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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Quem Tem Medo dos Vivos ?

A grande surpresa de Os Outros é descobrir ao final que este não é mais um filme de casa mal-assombrada por espíritos, mas pelos vivos!

Ao chegar ao desfecho da sua estória, o chileno Alejandro Amenábar me deixou particularmente esperançoso de que agora o cinema parece começar uma relação mais madura com a dimensão extrafísica, pois o conhecido "mundo dos espíritos" nunca foi tratado de uma maneira tão lúcida, e parece inacreditável que o diretor tenha conseguido fazer algo sensato e deveras interessante, de um tema que conta com décadas de bons e maus serviços prestados ao cinema. Além disso o filme sugere ao espectador uma mudança de conceitos sobre a forma como vemos a interação entre vivos (consciências intrafísicas) e mortos (consciências extrafísicas), sendo importante ressaltar que, nessa interrelação, a ordem dos fatores não altera o produto.

Para entender como a dinâmica das interrelações multidimensionais ocorre, não precisamos buscar respostas no além. Só precisamos entender e considerar que o modus operandi dos seres vivos é universal e válido em todas as dimensões. Alguém essencialmente triste permanecerá triste após a morte física. Alguém essencialmente feliz tenderá a seguir com sua felicidade após o descarte do soma. O desespero, a tristeza ou a felicidade de uma vida física não acabam após a morte (dessoma), contradizendo a crença de que "descansamos" ao morrer. Na verdade, a essência do que somos recupera sua clareza com a parapercepção e intensifica nossa natureza na amplitude de visão que temos no ambiente extrafísico, pois então não estamos limitados pelo restringimento físico.

O trauma em Os Outros é a razão pela qual mãe e filhos permanecem ligados após a súbita dessoma. Normalmente não há separação fácil entre entes que se amam e tampouco entre aqueles que se odeiam. Assim como não há ruptura da memória com a lembrança de um trauma real, seja tanto aqui no aquém quanto lá no além, ou na relação entre as duas dimensões. Isto é, um trauma será sempre um trauma. Não importa em que dimensão estejamos. A súbita mudança de realidade não é facilmente captada pela razão e a conscientização do real é retardada no período de negação dos novos fatos, até que os nossos sentidos, ao seu tempo, acomodem a nova informação e produza aceitação na memória consciente. Não aceitar uma súbita e inesperada mudança da realidade é comum a todos os seres humanos e não poderia ser diferente com aqueles que morrem.

"Não é o mais forte nem o mais inteligente que sobreviive. É o mais adaptado à mudança"- Charles Darwin.

Esse apego excessivo à condição física acontece porque a dessoma não é um tema de reflexão comum e ainda está coberto de medos, tabús, mistérios, misticimos, esoterismos e religiosidades, que servem mais para confundir do que para esclarecer o processo real entre-dimensões pelo qual todos nós iremos passar. O materialismo certamente é um dos motivos pelos quais muitos se recusam a aceitar a condição pós-dessoma (descarte do soma, corpo físico), a "nova forma de vida," e, conseqüentemente, relutam em deixar o "mundo dos vivos." Em Os Outros, a obnubilação dos personagens dessomados era tão profunda que os "vivos" se passam por "mortos," numa realidade totalmente baratinada e sem a menor lucidez.

Contudo, esse vexame existencial provocado pela confusão mental pós-dessoma tem remédio ao admitirmos a possibilidade de que a vida intrafísica (neste planeta) não é feita apenas de matéria, mas de energias conscienciais ou bioenergias. Estas, capazes de armazenar informações que transcendem várias existências intrafísicas mostram não apenas que somos seres multidimensionais como pluriexistenciais.

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