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sábado, 13 de junho de 2009

A Psicologia no Cinema I


Após um longo período da história em que esteve sob o julgo místico, pré-científico, por defender o dualismo do corpo e da alma, a Psicologia se tornou uma das ciências mais antigas da humanidade. Há alguns bons séculos atrás, os desvios de comportamento eram vistos como possessões espirituais, efeitos de fenômenos sobrenaturais. O início da Psicologia científica só veio a ocorrer no século XIX, com o estudo do cérebro, dos nervos e dos órgãos dos sentidos e o uso de diversos procedimentos experimentais para explicar a mente humana. Quando se tornou popular, a sua linguagem sofreu iguais modificações na ótica de várias correntes de estudo. Apesar da resistência de muitos para admitir sua importância no desenvolvimento psíquico do ser humano mesmo nos dias de hoje, sobretudo se tocamos no assunto terapia, confundido-a muitas vezes com "análise psiquiátrica," a Psicologia resiste ao tempo com popularidade e se firma no cotidiano de todos. Podemos dizer, embora ainda timidamente, que fazer terapia nos dias de hoje não significa ser maluco.

As diferentes linhas do pensamento psicológico surgiram mediante a necessidade da Psicologia se firmar como ciência. Por conta disso, variadas correntes, como estruturalismo, funcionalismo, gestalt, conexionistas, psicanálise, condutivismo, cognitivismo etc. se debruçaram no árduo trabalho de entender o desenvolvimento do ser humano, seja em sociedade ou na marginalidade social. Para mostrar as complexidades deste rico universo de estudo, muitos filmes trataram do assunto com muita maestria. Freud Além da Alma, filme realizado em 1962, com direção de John Houston, aborda os problemas vivenciados pelo psicanalista austríaco Freud para que a Psicanálise fosse aceita como ciência, além de apresentar as principais idéias da teoria freudiana. O filme foi feito a partir do livro de Jean-Paul Sartre, o que também se tornou um must da literatura. Huston realiza uma pseudo-biografia de Freud, mas descrevendo apenas um período de cinco anos (a partir de 1885) da vida do médico. Nessa época, a maioria dos colegas de Freud se recusavam a tratar dos casos de histeria por acreditar que tudo não passava de fingimento dos pacientes para chamar atenção. Assim Freud passou a aplicar a técnica da hipnose, que viria a se tornar uma prática no tratamento psiquiátrico.

Laranja Mecânica, realizado em 1971 por Stanley Kubrick, narra a vida do líder de um grupo de jovens violentos e torturadores que é preso e, na cadeia, são realizados experimentos e apresentadas diversas formas de controle do seu pensamento e sua consciência com o intuito de frear seus impulsos destrutivos e acaba se tornando impotente para lidar com a violência que o cerca. O que ocorre não é exatamente um tratamento contra a natureza violenta de Alex, personagem de Malcolm McDowell, mas uma condução comportamental à pacificação sobre a qual ele não teve qualquer escolha. O que o filme mostra é uma técnica de correção de conduta mais violenta do que os crimes cometidos por Alex. Uma clara tentativa de mostrar que não se pode mudar a concepção de um homem, nem sua essência, deixando suas experiências pessoais sem importância. A consciência humana aqui é desprezada por meio de métodos manipuladores do controle do comportamento. Em águas parecidas, pelo menos na teoria, os psicólogos americanos Watson, Hull, Tolman e Skinner defendiam que toda conduta humana é completamente determinada, nunca havendo liberdade de escolha. Assim surgiu o Condutivismo, uma corrente prática com o objetivo
de controlar e modelar o comportamento humano. Mas acredito que por métodos menos drásticos do que aqueles mostrados no filme.

Numa linha mais ou menos parecida, contudo bem menos violenta, O Show de Truman apresenta um indivíduo que tem sua vida transmitida para os Estados Unidos inteiro em canal de TV paga, mas ele mesmo não tem idéia do que acontecendo, numa mostra reality show que se tornaria uma febre no mundo todo. Ele também não sabe que tudo que está à sua volta é fictício. Isso torna o filme muito interessante, pois torna fictício um ambiente acreditado ser real e real um ambiente que se alimenta do fictício. Isso se desenrola aré o dia em que, claro, ele descobre tudo. Aqui, temos o exemplo de um filme que retrata os limites do controle do comportamento na vida humana. As reflexões a seguir podem ser inquietantes, ser levadas a sério. Se analisarmos mais a fundo o quanto nossas escolhas são de fato nossas e não um efeito da manipulação dos meios de comunicação. Vivemos da maneira que gostaríamos ou apenas como forma de sobrevivência ? Meu comportamento tem de fato a ver com minha personalidade ? Minha forma de pensar é original ou foi gerada pela sociedade ? Essa dicotomia sinérgica realidade-ficção pode descortinar inquietudes que valem umas boas reciclagens de comportamento de nossa parte.

Em O Enigma de Kaspar Hauser, de Werner Herzog, filme realizado em 1975, a vida de um garoto misterioso toma o centro das ações. Ele aparece do nada numa praça de Nuremberg, em maio de 1828. Ninguém sabia quem era ou conhecia seu paradeiro. Por anos trancado em um porão, Kaspar Hauser não sabia andar nem falar. Tinha por volta de 15 ou 16 anos de idade, um adolescente. O filme enfoca o modelo de desenvolvimento psicológico através das interações sociais, corrente originada na Rússia através de Vygotsky e a Psicologia Soviética. Nesta linha de pensamento, a estrutura e o funcionamento do psiquismo humano são construídos de acordo com a cultura dos indivíduos. Com a influência do socialismo, seus estudos voltaram-se para as interaçoes sociais e a construção coletiva do conhecimento. A relação de Kaspar Hauser com aquela comunidade foi modificando seus hábitos e por fim seu comportamento. O filme é muito interesante ao mostrar a maneira como as pessoas procuraram inseri-lo nos processos civilizatórios daquele lugar.

Da discussão sobre o comportamento de homens e macacos, muitos estudos foram realizados. Mas a interseção entre os dois modelos de comportamento nos remonta aos nossos ancestrais. Para falar sobre isso, Jean Jacques Annaud fez um belo filme em 1981, A Guerra do Fogo. Na película, dois grupos primitivos dividem o desenvolvimento da espécie. Um deles cultuava o fogo como algo sobrenatural. O outro, ao contrário, dominava a tecnologia de fazer fogo e a utilizava como recurso de sobrevivência. No filme, vemos o estágio de evolução biológica do homem/macaco naquele tempo. Ele já se locomovia como bípede e começava a aprimorar o uso das mãos. Em seus estudos sobre a evolução da atividade humana, Palangana afirmou que o uso das mãos fez com que os hominidas lidassem de uma forma diferente com o meio ambiente, numa época em que transitavam de arborícolas para terrícolas. Isso gerou grandes mudanças em sua linguagem e na forma com que defendia seu espaço, pois passaram a dominar técnicas de construção de armas de caça e auto-defesa. A necessidade da tecnologia do fogo levou os homens a aperfeiçoarem a comunicação. No início do filme, a linguagem era gestual, mas eles descobriram que os sons também poderiam se prestar à função comunicativa. A obra de Annaud é uma baita aula de História.

2 comentários:

  1. Estou fznd um trabalho de facul sobr esse assunto, e preciso de fontes bibliograficas...Quais são??

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  2. Boa noite, tenho exactamente a mesma questão que a Luu Andrade. É possível facultarem as fontes bibliográficas? Obrigada.

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