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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Clara Vidência

A idéia de ver espíritos ainda é vista por um prisma fantasmagórico e atormentador, e não é para menos. Educados em bases religiosas, alvejados por filmes de terror engajados em assombrar e atormentados pelo medo de almas penadas e monstros embaixo da nossa cama, não dá para simplesmente girar um botão da nossa mente e deixar todos esses imaginários de pesadelo para trás. De um simples contar de histórias mal assombradas entre amigos tarde da noite até assistir grandes produções do cinema americano, a cultura do medo do além nos afasta da compreensão do lugar onde viemos e para onde vamos e nos isola em apenas um lado da realidade em que vivemos. O filme dos irmãos Pang fala sobre Clarividência - a habilidade de ver o que há em outras dimensões conscienciais - de maneira lógica e coerente, com um roteiro limpo e uma direção sóbria, sem deixar nada fora do lugar. O tipo de filme o qual pode perfeitamente nos mostrar as implicações intrafísicas das relações multidimensionais. Olhe para a capa do filme sem preconceitos e se dê o benefício da dúvida. Go ahead!

Que coragem para ver espíritos pode sobreviver à uma educação re
ligiosa de inferno, pecados, almas penadas, demônios, castigos, purgatório, satanás, e também aos filmes de terror sobre fantasmas sanguinolentos, monstros, assombrações, visões do além, ocultismos os mais variados, pesadelos alucinatórios e torturas macabras ? A lista de geradores do medo pode ser bem maior se incluirmos os fatores psicológicos criados pelo preconceito, que os paranormais enfrentam ao serem considerados "estranhos" e não raramente "mentirosos," "fantasiosos" e "alucinados." O medo coletivo do mundo intangível permanece retroalimentado através de uma cultura religiosa-materialista-histórica difícil de se lidar na contramão, sem uma boa dose de convicção íntima sobre a própria experiência, autoconhecimento e coragem para evoluir.

Mas o que é a clarividência, que todos os seres humanos possuem em algum nível, e sobre a qual nos sentimos vulneráveis e passíveis, quando não controlada ? O dom, como muitos preferem considerar, é, na verdade, uma faculdade humana parapsíquica, que habilita ou condiciona a percepção visual do ambiente multidimensional ou dimensão energética. Ou seja, a clarividência é a percepção da realidade num nível mais amplo e complexo, que ocorre mais frequentemente aos mais condicionados a ver através dos para-olhos. Isto porque os olhos humanos não possuem constituição adaptável à captação de imagens em níveis muito sutís, energéticos, não materiais. Os para-olhos são os nossos olhos extrafísicos, olhos do popularmente conhecido espírito, através dos quais enxergaremos após a morte física. Portanto, para vermos com os nossos para-olhos é preciso uma minidescoincidência dos nossos veículos de manifestação, um leve desprendimento da fisicalidade, que geralmente ocorre quando estamos relaxados, em meditação ou em transe, como os espíritas costumam chamar. A visão humana dos olhos conecta-se a dos para-olhos por meio de uma descoincidência natural e pontual, captando a imagem extrafísica.

Se estamos ou não preparados para uma comunicação interdimensional efetiva e freqüente só nosso condicionamento físico pode responder. A preparação mental-emocional para a visualização de imagens extrafísicas pode ser analisada através da forma como captamos e lidamos com as imagens intrafísicas. Isto é, a maneira como eu lido com a realidade material irá mostrar o meu preparo (ou despreparo) para lidar com as imagens da realidade espiritual. Não somos duas pessoas completamente diferentes em dimensões distintas. Nossos sistemas psico-emocionais íntimos são únicos e transparentes em algum nível . O mais importante, entretanto, na clarividência não reside naquilo que podemos ver, mas no que podemos fazer com o que vemos, ou seja, na forma como interpetamos a imagem e lidamos com ela mostrará se o contato foi ou não interessante e assistencial para as consciências envolvidas. Nesse aspecto, The Eye - A Herança nos mostra uma história coerente e lógica, contada de forma orgânica pelos irmão Pang. Lúcidos para o processo multidimensional, eles não estão apenas interessados em assustar. A realidade em si já possui elementos interessantes e intrigantes o suficiente para tomarmos susto com ela. Qualquer coisa além disso fica apelativo. The Eye - A Herança é um filme sobre clarividência na medida certa, onde tudo na tela é de fato possível (apesar de inacreditável).

Em muitas discussões sobre doação de órgãos e cremações ouvimos que o desejo para tais procedimentos post mortem deve ser do doador, ainda em vida, expressado em documento assinado por ele. Isso irá, sobretudo, ajudar a consciência recém dessomada, ou falecida, a não ter vínculo materialista patológico com o próprio corpo. Essa consciência deve estar preparada para a doação. Isso significa ver seus órgãos em uma outra pessoa ou entender que o corpo em processo de cremação foi apenas o invólucro físico o qual ela utilizou em vida e que, a partir da sua morte física, não mais lhe servirá e pertencerá a uma outra pessoa. Quando não há esse entendimento, baseado numa formação espiritual, é comum haver casos de assédio do doador aquele a quem seus órgãos foram doados (por mais incrível que isso pareça). Em The Eye - A Herança esse problema é produzido pelo suicídio da doadora.

O filme conta a história de uma garota cega desde os dois anos de idade, que recebe um transplante de córnea. Contudo, além da visão das pessoas comuns, ela também herda o dom da clarividência. Mas essa habilidade não lhe cai bem. Embora demonstre uma certa maturidade oriental na questão espiritual, ela sofre com o processo e parte em busca de solução, ou cura. Burlando a ética médica, ela recebe o endereço do doador - uma adolescente tailandesa - e descobre então a razão dos seus tormentos. Os irmãos Danny e Oxide Pang possuem talento para o drama-suspense e merecem uma referência especial no gênenro por terem feito um filme com coerência e lucidez para os processos espirituais, evitando a natural inclinação para o susto gratuito.











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