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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Assustadoramente Bom

A história de Jogos Sinistros, o filme do francês Laurent Tuel, surpreende por várias razões: primeiro, por ser francês - a França resiste à espiritualidade pública desde os tempos de Alan Kardec, e mais recentemente das descobertas do físico Jean Charon, e raros são os filmes do gênero realizados por lá; e segundo, pelo realismo do plot, núcleo do enredo, apesar de, para muitos, parecer o de uma realidade estapafúrdia. Embora o título pareça tendenciosamente assustador e macabro, a trama mostra uma série de fenômenos extrafísicos possíveis, já narrados em depoimentos de experiências pessoais e estudos paranormais os mais diversos - clarividência, psicofonia, clariaudiência, possessão, assimilação simpática, bagulho energético, materialização, manipulação assediadora, morfopensene patológico (padrão de campo energético doentio), além de bons exemplos do que ocorre quando perdemos o mando de campo do nosso padrão energético.

O filme conta a história de uma família bem estruturada e financeiramente privilegiada, que vive num luxuoso apartamento de um bairro parisiense, quando recebe a visita de um casal de idosos, antigos moradores do local. Com a intenção de recordar os dias em que viveram no apartamento, aquele par acima de qualquer suspeita vasculha os cômodos à procura de lembranças da época de criança. A partir daí os fatos começam a eclodir na rotina aparentemente tranquila da família. Inspirado em filmes como "O Iluminado" de Kubrick e "Os Outros" de Amenabar, Jogos Sinsitros constrói o drama sobre uma linha inicialmente psicológica, a qual, de forma interessante, atravessa aos poucos o limite das dimensões física e extrafísica. As cenas exibem um pesadelo crescente, quando a família passa a viver atormentada por visões assustadoras, vozes sinistras, atos de violência doméstica, tentaçõe sexuais inexplicáveis e até suicídio. Na medida em que os acontecimentos sombrios ganham a nova realidade, a loucura parece irreversível, promovida por uma perda de mando de campo energético de todos os habitantes da casa. No que muitos críticos não conseguiram enxergar realidade, por força de uma análise aquém das variáveis extrafísicas, podemos ver a condição assustadora da limitação consciencial em que as personagens se encontram.

Na grande tela, a construção do espanto, no entanto, suscita um estado de alucinação coletiva de uma forma tão lenta e furtiva que, surpreendentemente, nos pegamos inseridos em experiências já vividas, as quais, de alguma forma, têm relação com o drama da história. O filme evoca a fragilidade promovida por uma autodefesa energética precária, a vulnerabilidade dos desavisados sobre a vida multidimensional e a necessidade de um estado de alerta constante nas nossas interrelações diárias, no que diz respeito às influências energéticas negativas. Percebemos aqui o quanto, às vezes, andamos à deriva feito náufragos do asfalto, presas fáceis para assediadores de toda sorte. Não precisamos de muito estudo para analisar tal fragilidade. Basta apenas garimpar na memória todos os momentos em que decidimos fazer coisas que não queríamos, com consequências desastrosas, as ocasiões em que tivemos mudança súbita de humor sem explicação aparente, os eventos que nos fizeram entrar em loop pessoal, com depressões deslocadas e tendências suicidas que desaparecem tão rapidamente quanto aparecem.

Se analisarmos todos esses eventos do dia-a-dia, vamos observar assustados o quanto vivemos coisas que não condizem com o nosso padrão normal de comportamento, o quanto pensamos fatos que não fazem parte da nossa memória pessoal, mas com a qual, de alguma forma, criam-se conexões. A imiscuidade energética é tão comum e presente na nossa rotina pessoal que, se tirarmos pensamentos e sentimentos que sofrem algum tipo de interferência energética, ficamos apenas com 2% de ações autênticas. Assustador.

Jogos Sinistros mostra uma realidade que não queremos ver, posto que, se observada de forma séria, nos leva diretamente aos pontos fracos da nossa condição energética e da maneira equivocada com que nos relacionamos com o mundo. Apesar da crítica não ter recebido bem o filme, considerando-o o irmão pobre dos seus ícones de inspiração já citados acima, a experiência de assistí-lo vai, certamente, levantar algumas questões para reflexão e fazer o espectador evitar a inutilidade de assistir a um filme sem considerar os aspectos multidimensionais das tramas - sabemos, entretanto, não apenas aquelas expostas nas telas, mas, sobretudo, na nossa vida pessoal.







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