinemaconsciencia@gmail.com

"Não acredite em nada que ler ou ouvir neste blog. Reflita. Tenha as suas próprias opiniões e conclusões"





quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Educação no Cinema III

Uma Mente Brilhante mostra a história real do matemático John Nash, gênio precoce da Universidade de Princeton, que se destacou elaborando uma teoria revolucionária, a primeira a atualizar a área desde Adam Smith. Nash é um nerd que passa os dias trancafiado na biblioteca de Princeton, escrevendo fórmulas matemáticas enigmáticas, sempre à procura da "idéia original" que o separaria da mesmice do resto dos matemáticos mortais. Mas, enfim, o reconhecimento chega com a publicação de sua teoria sobre o "equilíbrio," e, em seguida, um emprego em Washington, como decifrador de códigos. Em plena Guerra Fria, Nash é chamado no Pentágono para decifrar um código russo recém capturado, e, em questão de horas, ele consegue descobrir padrões e coordenadas importantes apenas olhando para o código. Gênio. Contudo, cada vez mais paranóico e vendo padrões e conspirações soviéticas em todos os lugares, John Nash finalmente perde o controle sobre a própria mente e torna-se completamente esquizofrênico, sendo internado em um hospital psiquiátrico. Nesse momento, o filme ganha uma nova dimensão. Ou melhor, duas, pois não sabemos se o que o personagem principal vê é realidade ou fruto da sua imaginação. É aqui que entendemos a relação patológica multidimensional da genialidade, pois, a exemplo de outros grandes, como Mozart, Einstein, Van Gogh, Newton, Baudelaire, genialidade e loucura nunca tiveram um limite muito claro ente elas. A parte final é também a parte dos questionamentos: Nash estava realmente trabalhando para o governo? Seu trabalho procurando padrões em revistas é realmente de segurança nacional ou não passa do delírio de uma mente desequilibrada? E, mais pertubador ainda, seriam alguns dos personagens com o qual já nos familiarizamos reais ou são frutos da imaginação de Nash? Quem é real e quem é imaginário? Oh dear. Bem, sem inspirar algumas perguntas ao final nenhum filme vale a pena. Uma Mente Brilhante é... brilhante.

Usando a Filosofia para analisar O Clube do Imperador, Hobbes e Russeau nos bastariam, com as seguintes perguntas: o homem nasce bom e a sociedade o corrompe ? Ou ele nasce mal e a educação e o convívio social possibilitam-no a fingir uma bondade que não tem ? Ou mesmo, qual seria o verdadeiro poder da educação na vida de um homem? Sabemos que limitar o questionamento sobre a natureza do homem na dicotomia bem e mal simplificaria a complexa teia pluriexistencial humana. Mas, aqui tal emprego tem fundamento, pois é baseado nisso que o plot do filme se desenvolve. Na verdade, O Clube do Imperador vai um pouco além dessa discussão, pois estende o questionamento num campo de dilemas éticos, no qual a idéia do homem criado e moldado ao estilo soldado romano, onde a disciplina, a ética, e os valores morais, bem como a busca pelos ideais de cavaleiros estão presentes, desencadeia toda a importância do drama. O cenário é uma escola de alta-elite, engajada na formação de líderes e de grandes homens de negócios. Os alunos aqui já estão com seu lugar ao sol e o que terão que fazer na escola, na verdade, é apenas manterem-se na ascensão social, longe do risco de qualquer desvio. Quando o garoto filho de um influente senador chega para se integrar ao grupo escolar, ele já vem com um inicio corrompido, com uma "natureza" comprometida. Cria-se a partir de então, os dois lados da situação emblemática. Na visão do professor e de parte da turma, seus modos são ultrajantes, mas, na visão do pai, são perfeitamente normais e em nada contraria os princípios éticos e morais existentes no padrão da maioria das pessoas, ou no padrão social "vigente." A questão mais interessante do filme é, como um indivíduo, com seus valores e princípios comprometidos, pode corromper os valores vigentes do meio, sem suscitar uma discussão sobre a fragilidade dos valores sociais pré-estabelecidos. o garoto do filme aplica de forma brilhante a teoria da duplicidade de Maquiavel. Ele adota uma personalidade para, na verdade, controlar e se manter no poder, ao ponto de fazer o professor ir contra seus princípios éticos e morais alterando uma prova. Sem duvida vivemos em um mundo no qual somos vulneráveis ao auto-engano, enganamos o outro ou somos enganados. A lisura de caráter envolve um autoconhecimento sério, o qual nem sempre estamos dispostos a encarar, pois ele significa abrir mão dos ganhos secundários, abandonar os pactos mórbitos e as autocorrupções seculares, além de promover mudanças de comportamento, princípios e valores morais. Na esfera filosófica, Platão sabia disto e Buda também, enganar é uma das mais fortes e natas características humanas.

Toda a ação de Entre os Muros da Escola se passa nas salas, nos corredores e nos páteos de um colégio nos arredores de Paris, ao longo de um ano letivo. Mas o filme do francês Laurent Cantet extrapola os muros e serve de cenário para a realidade de um país com desequilíbrio social, multicultural, onde negros e árabes não fazem parte do corpo letivo, só da equipe de faxina. É um drama e tanto, que se desenvolve em algumas camadas de seriedade: algumas superficiais, outras mais profundas, como, por exemplo, como a França lida com seus cidadãos saídos de ex-colônias. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2008 e tem muito a dizer também sobre a relação professor-alunos de modo geral, independente do contexto social. A relação de poder se desenrola em sua essência, sem máscaras, e mostra que, por mais que um professor tente se aproximar de seus estudantes, sempre vai existir uma barreira intransponível que os distancia. O professor protagonista busca em vão uma cumplicidade com seus alunos. O grupo heterogêneo traz imigrantes africanos, que trazem para a sala um histórico familiar em frangalhos, um menino chinês, que se esmera em matemática, mas vai mal na aula de francês, entre outros. O modo como François conversa com a classe dá a entender que, num ambiente tão culturalmente complexo, a única maneira de atingir o alunado é falando individualmente com ele. Mas o filme mostrará que, antes de mais nada, impera ali a hierarquia. O filme foi resultado do livro de François Bégaudeau, o professor protagonista, um ator não-profissional, que escreveu um livro contando suas experiências em sala de aula e se tornou best-seller na França. A bra autobiográfica ganha peso justamente por esse fato: ela surge de fatos, de histórias reais. Os alunos são todos atores amadores e interpretam a si mesmos. Isso dá ao filme uma força extra, pois vamos da ficção ao documentário sem perceber.

Nenhum comentário:

Postar um comentário