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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Um Documentário que Impressiona

A ponte Golden Gate, que cruza a baía de São Francisco, nos Estados Unidos, é um conhecido ponto turístico americano. Mas é também o lugar do mundo com maior índice de suicídios.

O diretor Eric Steel registrou cenas desses derradeiros atos de vida e trasnformou isso num documentário para lá de impressionante. A câmera ficou posicionada diariamente, durante todo o ano de 2004, para que os casos fossem registrados, e a partir de cada um deles, o diretor foi em busca da história de vida daqueles que haviam terminados seus dias nas águas, aos pés da ponte. Tão impressionante quanto essas cenas foi saber que, no filme, não conseguimos definir, a partir das entrevistas, um perfil suicida para as vítimas. Dos depoimentos de familiares, amigos e colegas de bairro, não tiramos aquela velha idéia de que o suicida é um ser desprezado, sozinho e desamado por todos. Ao contrário, vemos criaturas vivendo em comunidade, inteligentes, socialmente privilegiadas, que contaram com parentes e amigos até o dia apocalíptico.

Isso mostra claramente que os universos intra e extrafísicos se entrelaçam, mas não se confundem jamais. O que vemos no exterior não é a realidade interior dos suicidas, e que o amor, o carinho e a atenção não salvam o que já está negativamente condicionado por natureza. Ninguém muda ninguém se o indivíduo não quer ser ajudado. E matenho minha convicção sobre uma espécie de natureza suicida e no documentário essa idéia reforça-se a partir dos depoimentos e da realidade dos desafortunados. O filme registra mais de 20 suicídios na ponte, em 2004. Na rotina de pedestres e carros, vemos transeuntes vagando, perdidos, ora fitando a água lá embaixo ora parados e pensativos, até que o ato de se jogar é consumado.

O mais angustiante é ver que o desespero que levaram todas aquelas pessoas a arremessar na água a própria vida não terminará quando a morte física acontecer. Se naquele momento em que elas estavam no alto da ponte apenas fitando a água lá embaixo elas tivessem falado pelo celular com alguém que pudesse ter lhes advertido sobre a realidade extrafísica que iriam encontrar, e se, por um segundo apenas, algum vislumbre de lucidez tivesse lhes clareado o discernimento, suas vidas teriam sido salvas. O conceito de vida unidimensional é a maior evidência da ignorânica existencial. O suicídio é a pior escolha de morte e ele ocorre no baixo nível de lucidez que temos da vida multidimensional, no extremo das nossas vulnerabilidades emocionais, no despespero existencial incontrolável e por efeito direto das interelações patológicas pluriexistenciais. Para vencer essa natureza suicida é preciso o emprego de uma vontade inquebrantável na atualização da nossa história consciencial particular, construída ao longo das séries de vivências físicas, através de reciclagens existenciais que não tornem a realidade ao redor uma constante ameaça à nossa felicidade nem uma ferida há muito tempo exposta. Se aprendemos com os nossos erros, então é preciso uma constante recuperação de lucidez para percerber tais erros do passado e suas sequelas emocionais. Até que isso ocorra, muitos voltaram à ponte enquanto ela existir. Caracterizando o perfil suicída temos uma consciência letomaníaca, somatofóbica, auto-homicida, com um profundo sentimento de vazio existencial, que o acompanha por toda uma vida e além dela, na fase extrafísica, o que é pior, pois ela carrega uma espécie de sentimento indelével sob qualquer circunstância de vida. No suicídio acreditamos que os traços fardos são maiores do que os fortes, acreditamos mais na derrota e nos fracassos. "O suicídio é aquela situação na qual a solução é o problema maior," Waldo Vieira.


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