
Cao Guimarães apresenta nesse documentário a voz do outro e o resultado surpreende, pois o que se vê é que, ao viver o outro, permitimos uma grande exposição de nós mesmos. Não há como viver a realidade de alguém sem refletir no outro a nossa própria imagem. A versão que podemos a dar a qualquer elemento externo a nós mesmos contém invariavelmente a nossa impressão. É dizer, a nossa visão do outro constrói o outro a partir de nós mesmos. Mas esse jogo é uma via de mão dupla. Na mesma medida em que construímos o outro, somos construídos por ele. Se você recebesse um convite para permitir que um estranho vivesse em sua casa por uma semana, sem ele jamais ter lhe visto antes, que imagem esse estranho faria de você ao final de 7 dias ? Se nossos pertences refletem o que somos, de que forma estamos representados ?
A decoração, a harmonia, as cores, o estilo, a organização, a disposição dos objetos, os próprios

O resultado da experiência é bastante interessante por todas as questões explicitadas acima. É fascinante ver como traçamos nossos retratos no que possuímos, no padrão das nossas energias no ambiente em que vivemos (na verdade, e em qualquer um em que estejamos) e como a percepção humana pode ser tão aguçada ao ponto de nos desnudar com um simples olhar em volta, mesmo quando o observador não pode nos ver. O cineasta mineiro Cao Guimarãese soma cinco longas-metragens e algo em torno de 20 curtas, segundo o próprio, mas, infelizmente, tem visibilidade zero entre o público não frequentador de festivais. Cao possui um estilo espirituoso e desafiador e já ganhou aqui um marcador depois de Rua de Mão Dupla.
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